Dados de Radar: o declínio oculto dos insetos noturnos

Insetos: radar mostra estabilidade diurna, mas o declínio noturno é severo e ligado à poluição luminosa e agricultura intensiva. Saiba mais aqui!

O estudo revelou que os radares meteorológicos, originalmente usados para rastrear chuva, são eficazes a monitorizar triliões de insetos e aranhas em movimento aéreo.

Este estudo apresenta uma visão simultaneamente tranquilizadora e profundamente preocupante sobre o estado das populações de insetos, com base numa metodologia inovadora: a utilização de radares meteorológicos de dupla polarização no Reino Unido.

O principal achado que inicialmente capturou a atenção é o que está implícito no título: os dados de radar não encontraram um declínio generalizado nos insetos que se movem no espaço aéreo, especialmente durante o dia.

De facto, a análise revelou que os números de insetos diurnos mantiveram-se relativamente estáveis ou até demonstraram um ligeiro aumento em certas regiões do sul do país. Esta estabilidade aparente poderia, à primeira vista, contrastar com a narrativa global e amplamente divulgada de um "Armagedão dos Insetos".

O declínio alarmante da vida noturna

No entanto, o estudo revela um porém crucial e alarmante: a estabilidade dos insetos diurnos esconde um declínio significativo e preocupante das populações aéreas noturnas.

O declínio mais acentuado foi encontrado em insetos voadores noturnos, sugerindo um impacto severo da poluição luminosa artificial nas suas populações.

A análise dos dados do radar mostrou que os artrópodes noturnos, como as traças (ou borboletas), sofreram uma queda acentuada ao longo do período de estudo.

Este declínio foi particularmente severo nas regiões mais a norte do Reino Unido.

A rápida diminuição deste último grupo tem implicações sérias para os ecossistemas, dado o papel vital dos insetos noturnos como polinizadores e como fonte de alimento para predadores, como morcegos e aves noturnas.

As causas correlacionadas: luz e agricultura

Os investigadores apontam para dois fatores ambientais principais que parecem estar a moldar e a impulsionar estes padrões de declínio diferenciados:

A poluição luminosa artificial noturna (ALAN): este é o principal suspeito para o declínio das espécies noturnas. A luz artificial à noite é conhecida por desorientar o comportamento dos insetos, afastando-os das suas rotas de migração, alimentação e reprodução, ou tornando-os mais vulneráveis à predação.

O estudo encontrou uma clara correlação: as áreas com maior poluição luminosa apresentavam menor atividade de insetos noturnos.

O uso do solo: a abundância de insetos aéreos era significativamente mais elevada em paisagens dominadas por florestas, pastagens e, curiosamente, até mesmo áreas urbanas (onde se podem formar "corredores" de insetos atraídos pela luz).

Os cientistas estimaram que mais de 16 triliões de insetos voam no espaço aéreo do Reino Unido durante o pico da época de voo.

Em contraste, o número de insetos era dramaticamente mais baixo nas regiões de agricultura intensiva, reforçando as preocupações de longa data sobre o impacto dos monocultivos e do uso de pesticidas na biodiversidade.

Implicações para a conservação

A grande relevância deste estudo reside na sua capacidade de fornecer uma ferramenta de monitorização de biodiversidade em larga escala, económica e contínua. Ao distinguir claramente os padrões de voo diurno dos noturnos, o estudo oferece aos conservacionistas e decisores políticos a informação precisa sobre onde concentrar os esforços de mitigação.

A conclusão é que, embora a situação geral possa não ser um colapso total, o declínio das espécies noturnas é um sinal de alerta crítico que exige intervenção urgente, nomeadamente através da gestão da iluminação artificial e da promoção de práticas agrícolas mais sustentáveis. O "porém" do estudo sublinha que as perdas podem estar ocultas em certas categorias, mas são ecologicamente devastadoras.

Referência da notícia:

https://www.science.org/content/article/radar-data-find-no-decline-insect-numbers-there-s-catch - Science