Dados de Radar: o declínio oculto dos insetos noturnos
Insetos: radar mostra estabilidade diurna, mas o declínio noturno é severo e ligado à poluição luminosa e agricultura intensiva. Saiba mais aqui!

Este estudo apresenta uma visão simultaneamente tranquilizadora e profundamente preocupante sobre o estado das populações de insetos, com base numa metodologia inovadora: a utilização de radares meteorológicos de dupla polarização no Reino Unido.
De facto, a análise revelou que os números de insetos diurnos mantiveram-se relativamente estáveis ou até demonstraram um ligeiro aumento em certas regiões do sul do país. Esta estabilidade aparente poderia, à primeira vista, contrastar com a narrativa global e amplamente divulgada de um "Armagedão dos Insetos".
O declínio alarmante da vida noturna
No entanto, o estudo revela um porém crucial e alarmante: a estabilidade dos insetos diurnos esconde um declínio significativo e preocupante das populações aéreas noturnas.

A análise dos dados do radar mostrou que os artrópodes noturnos, como as traças (ou borboletas), sofreram uma queda acentuada ao longo do período de estudo.
A rápida diminuição deste último grupo tem implicações sérias para os ecossistemas, dado o papel vital dos insetos noturnos como polinizadores e como fonte de alimento para predadores, como morcegos e aves noturnas.
As causas correlacionadas: luz e agricultura
Os investigadores apontam para dois fatores ambientais principais que parecem estar a moldar e a impulsionar estes padrões de declínio diferenciados:
A poluição luminosa artificial noturna (ALAN): este é o principal suspeito para o declínio das espécies noturnas. A luz artificial à noite é conhecida por desorientar o comportamento dos insetos, afastando-os das suas rotas de migração, alimentação e reprodução, ou tornando-os mais vulneráveis à predação.
O uso do solo: a abundância de insetos aéreos era significativamente mais elevada em paisagens dominadas por florestas, pastagens e, curiosamente, até mesmo áreas urbanas (onde se podem formar "corredores" de insetos atraídos pela luz).

Em contraste, o número de insetos era dramaticamente mais baixo nas regiões de agricultura intensiva, reforçando as preocupações de longa data sobre o impacto dos monocultivos e do uso de pesticidas na biodiversidade.
Implicações para a conservação
A grande relevância deste estudo reside na sua capacidade de fornecer uma ferramenta de monitorização de biodiversidade em larga escala, económica e contínua. Ao distinguir claramente os padrões de voo diurno dos noturnos, o estudo oferece aos conservacionistas e decisores políticos a informação precisa sobre onde concentrar os esforços de mitigação.
A conclusão é que, embora a situação geral possa não ser um colapso total, o declínio das espécies noturnas é um sinal de alerta crítico que exige intervenção urgente, nomeadamente através da gestão da iluminação artificial e da promoção de práticas agrícolas mais sustentáveis. O "porém" do estudo sublinha que as perdas podem estar ocultas em certas categorias, mas são ecologicamente devastadoras.
Referência da notícia:
https://www.science.org/content/article/radar-data-find-no-decline-insect-numbers-there-s-catch - Science