Do banquete romano à farinha de grilo: o regresso sustentável dos insetos à dieta ocidental

Da iguaria que remonta a longíquos tempos à proteína sustentável do futuro. Eis a história dos insetos comestíveis no Ocidente. Saiba mais aqui!

Estima-se que existam mais de um milhão de espécies de insetos descritas, mas o número real pode chegar aos 10 milhões

O artigo explora a complexa e multifacetada relação entre os insetos e os humanos ao longo da história, focando-se na prática da entomofagia (o consumo de insetos por pessoas) e a sua crescente aceitação nas sociedades ocidentais. A entomofagia é vista como uma nova oportunidade para a indústria alimentar e para a segurança alimentar global, pois os insetos requerem significativamente menos recursos do que o gado tradicional e representam uma fonte de proteína e outros nutrientes amiga do ambiente.

Mas desde quando é que se comiam insetos?

A prática de comer insetos remonta a tempos pré-históricos, com vestígios encontrados em fezes fossilizadas (coprólitos) de humanos antigos, o que sugere que eram uma fonte alimentar importante devido à sua abundância e valor nutricional. Na Antiguidade, o consumo era comum em muitas culturas na África, Ásia, América Latina e Oceânia.

Na Bíblia, gafanhotos, grilos e saltamontes eram considerados "limpos" para comer, e João Batista é descrito como tendo comido gafanhotos e mel selvagem.

Ainda que o consumo de insetos não fosse generalizado na Grécia Antiga, o filósofo Aristóteles referiu-se à lagarta Cossus cossus como iguaria, com sabor "doce e a nozes". Na Roma Antiga, a entomofagia era mais comum, mas contraditória: era tanto considerada uma delicadeza para a elite (como as larvas de escaravelho engordadas ou a Cossus), como uma fonte de alimento para os pobres ou em tempos de escassez e fome.

Autores como Plínio, o Velho, Ovídio e Petrônio Arbiter documentaram o consumo de gafanhotos, larvas e escaravelhos, demonstrando a sua presença na culinária romana.

Após a Idade Média, onde o consumo era pouco documentado, académicos do Renascimento, como Aldrovandi, reconheceram o valor nutricional dos insetos e o seu potencial como fonte alimentar sustentável e barata para os mais pobres.

A biomassa total de todos os insetos do mundo é muito superior à biomassa total de todos os humanos

Atualmente, o interesse ocidental pela entomofagia é impulsionado pela sustentabilidade, pela inovação e pelo valor nutricional. Os insetos são uma fonte rica de proteína de alta qualidade, vitaminas e minerais. A produção de insetos é mais eficiente, com menor pegada de carbono, e requer significativamente menos recursos, como água e ração (os grilos, por exemplo, requerem 2.000 vezes menos água do que o gado bovino para produzir a mesma quantidade de proteína).

Na União Europeia, os insetos são classificados como "Novel Food" (Novo Alimento) e estão sujeitos a rigorosa avaliação de segurança. A aprovação da farinha de grilo como ingrediente alimentar pela EFSA em 2018 foi um marco que abriu o mercado e aumentou a aceitação dos alimentos à base de insetos. Contudo, barreiras culturais e regulamentares continuam a ser desafios, mas a inovação e a investigação contínua sugerem que os insetos têm o potencial de se tornarem uma fonte alimentar cada vez mais importante para satisfazer as necessidades globais de forma nutritiva e sustentável.

Referência da notícia

Olivadese, M., & Dindo, M. L. (2023). Edible Insects: A Historical and Cultural Perspective on Entomophagy with a Focus on Western Societies. Insects, 14(8), 690. https://doi.org/10.3390/insects14080690