Alunos e investigadores mapeiam resistência bacteriana e ganham destaque científico internacional

Projeto MicroMundo@Oeiras envolveu academia e escolas secundárias num desafio emergente para a saúde pública e acabou por ser publicado na prestigiada revista FEMS Microbiology Letters.

Alunos do secundário participam no projeto MicroMundo@Oeiras
Cientistas e alunos de Oeiras uniram esforços para combater um dos maiores desafios para a saúde humana, animal e ambiental. Foto: ITQB NOVA

Investigadores, estudantes universitários e alunos do ensino secundário não têm forçosamente de viver em mundos separados. Prova disso é o esforço que já fizeram no município de Oeiras para recolher milhares de amostras de solo, realizar testes laboratório e identificar núcleos de resistência bacteriana – mecanismos e estratégias das bactérias para sobreviver e reproduzir mesmo diante de condições desfavoráveis.

Tudo isso só foi possível porque cada um fez a sua parte para, no final, reunir uma base de dados pública com o mapeamento da resistência antimicrobiana na saúde humana, animal e ambiental.

A recompensa terá sido, certamente, contribuir para combater um flagelo que mata milhões em todo o mundo. Mas, com a missão cumprida, veio também um bónus extra. O trabalho com os resultados do projeto de ciência-cidadã MicroMundo@Oeiras foi reconhecido na conceituada revista FEMS Microbiology Letters.

Bactérias rersistentes
Para isolar e estudar as bactérias, os alunos das escolas Aquilino Ribeiro e Camilo Castelo Branco tiveram primeiro de recolher milhares de amostras de solo no território de Oeiras. Foto: ITQB NOVA

Inspirada em projetos internacionais Tiny Earth e MicroMundo, a iniciativa foi adaptada ao território de Oeiras. Coordenado pelo ITQB NOVA, no âmbito do programa Ciência + Cidadã, em parceria com o Município de Oeiras, o projeto MicroMundo@Oeiras aliou ciência e comunidade para enfrentar um dos desafios médicos mais importantes que a humanidade enfrenta no século XXI – a resistência aos antibióticos, uma ameaça crescente à saúde pública.

O primeiro contacto com protocolos científicos

O programa juntou cientistas do laboratório de Biologia da Infeção Microbiana Intracelular e de Tecnologia Microbiana e Enzimática, do ITQB NOVA, os estudantes da Universidade Nova de Lisboa e os alunos do 12.º ano da Escola Secundária Aquilino Ribeiro e do Clube de Ciência da Escola Secundária Camilo Castelo Branco.

Ao todo, estiveram envolvidos 13 mentores, 24 estudantes e dois professores. Para boa parte dos participantes, este foi o primeiro contacto direto com o método científico.

Ao longo do projeto, exploraram a diversidade microbiana de habitats naturais em Oeiras, procurando descobrir novos antibióticos e rastrear a resistência a antibióticos através de bactérias isoladas de amostras de solo.

Os alunos das escolas secundarias de Oeiras, guiados pelos estudantes da Universidade Nova de Lisboa, aplicaram depois um protocolo que permitiu monitorizar essa resistência bacteriana e compreender como se propaga no ambiente. Com os resultados dos testes laboratoriais, foi possível detetar uma elevada prevalência de bactérias resistentes em várias amostras recolhidas.

“Ser cientista cidadão no MicroMundo@Oeiras é observar algo novo a cada momento! Questionamo-nos se podemos estar a observar o início da descoberta de um novo antibiótico e percebemos o que é ‘fazer ciência’, com um bem maior em perspetiva.”
Bruna Henriques, cientista-cidadã

A informação foi depois organizada e introduzida numa base de dados. Essa biblioteca irá agora complementar o mapeamento da resistência antimicrobiana, tendo sido, inclusive, o suporte para publicar o artigo MicroMundo@Oeiras: experimental project fostering contribution to knowledge on antimicrobial resistance in secondary school na FEMS Microbiology Letters

Ao envolver diretamente estudantes no processo científico, o projeto de ciência-cidadã teve na sua essência o objetivo de formar uma nova geração de guardiões dos antibióticos mais consciente dos riscos e capazes de adotar práticas responsáveis no uso destes medicamentos.

Amostras de bactérias resistentes
O trabalho de campo e os testes laboratoriais permitiram aos estudantes e cientistas criar uma base de dados pública que irá complementar o mapeamento da resistência bacteriana. Foto: ITQB NOVA

Mais do que uma experiência científica, o município aponta o projeto como um exemplo que demonstra ser possível converter um território num laboratório a céu aberto para que cientistas e a comunidade possam trabalhar nos desafios globais mais emergentes da atualidade.

Referência da notícia

Bruna Henriques, Bruna Brito, Catarina Barreiros, Guilherme Galvão, João Coito, Sofia Lourinho, Teresa Mil-Homens, Verónica Maciel, Afonso Queijinho, Beatriz Cardoso, Leonor Maria, Mariyana Vatova, Rodrigo Bastos, Sara Carrera Prata, Lígia O Martins, Renata Ramalho, Ana Silva, Elisabete Brigadeiro, Maria J Leão, Pedro Matos Pereira, Paulo Durão. MicroMundo@Oeiras: experimental project fostering contribution to knowledge on antimicrobial resistance in secondary school. FEMS Microbiology Letters