Alterações climáticas e chuva forte

As alterações climáticas têm aumentado a intensidade e frequência dos fenómenos extremos, designadamente a intensidade da precipitação.

Cheias provocadas por chuva forte associada ao ciclone Kenneth em Moçambique.

Têm ocorrido nos últimos anos eventos extremos de precipitação em diferentes regiões do globo, atingindo-se valores recordes de chuva para essas mesmas regiões. Já em 2019, chuvas fortes e prolongadas em diferentes pontos do globo têm inundado diversas regiões, provocando deslizamentos de terra, cheias em diques e rios, causando milhares de mortes e estragos irreparáveis nas casas e infraestruturas, bem como nas plantações, que para muitas comunidades é a sua subsistência.

Foi decretado estado de emergência em alguns países. Todos estes impactos refletem-se em biliões de dólares de prejuízo em poucos dias. Eventos extremos de chuva têm devastado comunidades em muitas regiões da Ásia e África. Mas a frequência e a gravidade de tais eventos só tende a agravar-se num planeta em aquecimento.

Aumento de vapor de água na atmosfera

As mudanças climáticas são a maior ameaça ambiental do século XXI, com consequências profundas e transversais a várias áreas da sociedade. Uma dessas ameaças reflecte-se no aumento da intensidade da precipitação devido ao aquecimento do planeta. Mais de 70% da superfície do planeta é água, e à medida que o planeta aquece, mais água evapora dos oceanos, lagos e solos.

Estima-se que cada aumento de 0,55°C ou 1 ºF, também permite que a atmosfera retenha 4% a mais de vapor de água. Assim, quando se conjugam determinados padrões meteorológicos na atmosfera tanto em altitude como à superfície, que levam à ocorrência de determinados fenómenos extremos com chuvas fortes, há ainda mais quantidade de vapor de água disponível na atmosfera para condensar e, consequentemente, provocar um aumento da intensidade da precipitação, aumentando o risco e a gravidade das inundações.

Um aumento da quantidade de vapor de água na atmosfera implica um aumento de intensidade da precipitação.

De acordo com a Climate Central, organização independente de cientistas e jornalistas que pesquisam e relatam factos sobre as alterações climáticas e o seu impacto no público, as inundações ocorrem frequentemente no dia mais chuvoso do ano da região. A organização analisou séries longas de dados de estações meteorológicas em 244 cidades nos Estados Unidos da América, e concluiu que há uma tendência para um aumento do número de dias húmidos ao longo do tempo e, na maioria das zonas, os extremos de chuvas intensificaram-se à medida que a atmosfera aqueceu.

Desde 1950, ao longo dos anos, a humidade do dia mais húmido do ano foi aumentando em 79% das cidades analisadas. Pode dizer-se que a humidade nas regiões mais húmidas vai subindo, o que os ingleses referem por “the wet get wetter”. De acordo com o mesmo estudo, para 32 cidades, a precipitação extrema do dia aumentou em cerca de 25 mm.