As florestas subaquáticas também se defendem do calor

Estudo recente analisa o papel das Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) na resiliência das florestas de kelp (algas). Compreenda a sua importância para os ecossistemas no que concerne a eventos climáticos extremos!

São fundamentais na cadeia alimentar marinha, suportando desde pequenos invertebrados até predadores de topo.

Um estudo recente analisa o papel das Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) na resiliência das florestas de kelp (são grandes algas, normalmente acastanhadas) face a eventos climáticos extremos, em particular as ondas de calor marinhas severas.

As florestas de kelp, que constituem habitats costeiros fundamentais, têm sofrido um declínio acentuado devido a múltiplas pressões, incluindo aquecimento oceânico, proliferação de ouriços-do-mar e doenças que afetam predadores-chave como as estrelas-do-mar. Esses ecossistemas não só são cruciais para a biodiversidade marinha, como também fornecem serviços ecológicos e económicos relevantes para as comunidades costeiras.

Formam florestas submarinas que podem atingir mais de 30 metros de altura, proporcionando sombra, alimento e abrigo para peixes, invertebrados, aves marinhas e mamíferos.

Os investigadores recorreram a quase quatro décadas de dados de sensoriamento remoto (1984–2022) para avaliar o efeito de 54 AMPs na Califórnia sobre a cobertura de dossel de kelp.

Para isso, aplicaram a metodologia Before-After Control-Impact Paired Series (BACIPS), comparando áreas protegidas com locais de referência de características semelhantes antes e depois da implementação das AMPs. O objetivo foi perceber se estas áreas contribuem para aumentar a cobertura de kelp, bem como a resistência e recuperação destas florestas durante e após as ondas de calor marinhas ocorridas entre 2014 e 2016.

Os resultados

Os resultados indicaram que, em termos gerais, as AMPs promoveram um aumento modesto de cerca de 8,5% na cobertura de kelp face a áreas não protegidas.

Embora esta melhoria seja relativamente discreta e tenha variado entre regiões, tornou-se mais evidente após a ocorrência das ondas de calor, quando as florestas localizadas dentro das AMPs mostraram maior capacidade de recuperação, sobretudo no sul da Califórnia.

Nessa região, a proteção de predadores de ouriços-do-mar – como o peixe California sheephead e a lagosta-espinhosa – parece ter desempenhado um papel fundamental, reforçando o efeito das cascatas tróficas que controlam a pressão dos herbívoros sobre o kelp.

Atuam como sumidouros de carbono, ajudando a mitigar as alterações climáticas ao sequestrar CO₂.

Por outro lado, em áreas mais a norte, onde os principais predadores de ouriços são estrelas-do-mar e lontras marinhas (espécies não alvo da pesca), os efeitos das AMPs foram menos significativos ou até negativos, em parte devido ao colapso das populações de estrelas-do-mar e à explosão populacional de ouriços.

Estes contrastes revelam que a eficácia das AMPs não é uniforme, dependendo da biogeografia, do tipo de predadores presentes e do historial de pressões humanas.

A importância do estudo

O estudo sublinha ainda a importância de dados de longa duração e em larga escala para avaliar o impacto real das AMPs, uma vez que a variabilidade natural da cobertura de kelp pode mascarar os efeitos da proteção. Apesar das limitações, os resultados fornecem evidência empírica de que AMPs bem geridas podem funcionar como ferramentas de adaptação climática, ajudando a sustentar a estabilidade e a recuperação dos ecossistemas marinhos perante distúrbios climáticos crescentes.

A nível prático, esta investigação reforça o valor das AMPs como instrumentos que não só contribuem para a conservação da biodiversidade, mas também para a resiliência dos ecossistemas face às alterações climáticas.

Contudo, os autores alertam que, dadas as diferenças regionais e os mecanismos ecológicos específicos envolvidos, a proteção marinha deverá ser complementada por outras estratégias de adaptação climática.

Além disso, a meta global de proteger 30% dos oceanos até 2030 terá de considerar não apenas a quantidade, mas também a qualidade e gestão eficaz das áreas protegidas, garantindo que estas contribuem de forma significativa para a conservação e recuperação de habitats críticos como as florestas de kelp.

Referência da notícia

Ortiz-Villa, E. M., Rassweiler, A., Caselle, J. E., Cavanaugh, K. C., Arafeh-Dalmau, N., Bell, T. W., & Cavanaugh, K. C. (2025). Marine protected areas enhance climate resilience to severe marine heatwaves for kelp forests. Journal of Applied Ecology, 00, 1–15. https://doi.org/10.1111/1365-2664.70112