A juventude e o coração: porque os últimos anos da adolescência e os primeiros da vida adulta são decisivos para a saúde
Os hábitos formados entre a adolescência e o início da vida adulta influenciam profundamente a saúde do coração e determinam o risco de doenças cardiovasculares no futuro.

Costuma dizer-se que os problemas de coração são uma preocupação da idade madura. No entanto, a ciência tem vindo a demonstrar que os alicerces da saúde cardiovascular se constroem muito mais cedo, precisamente entre o final da adolescência e o início da vida adulta, entre os 17 e os 25 anos.
É nesta fase de transição, em que muitos jovens ganham independência, mudam de cidade ou de hábitos e começam a tomar as suas próprias decisões de vida, que se definem comportamentos com impacto duradouro no coração.
O ponto de viragem silencioso
Estudos recentes mostram que, em média, a saúde cardiovascular global, medida através de fatores como o peso, a pressão arterial, os níveis de colesterol e glicose, a alimentação e a atividade física, começa a declinar por volta dos 17 anos.
Este declínio é muitas vezes silencioso e passa despercebido, porque os jovens tendem a sentir-se saudáveis e imunes a doenças “de adultos”. Mas os dados são claros: nas últimas duas décadas, a taxa de doenças cardíacas em pessoas com menos de 40 anos duplicou nos Estados Unidos e aumentos semelhantes começam a observar-se noutros países ocidentais. O uso de nicotina, o sedentarismo e a obesidade são alguns dos principais culpados.
Hábitos que se instalam cedo
A transição para a idade adulta traz liberdade, mas também desafios: mais refeições rápidas, menos tempo (ou vontade) para cozinhar, mais consumo de álcool e tabaco, e menos sono.
Estas mudanças comportamentais têm um efeito direto nos vasos sanguíneos e no metabolismo. O consumo de nicotina, quer através de cigarros, quer através do vaping, é um exemplo preocupante.
Entre os 18 e os 23 anos, a percentagem de jovens que consome produtos com nicotina aumentou de forma significativa na última década. A nicotina causa inflamação, danifica as artérias e acelera a formação de placas que podem levar a enfartes ou AVC.
A obesidade é outro fator em ascensão
Em países desenvolvidos, cerca de um em cada cinco jovens adultos tem já um índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30, o que é considerado obesidade.
Se esta tendência se mantiver, estima-se que, aos 35 anos, quase 60% dos jovens atuais poderão estar nessa categoria.
O que se pode fazer: os “8 essenciais” para um coração saudável
A American Heart Association definiu oito fatores essenciais para a saúde cardiovascular, quatro comportamentais e quatro clínicos:
- Não fumar nem usar produtos com nicotina.
Evitar completamente o consumo é o mais eficaz, mas quem fuma deve procurar apoio para deixar. - Praticar atividade física regular. O ideal são pelo menos 150 minutos de exercício moderado por semana, o equivalente a cerca de 20 minutos por dia. Caminhar, correr, nadar ou andar de bicicleta são opções acessíveis.
- Dormir bem.
O descanso adequado (7 a 9 horas por noite) é essencial para o equilíbrio hormonal, o controlo do peso e a recuperação cardiovascular.
- Alimentação equilibrada.
A dieta mediterrânica, rica em legumes, frutas, peixe, azeite e cereais integrais, continua a ser um dos modelos mais protetores. Evitar alimentos ultraprocessados, refrigerantes e excesso de sal faz uma diferença enorme.

- Manter pressão arterial saudável.
A hipertensão é um dos maiores fatores de risco e pode desenvolver-se cedo sem sintomas. - Controlar o colesterol.
Os níveis elevados de LDL (“mau colesterol”) contribuem para o entupimento das artérias. - Gerir a glicose no sangue.
O excesso de açúcares e bebidas açucaradas aumenta o risco de diabetes tipo 2 e de problemas cardíacos. - Acompanhar o peso corporal.
Não se trata apenas de estética: o excesso de gordura abdominal está diretamente associado ao risco cardiovascular.
Um investimento no futuro
Os hábitos criados nesta fase da vida tendem a persistir. Aprender a cozinhar, dormir o suficiente, praticar exercício regularmente e fazer check-ups médicos ocasionais pode parecer pouco relevante aos 20 anos, mas são decisões que moldam décadas de bem-estar.
Importa também reconhecer que a saúde não depende apenas de escolhas individuais.
O ambiente em que os jovens vivem, se têm acesso a espaços verdes, a alimentação saudável a preços acessíveis e a cuidados de saúde preventivos, influencia fortemente a probabilidade de manter um coração saudável.