Qual é a influência do Homem na intensidade dos ciclones tropicais?

Adam Sobel, professor de Ciências Ambientais na Universidade da Columbia, e a sua equipa, estudam a forma como os gases com efeito de estufa, juntamente com outras pequenas partículas chamadas aerossóis, poderão afetar a intensidade dos ciclones tropicais. Contamos-lhe mais aqui!

Ciclones tropicais
Os ciclones tropicais têm nomes diferentes, dependendo da sua localização geográfica: furacões no Atlântico, tufões no Pacífico Ocidental e ciclones no Oceano Índico.

A força ou intensidade de um ciclone tropical é medida pela velocidade do vento próximo à superfície. Adam e os restantes investigadores analisam uma das questões mais intrigantes da ciência climática - apesar do aumento da temperatura do oceano, porque não observamos um aumento global da força dos ciclones tropicais?

Água mais quente, tempestades mais fortes?

Uma das razões pela qual podemos esperar ciclones tropicais mais intensos é porque estes extraem a sua força a partir das águas quentes do oceano.

Os cientistas previam que os oceanos mais quentes, resultantes das alterações climáticas, levassem a tempestades mais intensas. Embora os oceanos tenham aquecido substancialmente nas últimas décadas, provavelmente, devido ao efeito de captura de gases com efeito de estufa, a tendência global da força dos ciclones tropicais não coincide com a tendência da superfície do mar.

O ar quente e húmido, acima da superfície do oceano, aumenta e forma tempestades.

Contudo, estas tempestades têm mostrado um ligeiro aumento de intensidade na região do Atlântico Norte. Ainda assim, não é possível afirmar, com certeza, que estas mudanças estão relacionadas com as alterações climáticas.

Existem muitos desafios quando se trata de procurar mudanças a longo prazo nestas tempestades, incluindo o registo de observação por satélite, que é relativamente curto, e as substanciais variações naturais anuais (como o El Niño). Além disso, estas tempestades são muito complexas, pelo que há mais fatores envolvidos para além da temperatura da superfície do oceano.

Tendo em conta os impactos causados pelos ciclones tropicais, é fundamental compreender a possibilidade de tempestades mais intensas no futuro, de forma a que seja possível implementar normas de mitigação suficientes para estes eventos extremos.

O estudo

A equipa de Adam utilizou dados de modelos que simulam a temperatura da superfície do mar e a intensidade potencial - limite máximo da força de uma tempestade – de um ciclone tropical de 1850, até ao presente.

Este estudo analisou padrões globais, enquanto muitos estudos anteriores se concentraram no Atlântico, e considerou quatro cenários diferentes: o primeiro - E se não tivéssemos começado a queimar combustíveis fósseis?; o segundo - E se emitirmos gases com efeito de estufa, mas não aerossóis?; o terceiro - E se emitirmos aerossóis, mas não gases com efeito de estufa?; o quarto - Como é a aparência dos gases com efeito de estufa e dos aerossóis?

Com base no primeiro cenário, se não tivéssemos começado a queimar combustíveis fósseis, a temperatura da superfície do mar e a intensidade potencial teriam permanecido praticamente as mesmas de 1850 até agora, mas se observarmos o que acontece com os gases de efeito estufa e os aerossóis - ou seja, o quarto cenário - a temperatura da superfície do mar aumentou, mas a intensidade potencial não, apesar de ter oscilado ligeiramente.

Com a análise do segundo e do terceiro cenário, o modelo mostra que o efeito de aquecimento, proveniente dos gases com efeito de estufa na temperatura da superfície do mar é de duas a três vezes maior que o efeito do arrefecimento por parte dos aerossóis. No entanto, o aumento da intensidade potencial causado pelos gases com efeito de estufa é quase igual à diminuição causada pelos aerossóis.

Os aerossóis têm interações complexas com a atmosfera, mais do que refletir a luz solar para o espaço, como o aquecimento da atmosfera e influência na humidade. Isto significa que têm um impacto mais forte na restrição da intensidade do ciclone do que na neutralização do aquecimento do oceano, explicando, assim, o porquê de a tendência da força do ciclone não corresponder à tendência da temperatura da superfície do mar.