A ciência nuclear ajuda a proteger os rinocerontes da caça ilegal

Isótopos radioativos estão a ser injetados nos chifres dos rinocerontes, na África do Sul. O material pode ser detetados em aeroportos e fronteiras, mesmo em grandes contentores, sendo inofensivos para estes animais

Dois rinocerontes numa savana da África do Sul
Após testes bem-sucedidos, a África do Sul iniciou agora uma campanha nacional para injetar isótopos radioativos em todos os rinocerontes a viver em propriedades privadas e públicas. Foto: Projeto Rhisotope/ Universidade de Witwatersrand

Injetar isótopos radioativos no corno de um rinoceronte pode, à primeira vista, parecer uma crueldade. Mas este método só começou a ser usado, na África do Sul, depois de os testes revelarem que o processo é totalmente seguro para o animal e eficaz para detetar o contrabando de chifres nos sistemas de segurança nuclear instalados nos postos alfandegários.

Talvez muitos ainda desconheçam que a maioria dos aeroportos e portos internacionais estão equipados com tecnologia para detetar material radioativo.

A medida tem como intuito bloquear o tráfego de armas nucleares, mas, agora, a Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, quer aproveitar essa infraestrutura para combater também a caça ilegal.

Dois chips radioativos implantados nos chifres é o suficiente para fazer disparar os alarmes nos controlos fronteiriços. O método, além de inofensivo para os animais, não provoca dor e pode vir a ser mais eficaz do que o corte do corno ou a base de dados de ADN de rinocerontes que a polícia usa em vários países do continente africano para apanhar os caçadores furtivos.

Os isótopos radioativos, mesmo em níveis muito baixos, podem ser reconhecidos por detetores de radiação, ajudando a travar os caçadores furtivos e traficantes.

Campanha em larga escala vai cobrir todo o país

Após testes iniciais com 20 animias, a iniciativa, promovida pela Unidade de Radiação e Física da Saúde, da Universidade de Witwatersrand, já resultou na aplicação de isótopos em cinco rinocerontes do Parque Nacional Kruger.

O piloto, batizado de Projeto Rhisotope, serviu para arrancar com uma campanha em larga escala visando proteger a população de rinocerontes que se encontra em declínio acelerado.

Os proprietários de rinocerontes, tanto privados como públicos, e as autoridades de conservação da Natureza foram instados a contactar a universidade para que comecem a utilizar esta nova abordagem em todos os seus animais. O objetivo passa por estender rapidamente a campanha a todo o território nacional.

Projeto Rhisotope: implnate de chips radioativos em chifres de rinocerontes
Os investigadores asseguram que o implante de chips radioativos é inofensivo e indolor para os animais. Foto: projeto Rhisotope/ Universidade de Witwatersrand

A mobilização, no entanto, não implica descartar as restantes medidas que continuam a fazer parte do combate ao tráfego ilegal de chifres de rinoceronte. Até porque estão a produzir resultados positivos.

A ameaça do crime organizado

Operações de vigilância e programas de remoção dos chifres dos animais terão sido os principais fatores para, no ano passado, terem sido caçados ilegalmente 420 rinocerontes na África do Sul, menos 79 do que em 2023, segundo as estatísticas do ministério das Florestas, Pescas e Ambiente do país.

Mas as autoridades também reconhecem que os caçadores furtivos começaram a matar rinocerontes sem chifres. O crime organizado continua, por isso, a ser uma ameaça séria não só para os rinocerontes como também para outros animais selvagens, guardas-florestais e populações que os protegem e vivem com eles.

No mercado negro, o preço dos chifres compete com o do ouro ou da cocaína. Por isso, nem descornar (serrar) nem envenenar os chifres tem dissuadido os caçadores furtivos. A esperança é que o material radioativo possa ser um passo significativo para coibir a caça ilegal.

Rápido declínio da espécie

A África do Sul conta com cerca de 80% da população mundial de rinocerontes-brancos, cujo total não ultrapassa os 17 mil espécimes. O país é um alvo contínuo do tráfego ilegal impulsionada pela procura da Ásia, onde se acredita que os chifres possuem propriedades terapêuticas ou afrodisíacas.

"A cada 20 horas, um rinoceronte morre na África do Sul por causa do seu chifre"

James Larki, investigador da Universidade de de Witwatersrand.

As savanas sul africanas têm a maior taxa de mortalidade dos rinocerontes, com cerca de 500 animais mortos todos os anos. Mas a perseguição a esta espécie estende-se também pelos países vizinhos, como Moçambique, Namíbia, Quénia e Zimbabué.

Projeto Rhisotope: implnate de chips radioativos em chifres de rinocerontes
O material radioativo injetado nos chifres dos rinocerontes, mesmo em níveis muito baixos, é suficiente para disparar os alarmes nos controlos fronteiriços. Foto: projeto Rhisotope/ Universidade de Witwatersrand

No início do século XX, a União Internacional para a Conservação da Natureza estimava em 500 mil o número de rinocerontes em todo o mundo. A população atual é agora de cerca de 27 mil animais.

Referência da notícia

The Rhisotope Project – Witwatersrand University.