Porque foi o terramoto de magnitude 5,9 no Afeganistão tão devastador?

O terramoto no Afeganistão, com uma magnitude de 5,9 na escala de Richter, já registou mais de 1000 mortos e mais de 1500 feridos. É considerado o tremor mais letal das últimas décadas.

Afeganistão
Afegãos procuram os seus pertences no meio das ruínas de uma casa danificada por um terramoto que deixou milhares de desalojados no Afeganistão.


No passado dia 22 de junho, o leste do Afeganistão foi atingido por um sismo, a meio da noite, que se tornou o mais mortal do país em duas décadas.

O epicentro deste deu-se na província de Paktika, uma região na fronteira com o Paquistão, onde centenas de casas e prédios desabaram. Aldeias inteiras foram derrubadas. Pelo menos 1150 pessoas morreram, de acordo com os relatórios oficiais.

Um tremor subsequente na sexta-feira, dia 24, aumentou o número. Contudo, o abalo inicial teve uma magnitude relativamente moderada de 5,9, e eventos como este são relativamente comuns em lugares geologicamente ativos. Então, porque é que a devastação foi tão intensa neste caso?

O terramoto esteve relacionado com a colisão em curso da placa tectónica indiana com a placa da Euro-asiática, o impacto que também criou os Himalaias.

À medida que se move para norte, a placa indiana mói ao longo de uma secção da placa Euro-asiática a leste e o movimento convergente destes enormes volumes de rocha às vezes rompe uma ou mais das centenas de ranhuras, conhecidas como falhas, que se aglomeram perto do limite das placas.

Ocasionalmente, as massas rochosas em ambos os lados destas falhas chocam em vez de deslizar lentamente, levando aos chamados terremotos de deslizamento.

Estes movimentos súbitos irradiam para fora da falha como ondas sísmicas, que fazem o solo tremer. E quanto mais perto da falha, mais violentamente ela treme.

Globalmente, espera-se que ocorram mais de 100 terramotos de magnitude 5,9 por ano, e é mais provável que ocorram em regiões sismicamente ativas, como o Afeganistão.

A hora do horror

O mais recente desastre destaca-se como um dos mais mortais das últimas décadas, por ter atingido uma área de construções precárias.

A província de Paktika, próxima à fronteira com o Paquistão, é uma região cujas casas são feitas de alvenaria ou mesmo de barro ou palha, materiais que se quebram facilmente quando sujeitos à tensão. Acredita-se que vilarejos inteiros foram destruídos pelos tremores.

Temos um país onde 97% da população está no limiar da pobreza. As pessoas não têm o que comer. É uma situação muito, muito desafiadora. E agora, além disso, a comunidade rural mais pobre tem que lidar com um terremoto.

Sam Mort, representante da Unicef.

Para além disto, este sismo ocorreu a meio da noite, momento em que todos estavam a dormir e não tiveram tempo de se deslocar para áreas seguras, para escapar aos desabamentos. Durante o dia, as pessoas podem estar em escritórios ou escolas, que podem ter uma estrutura que suporte melhor as trepidações.

O terreno difícil e a profunda pobreza na região sudeste do país representam um desafio especial para os esforços de ajuda. A área está longe de muitas clínicas ou hospitais que poderiam atender os feridos. Milhares de desabrigados passaram a noite no frio e foram atingidos pela chuva, vento e até neve.

O governo Talibã pediu ajuda internacional para lidar com o desastre

O governo Talibã entrou em contacto com as Nações Unidas para solicitar assistência e trabalhar em conjunto para ajudar as comunidades mais afetadas.

Os recursos são bastante limitados e a resposta à emergência nas comunidades é feita basicamente pelas mãos das pessoas, tornando-se num verdadeiro desafio no meio dos escombros, com chuva e lama.

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De acordo com Sam Mort, representante da Unicef, o país enfrenta ainda a pior seca em 37 anos. Há uma crise de desnutrição crónica, um milhão de crianças menores de 5 anos vivem em risco de desnutrição grave, existem doenças evitáveis, como sarampo e diarreia, que se espalham e que estão tirando a vida de crianças.

Nos últimos 10 anos, mais de 7 mil pessoas morreram devido a sismos no país, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.