População sob ameaça devido ao degelo de um glaciar no Uganda

Os cumes gelados das montanhas Rwenzori, Património Mundial da Unesco, na fronteira entre o Uganda e a República Democrática do Congo estão a derreter, colocando a população em risco. Saiba mais aqui!

Uganda; montanhas Rwenzori
O gelo e a neve no topo das montanhas Rwenzori estão a derreter lentamente.

A agricultura está a sofrer vários impactos, devido ao derretimento deste glaciar, pois as culturas não aguentam o tempo que deviam, por causa das cheias - provenientes da precipitação - e das secas. Isto faz com que a população tenha mais dificuldade em sustentar-se com o fabrico próprio.

Masika, residente do local, que está agora num projeto que servirá para mitigar os impactos das alterações climáticas, afirma que se sente desconfortável quando pensa no que as próximas gerações terão de passar, caso esta situação se mantenha.

As alterações climáticas estão a afetar as montanhas Rwenzori de formas diferentes

A mudança mais visível é a rápida perda do manto de gelo, que encolheu de 6.5km2, em 1906, para menos de 1km2, em 2003, e pode desaparecer completamente antes do final desta década, mostram estudos.

Em 2012, os incêndios florestais atingiram altitudes superiores a 4 mil metros, o que seria inconcebível no passado, devastando assim a vegetação que controlava o fluxo dos rios a jusante.

Desde então, as comunidades que vivem perto de Rwenzori sofreram algumas das inundações mais destrutivas que a área já presenciou, juntamente com um padrão de precipitação menos frequente, mas mais forte.

Em maio do ano passado, foram detetadas cheias em cinco rios locais, após períodos de chuva intensa. A água desceu a montanha, trazendo consigo grandes rochas, varrendo casas e escolas e, consequentemente, arrasando toda a cidade de Kalembe, onde cerca de 25 mil casas foram destruídas e 173 mil pessoas foram afetadas.

O esforço da comunidade Bakonzo

A comunidade Bakonzo é composta por cerca de um milhão de pessoas, que vivem em ambos os lados da fronteira entre o Uganda e a República Democrática do Congo, e o seu património pode ser destruído, devido às alterações climáticas.

"As consequências das alterações climáticas são particularmente agudas nos trópicos", frisa Richard Taylor, geógrafo da University College London, que liderou estudos nas montanhas Rwenzori.

Apesar da destruição sentida pelo recuo do glaciar, as comunidades começam a autoinventar-se e a criar formas de mitigar estes eventos, de forma a protegerem-se e a proteger a natureza.

Como parte de um projeto para mitigar estes impactos, Simon Musasizi, gerente do programa da Fundação Transcultural do Uganda (CCFU), afirma que há um acordo com a comunidade sobre quais árvores serão plantadas para reforçar as margens do rio, incluindo bambus e árvores nativas.

Masika diz que a comunidade já tinha respostas para alguns dos problemas, desde o tipo de vegetação a plantar aos melhores locais para o fazer, tendo em conta a proteção que esta lhes pode fornecer.