Sismo em Celorico da Beira mostra que é preciso estar também atento às regiões do Centro e Norte do País

O abalo sentido na Beira Interior e Nordeste Transmontano virou as atenções para a falha tectónica de Vilariça, formada há 300 milhões de anos quando surgiram as cadeias montanhosas da Europa.

Celorico da Beira
O abalo com epicentro em Celorico da Beira fez-nos lembrar que as Regiões Centro e Norte também são afetadas por atividade sísmica. Foto: Vitor Oliveira, de Torres Vedras, PORTUGAL, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons

Sismos nas regiões Centro e Norte do país não são frequentes. Mas, na madrugada de sábado, a população de Celorico da Beira, no distrito da Guarda, acordou sobressaltada com o tremor de terra, sentido também em vários outros distritos, como Castelo Branco, Vila Real e Viseu.

Registado pela Rede Sísmica do Continente às 00h38 da madrugada de 13 de dezembro, o abalo teve uma magnitude de 4.1 na escala de Richter e epicentro a quatro quilómetros de Celorico da Beira, atingindo uma profundidade de 22 quilómetros.

Foi o segundo mais forte do ano, depois de um outro sismo de magnitude de 4,7 ter abalado a região de Lisboa a 17 de fevereiro de 2025. Ainda assim, não houve danos pessoais ou materiais. Mas chamou a atenção para o facto de estes eventos poderem acontecer também em regiões com baixa atividade sísmica.

Mais um sismo sentido em Évora

A maior parte dos sismos sentidos em Portugal ocorre junto à fronteira das placas Euroasiática – onde se encontra a Península Ibérica – e Africana, afetando sobretudo o litoral sul e a região algarvia.

Foi o que aconteceu, aliás, esta manhã, às 09h39, quando mais um sismo, com epicentro a 10 km a sul de Évora, atingiu uma magnitude 3,5 na escala de Richter, mais também sem provocar vítimas ou estragos materiais.

Évora
Um sismo de magnitude 3.5 na escala de Richter foi sentido esta manhã em Évora. Foto: Daniel Carrapa, CC BY-NC 2.0, via Flickr

O tremor de terra em Évora esteve diretamente relacionado com a interação da placa tectónica Africana a pressionar a Euroasiática.

Em constante movimento, as placas geram falhas ativas em Portugal Continental e uma maior sismicidade, como os abalos sentidos recentemente, nos concelhos de Albufeira e Faro, em março, e em Almada, Sintra e Sesimbra, em fevereiro.

A atividade sísmica na falha de Vilariça

Não sendo tão frequentes em regiões mais a norte, o abalo de 13 de dezembro nas Beiras e no Nordeste Transmontano, acabou por despertar enorme interesse tanto nas redes sociais, como na imprensa local e nacional.

A terra estremeceu em vários distritos portugueses e foi até sentido em áreas próximas da fronteira com Espanha. Mas o evento foge aos padrões de atividade sísmica habituais. Os sismólogos acreditam que estará relacionado com a falha de Vilariça, entre Bragança, Vilariça e Manteigas.

Segundo os especialistas do Centro de Interpretação da Serra da Estrela, em causa está um grande acidente tectónico na continuidade da falha da Nazaré, mais a sudoeste. Projetando para a Sertã, na Beira Baixa, a falha rasga os vales de Alforfa, entre Covilhã e Unhais da Serra, estendendo-se para nordeste pelo Vale da Vilariça e culminando em Puebla de Sanábria, já em Espanha, numa extensão de 250 quilómetros.

É uma falha ativa que se encontra bem monitorizada, com uma estrutura tectónica muita antiga, formada há cerca de 300 milhões de anos, na era Paleozoica, durante o desenvolvimento das cadeias montanhosas da Europa – evento geológico conhecido como Orogenia Varisca.

Apresentando uma baixa atividade sísmica já foi, todavia, responsável por eventos importantes, como o sismo de 1858 que devastou a vila de Moncorvo, no distrito de Bragança. Originou igualmente uma crise sísmica que durou quase um mês, entre julho e agosto de 1986 nos distritos de Viseu, Guarda, Vila Real, Bragança e o Grande Porto.

Vale de Alforfa
Os sismos registados no Norte do país estão sobretudo relacionados com a falha da Vilariça, entre Bragança e Manteigas. Na imagem, o Vale de Alforfa, por onde também passa a fratura geológica Foto: Centro de Interpretação da Serra da Estrela

Este sismo sentido agora, no dia 13 de dezembro, apesar da sua grande profundidade (22 km) e baixa a moderada magnitude, tem uma função didática relevante, advertem os sismólogos.

É um alerta para a necessidade de se prestar atenção à história geológica e todo o enquadramento geotectónico das regiões em que estes fenómenos ocorrem. O conhecimento será sempre o melhor trunfo para estarmos mais bem prevenidos diante de futuros eventos.

Referências da notícia

Geoparque – Terra de Cavaleiros

O retomar da história geológica tectónica da Vilariça? - Centro de Interpretação da Serra da Estrela

Falha da Vilariça – Manteigas - https://natural.pt/