Sismo em Celorico da Beira mostra que é preciso estar também atento às regiões do Centro e Norte do País
O abalo sentido na Beira Interior e Nordeste Transmontano virou as atenções para a falha tectónica de Vilariça, formada há 300 milhões de anos quando surgiram as cadeias montanhosas da Europa.

Sismos nas regiões Centro e Norte do país não são frequentes. Mas, na madrugada de sábado, a população de Celorico da Beira, no distrito da Guarda, acordou sobressaltada com o tremor de terra, sentido também em vários outros distritos, como Castelo Branco, Vila Real e Viseu.
Foi o segundo mais forte do ano, depois de um outro sismo de magnitude de 4,7 ter abalado a região de Lisboa a 17 de fevereiro de 2025. Ainda assim, não houve danos pessoais ou materiais. Mas chamou a atenção para o facto de estes eventos poderem acontecer também em regiões com baixa atividade sísmica.
Mais um sismo sentido em Évora
A maior parte dos sismos sentidos em Portugal ocorre junto à fronteira das placas Euroasiática – onde se encontra a Península Ibérica – e Africana, afetando sobretudo o litoral sul e a região algarvia.
Foi o que aconteceu, aliás, esta manhã, às 09h39, quando mais um sismo, com epicentro a 10 km a sul de Évora, atingiu uma magnitude 3,5 na escala de Richter, mais também sem provocar vítimas ou estragos materiais.

O tremor de terra em Évora esteve diretamente relacionado com a interação da placa tectónica Africana a pressionar a Euroasiática.
Em constante movimento, as placas geram falhas ativas em Portugal Continental e uma maior sismicidade, como os abalos sentidos recentemente, nos concelhos de Albufeira e Faro, em março, e em Almada, Sintra e Sesimbra, em fevereiro.
A atividade sísmica na falha de Vilariça
Não sendo tão frequentes em regiões mais a norte, o abalo de 13 de dezembro nas Beiras e no Nordeste Transmontano, acabou por despertar enorme interesse tanto nas redes sociais, como na imprensa local e nacional.
A terra estremeceu em vários distritos portugueses e foi até sentido em áreas próximas da fronteira com Espanha. Mas o evento foge aos padrões de atividade sísmica habituais. Os sismólogos acreditam que estará relacionado com a falha de Vilariça, entre Bragança, Vilariça e Manteigas.
Segundo os especialistas do Centro de Interpretação da Serra da Estrela, em causa está um grande acidente tectónico na continuidade da falha da Nazaré, mais a sudoeste. Projetando para a Sertã, na Beira Baixa, a falha rasga os vales de Alforfa, entre Covilhã e Unhais da Serra, estendendo-se para nordeste pelo Vale da Vilariça e culminando em Puebla de Sanábria, já em Espanha, numa extensão de 250 quilómetros.
Apresentando uma baixa atividade sísmica já foi, todavia, responsável por eventos importantes, como o sismo de 1858 que devastou a vila de Moncorvo, no distrito de Bragança. Originou igualmente uma crise sísmica que durou quase um mês, entre julho e agosto de 1986 nos distritos de Viseu, Guarda, Vila Real, Bragança e o Grande Porto.

Este sismo sentido agora, no dia 13 de dezembro, apesar da sua grande profundidade (22 km) e baixa a moderada magnitude, tem uma função didática relevante, advertem os sismólogos.
É um alerta para a necessidade de se prestar atenção à história geológica e todo o enquadramento geotectónico das regiões em que estes fenómenos ocorrem. O conhecimento será sempre o melhor trunfo para estarmos mais bem prevenidos diante de futuros eventos.
Referências da notícia
Geoparque – Terra de Cavaleiros
O retomar da história geológica tectónica da Vilariça? - Centro de Interpretação da Serra da Estrela
Falha da Vilariça – Manteigas - https://natural.pt/