Fogo bacteriano na pereira Rocha já destruiu 31% da produção nacional. Potencial produtivo pode baixar 60% em 2026
Os dados dos últimos 20 anos e contabilizando já a produção de pera Rocha em 2025 sugere haver “uma destruição permanente em 31% da produção nacional. Para 2026, está previsto “mais um acréscimo de redução no potencial produtivo, em mais de 60% nos atuais pomares de pereira Rocha”.

Há cerca de 170 anos, foi identificada no concelho de Sintra, na propriedade do senhor Pedro António Rocha, uma pereira diferente, com frutos de qualidade invulgar, cuja denominação é atualmente a “Pera Rocha do Oeste”.
Esta variedade portuguesa está concentrada na região Oeste, na orla marítima desde Sintra até Leiria, abrangendo sobretudo os concelhos do Cadaval, Bombarral, Torres Vedras, Caldas da Rainha, Alcobaça, Lourinhã, Óbidos e Mafra.
Falamos de uma variedade de pera exclusiva de Portugal, com Denominação de Origem Protegida desde 2003, que se distingue pelo seu sabor único, textura suculenta e aroma delicado e que é um dos produtos mais emblemáticos da fruticultura portuguesa, exportada para mais de 50 países.
Fogo bacteriano destrói a produção
A pera Rocha está, contudo, a ser duramente atingida pelo problema da doença do fogo bacteriano, que está a ameaçar a destruição dos pomares de pera, em particular de pera Rocha.

De acordo com os dados oficiais, o nível de produção de pera, no triénio 2022-2024, sofreu uma quebra de 32% face ao triénio anterior.
De acordo com este técnico, esta estimativa foi possível com recurso ao Observatório que a APAS utiliza para a monitorização de outra doença, a Estenfiliose que destrói frutos.
João Azevedo revela que o referido Observatório, baseado nos registos factuais dos dados climáticos, na produção nacional e na intensidade de estragos de Estenfiliose registados nos frutos em anos anteriores, “tem permitido prever a influência do clima na susceptibilidade da pereira Rocha a esta doença no início de cada ano de produção”.
E diz que “este indicador é de extrema importância para o fruticultor”, uma vez que tem “cerca de 70% de peso na maior ou menor propensão de um pomar contrair esta doença a partir do início de cada ano de produção”.
Num artigo técnico publicado na última semana, este responsável da APAS explica que, “em maio de cada ano é finalizado o prognóstico de susceptibilidade da pereira Rocha à doença da Estenfiliose baseado no Observatório referido”.
Deste modo, “foi previsto para 2025, a nível regional, uma reduzida vestigial incidência desta doença nos frutos”, o que depois se veio a confirmar. A nível local, no pomar, as poucas exceções foram nos pomares em solos “marginais” e com práticas culturais já conhecidas como incorretas, afirma João Azevedo.
Pera Rocha: 41% de quebra em 2025
Com as condições edafoclimáticas registadas até maio, o Observatório permitiu inferir a previsão para 2025, numa produção nacional de pera Rocha a rondar as 219.300 toneladas.
Contudo, refere o técnico João Azevedo, alguns fatores poderiam afetar esta previsão, nomeadamente, os relacionados com os eventos climáticos, como o granizo, vento ou escaldão solar, e as dificuldades no vingamento (evolução da flor em jovem fruto).
Também houve “dificuldades no ritmo do crescimento diário dos frutos derivado a temperaturas altas”, o que ocorreu entre finais de julho e a primeira quinzena de agosto.
Deste modo, em 2025, a comparação entre a produção estimada e a registada sugere ter havido “uma quebra da produção nacional na ordem das 89.300 toneladas (-41%) de pera Rocha”, explica João Azevedo.
Nesta perda, diz o mesmo responsável, são atribuíveis 10pp2 (25% sobre 41% de quebra geral) aos problemas já referidos no vingamento e no crescimento de frutos, sobrando o remanescente ao impacto destrutivo do fogo bacteriano (31pp | 67.000 toneladas).

Para agravar o cenário, o técnico da APAS refere que, “este ano de 2025, foi registado um aumento na dispersão e na severidade do ataque desta doença destrutiva da árvore”.
O agravamento foi “atribuído às condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento desta doença durante o período da floração em abril”, período em que se verificaram chuvas persistentes e temperaturas amenas e favoráveis.
Estimativa de 60% de quebra em 2026
O ataque do fogo bacteriano nos pomares de pereira Rocha tem vindo a aumentar ano após ano, com maior aceleração desde 2021. Como esta doença mata ramos ou toda a árvore, o seu impacto é acumulativo dando origem a pomares mutilados levando à sistemática redução dos órgãos produtivos.
O técnico da APAS adianta que, para 2026, está “previsto mais um acréscimo de redução no potencial produtivo, em mais de 60% nos atuais pomares de pereira Rocha”.
Atualmente, não há soluções de proteção fiáveis ou eficazes contra esta doença. A solução mais promissora está relacionada com o melhoramento genético, mas está com um atraso cerca de 10 anos.
João Azevedo deixa um alerta: “Sem a renovação com novas plantações e/ou a paragem de novos ataques, a produção nacional de pera Rocha continuará com a tendência de redução e já para o próximo ano de 2026, derivado aos estragos verificados em 2025”.