O fenómeno La Niña está de volta: que consequências para o globo?

Pelo segundo ano consecutivo, a 'irmã' mais fria do El Niño está de volta ao Pacífico Oriental. Espera-se que La Niña persista, pelo menos, até à primavera de 2022 no Hemisfério Norte. Saiba mais aqui!

Tempestade na cidade de Perth; Austrália
Desde secas a tempestades, o fenómeno natural La Niña traz variações nas condições climáticas de diversas regiões do globo.

Sendo parte do ciclo do El Niño-Oscilação do Sul, o La Niña aparece quando os ventos alísios de leste intensificam o afloramento de água mais fria das profundezas do Pacífico tropical oriental, causando um arrefecimento em grande escala da superfície do Oceano Pacífico oriental e central, perto da linha do Equador.

Estes ventos alísios, mais fortes do que o habitual, também empurram as águas quentes da superfície equatorial para oeste, em direção à Ásia e Austrália. Com isto, este arrefecimento das camadas superficiais do oceano afeta a atmosfera, modificando o teor de humidade em todo o Pacífico.

Este fenómeno altera a circulação atmosférica global e pode causar mudanças na trajetória das correntes de jato de média latitude. Desta forma, intensifica a precipitação em algumas regiões e a seca noutras.

As consequências do La Niña

No Pacífico ocidental, a precipitação pode aumentar drasticamente sobre a Indonésia e Austrália durante o La Niña. As nuvens e a precipitação tornam-se mais esporádicas sobre o Oceano Pacífico central e oriental, o que pode levar a condições de seca no Brasil, Argentina, e outras partes da América do Sul e a condições mais húmidas sobre a América Central.

Na América do Norte, as condições mais frias e tempestuosas são frequentemente estabelecidas em todo o Noroeste do Pacífico, enquanto o clima se torna tipicamente mais quente e seco no sul dos Estados Unidos e norte do México.

O evento La Niña, que começou em finais de 2020, enquadra-se num padrão climático mais amplo que se prolonga há quase duas décadas - uma fase fria (negativa) da Oscilação Decadal do Pacífico (PDO).

Durante a maior parte das décadas de 1980 e 1990, o Pacífico esteve numa fase quente da PDO, que coincidiu com vários eventos fortes do El Niño. Mas desde 1999, uma fase fria tem estado a dominar. A seca a longo prazo no Sudoeste americano coincide com esta tendência, notou Josh Willis, um cientista climático e oceanógrafo do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), da NASA.

O fenómeno La Niña está a coincidir com uma fase negativa da Oscilação Decadal do Pacífico. Esta, à semelhança do El Niño, traz variações nas condições climáticas de diversas regiões. Sejam secas ou tempestades.

Num relatório divulgado no dia 9 de dezembro de 2021, o Centro de Previsão Climática da NOAA observou que as temperaturas à superfície do mar em novembro, no Pacífico tropical oriental, variavam entre 0.7 e 1.2 ºC abaixo da média, e 0.9°C abaixo da média na região Niño 3.4, do Pacífico tropical.

Os meteorologistas previram que as condições do La Niña persistiriam durante o inverno do Hemisfério Norte, com uma probabilidade de 60% de que o oceano voltaria a transitar para condições neutras durante o período de abril a junho.