Inundações em Samatra ameaçam de extinção o primata mais raro do mundo

Inundações e deslizamentos em Samatra deixam o orangotango Tapanuli, o primata mais raro do mundo, em risco iminente de extinção total. Saiba mais aqui!

O Tapanuli foi identificado como uma espécie distinta apenas em 2017, tornando-se o mais recente membro da família dos grandes primatas.

Cientistas e conservacionistas emitiram recentemente um alerta dramático após inundações catastróficas e deslizamentos de terra atingirem a ilha de Samatra, na Indonésia.

O desastre natural, provocado por chuvas torrenciais intensificadas por ciclones, não só causou uma tragédia humanitária com centenas de vítimas, mas pode ter desencadeado um "distúrbio de nível de extinção" para o orangotango Tapanuli (Pongo tapanuliensis), o grande primata mais raro e ameaçado do mundo.

Uma descoberta recente e uma população frágil

O orangotango Tapanuli foi identificado cientificamente como uma espécie distinta apenas em 2017. Diferente dos seus primos de Bornéu e de Samatra, esta espécie vive isolada numa pequena fração da floresta tropical no ecossistema de Batang Toru, no norte de Samatra.

Com menos de 800 indivíduos na natureza, este é oficialmente o grande primata mais raro e ameaçado do planeta.

Antes do desastre, estimava-se que restavam menos de 800 indivíduos na natureza. Devido a esta população extremamente reduzida, qualquer perda é considerada crítica para a viabilidade genética e sobrevivência da espécie a longo prazo.

O impacto devastador das inundações

As chuvas recentes provocaram deslizamentos de terra massivos, que rasgaram as encostas das montanhas onde estes primatas habitam.

Imagens de satélite analisadas por especialistas mostram cicatrizes enormes na paisagem, com quilómetros de floresta varridos pela lama.

O cenário tornou-se ainda mais sombrio com a descoberta do corpo de um orangotango Tapanuli, encontrado parcialmente soterrado entre destroços de madeira e lama numa aldeia local.

Esta espécie existe apenas no ecossistema de Batang Toru, numa área de floresta fragmentada e incrivelmente pequena.

Especialistas, como o biólogo Erik Meijaard, estimam que entre 6% a 11% da população total de orangotangos Tapanuli pode ter perecido no desastre. No "Bloco Oeste" do seu habitat, uma das áreas mais densamente povoadas pela espécie, teme-se que cerca de 35 indivíduos tenham sido mortos. Para uma espécie que se reproduz muito lentamente — com fêmeas a darem à luz apenas a cada 6 a 9 anos —, uma mortalidade súbita desta magnitude é, nas palavras dos cientistas, um golpe potencialmente fatal que acelera drasticamente o caminho para a extinção.

Causas humanas e ambientais

Embora as chuvas tenham sido o gatilho imediato, o desastre é exacerbado pela atividade humana. A desflorestação desenfreada para a criação de minas de ouro, plantações e projetos de infraestrutura (como uma controversa barragem hidroelétrica na região) deixou o solo instável e incapaz de absorver a água, facilitando os deslizamentos.

Além disso, a crise climática tem aumentado a frequência e intensidade das tempestades na região.

A destruição não afeta apenas os animais diretamente, mas elimina as suas fontes de alimento, como árvores frutíferas, deixando os sobreviventes vulneráveis à fome.

A tragédia em Batang Toru serve como um aviso urgente. Conservacionistas argumentam que a proteção do habitat restante do orangotango Tapanuli deve ser imediata e absoluta, exigindo a suspensão de projetos industriais na área.

Sem uma intervenção rápida para restaurar a floresta e proteger a população remanescente, o mundo corre o risco de perder um dos seus parentes biológicos mais próximos poucos anos após ter descoberto a sua existência.

Referência da notícia

https://www.bbc.com/news/articles/cj4q1l0ly7wo - BBC