Ilhas Barreira: o paraíso natural do Algarve que precisa de ser protegido
O projeto LIFE Ilhas Barreira concluiu a operação de restauro de um dos ecossistemas marinhos mais ricos em Portugal. Descubra aqui o que já se fez e o que ainda precisa de ser feito.

Cinco pequenas ilhas na costa sul do Algarve são um autêntico tesouro da biodiversidade em Portugal. Barreta (ou Deserta), Culatra, Armona, Tavira, Cabanas e as penínsulas de Ancão e Cacela são mais conhecidas por serem estâncias balneares muito populares no verão.
Protegendo a ria formosa, o sistema costeiro destas estas ilhas permitiu desenvolver um rico ecossistema lagunar que se estende pelos concelhos de Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António. Com mais de 18 mil hectares, a área está classificada como Parque Natural desde 1987, servindo de abrigo a várias espécies ameaçadas.

São os casos da gaivota-de-audouin (Larus audouinii), da andorinha-do-mar-anã (Sternula albifrons), da pardela-balear (Puffinus mauretanicus) ou de várias plantas endémicas, como a Linaria algarviana, o tomilho-cabeçudo (Thymus lotocephalus) e a alcar-do-Algarve (Tuberaria major).
As grandes ameaças ao ecossistema
Todo este rico ecossistema, todavia, enfrenta vários perigos que comprometem a sua sobrevivência: desde espécies invasoras, à pressão do turismo, passando pela erosão ou pela captura acidental nas redes de pesca, uma armadilha mortal para as aves marinhas.
Estas foram, por isso, as principais vertentes do LIFE Ilhas Barreira, projeto financiado por fundos comunitários para proteger o sistema costeiro da ria Formosa, que chegou agora ao fim.
O programa, coordenado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, em parceria com Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, e o Ecotop-MARE, da Universidade de Coimbra, esteve particularmente focado na proteção da gaivota-de-audouin, que tem nestas ilhas a maior colónia reprodutora do planeta.
A espécie está em declínio em todo o mundo, mas encontrou aqui um refúgio há mais de uma década. Inicialmente, reproduziam-se apenas na Ilha Deserta, mas em 2022 colonizaram a vizinha ilha da Culatra, onde o seu número também tem vindo a crescer desde então. É uma boa notícia, é certo, mas também acarreta novos desafios.
Controlar os roedores para salvar os ninhos
Gatos e roedores trazidos acidentalmente para as ilhas podem destruir dezenas de ninhos das aves numa única noite. Para garantir que as ilhas continuam a ser um porto de abrigo seguro para a espécie, a equipa de conservacionistas instalou armadilhas de biossegurança em pontos estratégicos, impedindo a entrada de ratos nas ilhas.
As áreas em redor das colónias da gaivota-de-audouin, mas também da chilreta (ou andorinha-do-mar-anã) foram sinalizadas com placas de aviso nas praias, alertando os banhistas para a importância de manterem a distância. Em causa estão os ninhos das duas espécies que facilmente passam despercebidos na areia.
Proteção na terra e no mar
Os especialistas também trabalharam com os pescadores para identificar as práticas que resultam todos os anos na captura acidental de milhares de aves marinhas. Ao longo de dezenas de viagens feitas nas embarcações de pesca, os investigadores conseguiram detetar os momentos mais perigosos e propor métodos alternativos para proteger as aves, apresentados à comunidade piscatória num manual de boas práticas.

A equipa do projeto também defende que deve haver um compromisso nacional para proteger a gaivota-de-audouin, não só em terra, mas também no mar. Esse foi, aliás o intuito da proposta para alargar a Zona de Proteção Especial (ZPE) da Ria Formosa até ao mar, a fim de garantir que as áreas de alimentação das aves marinhas também sejam protegidas.
O restauro das dunas cinzentas
As dunas cinzentas são outra área sensível das ilhas Barreira. O pisoteio humano e as espécies invasoras são dois grandes perigos para este sistema que protege os bancos de areia da erosão.
Para restaurar o ecossistema dunar, a equipa do projeto removeu todas as espécies de plantas invasoras da Ilha Deserta e melhorou os passadiços que agora têm também painéis informativos ao longo dos percursos, destacando as espécies valiosas da ilha.
Planear o futuro das ilhas
Estas e outras iniciativas aconteceram ao longo dos últimos cincos anos e encerraram um capítulo que culminou num período marcado pelo aumento da população de aves marinhas e pela recuperação da vegetação nativa das ilhas.
Assegurar a proteção e conservação deste ecossistema marinho a longo prazo exige, no entanto, o envolvimento contínuo de entidades locais e nacionais. Esse é o apelo que a equipa do projeto LIFE Ilhas Barreira deixa, destacando a importância de continuar os esforços para proteger os ricos habitats da ria Formosa.

Controlar a propagação das espécies invasoras, manter as áreas sensíveis protegidas da pressão turística ou monitorizar a saúde das aves, protegendo-as de surtos de doenças como a gripe aviária, são algumas das recomendações finais dos especialistas para não deixar morrer um legado natural que as gerações futuras também merecem desfrutar.
Referência da notícia
Seis anos a proteger a barreira protetora da Ria Formosa: balanço do projeto - Projeto LIFE Ilhas Barreira