Este país insular recebeu finalmente o seu primeiro multibanco
O destino é tão isolado e tão pouco visitado que só agora, em 2025, recebeu o primeiro ATM. "Foi um momento histórico."

Poucos lugares no mundo conseguem ser tão discretos como Tuvalu, um pequeno conjunto de ilhas no Pacífico, com praias de sonho, lagoas de águas cristalinas e uma paz difícil de encontrar, que quase passa despercebido nos mapas. Com menos de 12 mil habitantes e pouco mais de dois mil turistas por ano, este país insular acabou de dar um passo que, para os seus moradores, é quase tão grande como uma revolução: recebeu finalmente o seu primeiro multibanco.
"A vida dos (poucos) turistas e dos moradores de Tuvalu vai melhorar ligeiramente. Localizado entre a Austrália e o Havai, este país insular da Oceânia é um dos menos visitados e mais remotos do mundo. A pequena ilha no meio do Pacífico, antigamente denominada Ilhas Ellice, recebe pouco mais de dois mil turistas por ano, o que significa que recebe menos visitantes num ano do que Lisboa numa hora", escreve a revista 'NiT'.
"Um marco significativo"
Foi na vila de Vaiaku, onde fica a sede do Banco Nacional de Tuvalu, que a novidade chegou, no passado dia 15 de abril. Pela primeira vez, os tuvaluanos puderam deixar para trás as longas filas que se formavam sempre que era dia de receber o ordenado.
Agora, graças às cinco novas caixas automáticas, é possível levantar dinheiro sem dramas e sonhar com um futuro mais digital. Segundo contou Siose Teo, gerente do banco, à 'CNN', este é "um marco significativo" para o país, e não é difícil perceber porquê.
“Vai definitivamente quebrar as barreiras e apresentar às pessoas serviços bancários modernos e fiáveis”, afirmou (citado pelo site 'ZAP.aeiou'), Nisar Ali, da Pacific Technology Limited, que ajudou a conceber a máquina.
Tuvalu, situado algures entre a Austrália e o Havai, é composto por nove minúsculas ilhas e atóis. Por lá, até a pista do único aeroporto serve para jogos de futebol quando não há voos — e não é raro que não haja. As ligações com o resto do mundo resumem-se a poucos voos semanais vindos das ilhas Fiji, e uma viagem para lá custa sempre mais do que 500 euros.

Agora, pelo menos, — apesar do difícil acesso —, já não é preciso encher a mala com notas: com os novos ATMs e os 30 terminais de pagamento previstos para breve, os visitantes (e os locais) ganham um pouco mais de liberdade. Por enquanto, apenas cartões pré-pagos funcionam nas máquinas, mas o plano é lançar cartões de débito e crédito com aceitação internacional. Um passo pequeno no mapa, mas gigante para um país onde até pagar o ferry entre ilhas exigia dinheiro físico.
“Hoje não só marca uma ocasião importante, mas também é histórico, pois o banco entra numa era totalmente nova, não apenas em termos dos seus serviços, mas também em termos da sua direção estratégica”, reforçou.
Tuvalu está a afundar… mas já tem morada no metaverso
Ainda assim, nem tudo são boas notícias. Se a estreia do primeiro multibanco parece um passo rumo ao futuro, a verdade é que o futuro físico de Tuvalu está ameaçado.
Segundo a NASA, grande parte do arquipélago pode desaparecer sob as águas até 2050, devido à subida do nível do mar. O então ministro dos Negócios Estrangeiros, Simon Kofe, alertou o mundo para a gravidade da situação em 2021, com um discurso impactante feito com água pelos joelhos — literalmente.
Perante este cenário, Tuvalu decidiu reinventar-se: será a primeira nação digital do planeta. A ideia é criar uma réplica completa do país no metaverso, onde a sua cultura, história e território viverão para sempre, mesmo que o chão real desapareça sob as ondas.
“A nossa terra, o nosso oceano e a nossa cultura são os valores mais preciosos para o nosso povo. Para os mantermos seguros, independentemente do que aconteça no mundo físico, vamos movê-los para uma nuvem [cloud]. Vamos recriar as ilhas virtualmente e mostrar às nossas crianças e filhos o que um dia foi a nossa casa”, disse, citado pela 'SIC Notícias'.
É isso mesmo. Neste universo virtual, cada ilha será recriada com detalhe, os cidadãos poderão preservar digitalmente os seus bens mais preciosos e até a governação continuará — com passaportes digitais, eleições e referendos online. Uma nova Tuvalu na cloud, para que as futuras gerações saibam como era a sua casa antes de o mar reclamar o território.
Enquanto isso, o presente é feito de cheias cada vez mais frequentes, ciclones mais intensos e ondas de calor. Para ajudar a sua população, Tuvalu assinou um acordo com a Austrália, permitindo que 280 cidadãos por ano possam migrar e começar uma nova vida.
"Tudo aponta para que o arquipélago de Tuvalu seja a primeira nação a existir no metaverso, mas arrisca também ser a primeira a desaparecer com o aumento do nível do mar. 2050 aproxima-se a passos rápidos e o relógio continua a contar", lê-se também na 'SIC Notícias'.
A ironia é gritante: um país que mal conhecia o sistema bancário digital está agora a construir uma existência inteira no mundo virtual. Do primeiro multibanco ao primeiro Estado no metaverso — Tuvalu está a escrever a sua própria e insólita página na história do século XXI.