Condições climáticas extremas podem favorecer a invasão de espécies não nativas, podendo deixar para trás as nativas

Os eventos extremos associados às alterações climáticas podem resultar na destruição dos habitats de várias espécies nativas, dando lugar a espécies não nativas que se adaptam com facilidade.

espécie exótica
Um novo estudo revela menor sensibilidade de espécies não nativas do que das nativas a condições meteorológicas extremas em todo o mundo.

As espécies não nativas parecem resistir melhor a condições climáticas extremas, o que representa uma ameaça significativa para as plantas e animais nativos e, possivelmente, cria condições mais favoráveis para as espécies invasoras devido às alterações climáticas.

A ameaça das espécies não nativas/invasoras

As espécies invasoras introduzidas pelo homem possuem geralmente características que lhes permitem sobreviver ou mesmo prosperar quando os ecossistemas são perturbados por estabelecimentos artificiais, tempestades ou incêndios florestais.

Por exemplo, as plantas invasoras são geralmente de crescimento rápido, o que lhes permite preencher lacunas antes que as espécies nativas possam sequer recuperar de tais perturbações. São também muito boas na dispersão de sementes, o que lhes permite colonizar rapidamente áreas perturbadas, como é o exemplo do eucalipto, em Portugal.

As alterações climáticas e a invasão de espécies

Os cientistas há muito que suspeitam que as condições climáticas extremas e a propagação de espécies não nativas podem estar relacionadas. A remoção de plantas e animais nativos devido a condições climáticas extremas aumenta a disponibilidade de recursos como o espaço e a água. As espécies invasoras podem então capitalizar estes novos recursos para se estabelecerem.

Ainda mais preocupante é a possibilidade de o clima extremo interagir com espécies não nativas e agravar o seu efeito na biodiversidade nativa. A relação entre estes dois fatores de mudança global pode ameaçar plantas e animais nativos e custar aos países milhares de milhões de euros no futuro. Por este motivo, os ecologistas precisam de identificar áreas e espécies prioritárias que possam ser alvo de ações para minimizar os custos e evitar a perda de biodiversidade nativa.

Reação das espécies a condições de tempo adverso

Para obter mais informações sobre a resposta das espécies nativas e não nativas a fenómenos meteorológicos extremos, um grupo de cientistas reanalisou dados de 443 estudos revistos por pares sobre a forma como as espécies reagem a tempestades, secas e incêndios florestais. Recolheram dados sobre 187 espécies não nativas e 1.852 espécies nativas de todos os principais grupos animais.

Os investigadores deste estudo testaram a capacidade de resposta de espécies nativas e não nativas face a eventos meteorológicos extremos e concluíram que as espécies não nativas beneficiaram destas condições extremas em dobro, quando comparados os números com as espécies nativas.

Os resultados da investigação sugerem que as espécies nativas e não nativas podem responder de forma diferente a condições climáticas extremas. 24,8% das espécies não nativas beneficiaram de fenómenos meteorológicos extremos, em comparação com apenas 12,7% das espécies nativas.

A resposta das espécies não nativas vs. espécies nativas nativas

As espécies nativas dos ecossistemas de água doce e terrestres são prejudicadas pelas secas, mas as suas congéneres não nativas não reagiram de forma significativa. Também, os organismos dos ecossistemas marinhos foram mais resistentes a condições climáticas extremas, com menos diferenças entre espécies nativas e não nativas.

Os autores da investigação combinaram esta informação com os pontos críticos globais conhecidos de condições meteorológicas extremas e identificaram áreas onde as espécies nativas podem ser vulneráveis à combinação de condições meteorológicas extremas e espécies invasoras.

Descobriram que as zonas de latitudes elevadas, como o norte dos EUA e a Europa, são vulneráveis a períodos de frio extremo e possuem espécies não nativas que beneficiam dessas condições.

Por outro lado, áreas da Amazónia ocidental no Brasil e na Ásia Oriental mostraram-se vulneráveis a inundações e possuem espécies não nativas resistentes às inundações. Nestas regiões, as espécies não nativas podem beneficiar do aumento das inundações e constituir uma ameaça mais significativa para as plantas e animais nativos.

As regiões identificadas como vulneráveis podem ser alvo de medidas preventivas precoces para ajudar a biodiversidade nativa a enfrentar as alterações climáticas e impedir a propagação de espécies invasoras.

O resultado deste estudo pode também permitir uma restauração direcionada para a remoção de espécies não nativas e a criação de comunidades nativas resistentes a invasões que possam suportar melhor as condições ambientais no futuro. Estas ações são cruciais à medida que aprendemos a adaptar-nos às alterações climáticas e a uma maior mistura de plantas e animais em todo o mundo.

Referência da notícia
Gu, S., Qi, T., Rohr, J.R. et al. Meta-analysis reveals less sensitivity of non-native animals than natives to extreme weather worldwide. Nature ecology & evolution (2023).