Clima: eventos extremos podem provocar a próxima recessão económica

Segundo um estudo do economista Paul Griffin da Universidade da Califórnia, “os mercados não integram o cálculo dos riscos económicos destes eventos meteorológicos que, no futuro, devem ser mais frequentes e intensos”, podendo originar uma recessão nunca antes vista. Saiba mais aqui!

Homem de costas a observar gráfico mundial de ações.
Os mercados de energia continuam sem contar com os riscos dos eventos meteorológicos extremos quando calculam os preços dos títulos, ações, entre outros.

O risco (climático) de eventos meteorológicos extremos continua a não ser tido em conta nos mercados financeiros. À falta de uma melhor informação sobre o risco real do que a que é dada pelo preço dos ativos financeiros, o investidor médio, não pode fazer nada a não ser esperar que não ocorra uma súbita variação de preço causada por um evento meteorológico extremo, de acordo com um novo estudo da Universidade da Califórnia.

O artigo, "O financiamento da energia deve ter em conta o risco meteorológico extremo", foi publicado a 17 de fevereiro na revista Nature Energy. "Se o mercado não fizer um trabalho melhor em relação ao clima, podemos vir a presenciar uma recessão – algo como nunca vimos antes", disse o autor do artigo, Paul Griffin, professor de contabilidade da Escola de Gestão da Universidade da Califórnia.

Riscos não se refletem no preço dos títulos financeiros

A principal mensagem da sua mais recente investigação mostra que no mercado da energia há muito risco que não está refletido no preço dos títulos financeiros (ações, obrigações, entre outros). "O risco não-calculado foi a principal causa da grande recessão de 2007-2008", disse Griffin. "Neste momento, as empresas de energia assumem grande parte desse risco. O mercado tem de avaliar melhor o risco e fazer com que ele se reflita no preço dos ativos financeiros (para reduzir o risco não calculado), nomeadamente aquele que está associado à ocorrência de eventos meteorológicos extremos”, afirmou o investigador.

Por exemplo, temperaturas altas excessivas como as que houve nos Estados Unidos e na Europa no verão passado, podem ser mortíferas. Não só afetam a agricultura, prejudicam a saúde humana e o crescimento económico, como também podem sobrecarregar e ‘cortar’ vastas áreas do fornecimento de energia, como fizeram no norte da Califórnia quando a PG&E cortou o fornecimento de energia elétrica durante incêndios e condições meteorológicas que poderiam provocar incêndios.

Incêndios florestais EUA
Condições meteorológicas extremas também podem ameaçar outros serviços, como entrega e transporte de água, afetando cidades, famílias e empresas.

Condições meteorológicas extremas também podem ameaçar outros serviços tais como entrega e transporte de água, que por seu turno afeta empresas e negócios, famílias, cidades e regiões inteiras, por vezes de forma permanente. Tudo isto provoca constrangimento em economias locais e mais amplas.

Risco de eventos meteorológicos extremos é difícil de prever

Lugares vulneráveis ao clima também constituem fator de risco para os mercados da energia. Nos Estados Unidos, a refinaria do petróleo localiza-se na Costa do Golfo, uma área exposta ao aumento do nível do mar e a fortes tempestades. A refinaria petrolífera em Benicia e Richmond, no norte da Califórnia, também poderá ser ameaçadas pelas inundações costeiras.

As infraestruturas de companhias de energia estão localizadas em zonas áridas que aumentam o risco de dano, tal como a destruição originada pelos recentes incêndios florestais na Califórnia. Além disso, não é claro se os seguros vão estar disponíveis para cobrir tais riscos, especialmente se a eles, somarmos "litígio, sanções e até mesmo prejuízos económicos derivados da destruição de propriedade”.

O risco climático-meteorológico de eventos extremos, é, em suma, difícil de prever. “Enquanto que os modelos de riscos climáticos podem vir a ajudar algumas empresas e organizações a melhor perceber as futuras condições derivadas das alterações climáticas, o risco climático extremo ainda é altamente problemático do ponto de vista da estimativa do risco”, conclui Griffin no artigo.

"Isto porque com as alterações climáticas, os padrões do passado não são um guia para o futuro, seja daqui a um, cinco ou vinte anos. Os investidores podem também normalizar os impactos dos eventos meteorológicos extremos ao longo do tempo, descontando a sua importância futura”.