Ciclones no Ártico podem intensificar-se à medida que o clima aquece

Os furacões ameaçam as costas norte-americanas todos os anos, e parecem estar a intensificar-se à medida que o clima muda. Tempestades semelhantes podem atingir regiões mais frias no norte, e novas investigações sugerem que também se irão intensificar.

observações por satélite
A região do Ártico está a aquecer a um ritmo mais acelerado, quando comparado com o resto do planeta.

Nos resultados de um estudo publicado a 9 de novembro, na Nature Communications, os cientistas da NASA estimam que os ciclones da primavera do Ártico se intensificarão até ao final deste século, devido à perda de gelo marinho e ao rápido aumento das temperaturas. Estas condições conduzirão a tempestades mais fortes que transportam ar mais quente e mais humidade para o Ártico.

"Os ciclones serão muito mais fortes em termos de pressão, velocidade do vento e precipitação", afirmou a Dra. Chelsea Parker, principal autora do estudo.

"Inicialmente, as tempestades resultarão em mais neve, mas à medida que as temperaturas do ar continuam a subir e, eventualmente, ultrapassem as temperaturas geladas, estas tempestades resultarão em queda de precipitação, o que poderá ser uma mudança significativa para a quota de gelo marinho". Parker é uma cientista investigadora na Universidade de Maryland e no Centro de Voo Espacial Goddard da NASA, em Greenbelt, Maryland.

Parker frisa que estas tempestades mais intensas serão um perigo para as atividades de navegação, perfuração e extração de petróleo e gás, pesca, ecossistemas e biodiversidade do Ártico, e que por isso é que a "previsão do tempo marítimo é importante, apesar de ser ainda desafiante e difícil".

O estudo e as descobertas

Parker e os seus colegas analisaram simulações de computador de nove ciclones que atingiram o Ártico na última década. O aquecimento e a perda de gelo marinho das últimas décadas não parecem ter um efeito percetível no comportamento dessas tempestades primaveris, observou Parker.

Para melhor compreender as condições futuras, os cientistas simularam, então, um Ártico com temperaturas ainda mais quentes e menos cobertura de gelo marinho, utilizando os resultados dos Projetos de Intercomparação de Modelos Acoplados. "Quando adicionamos futuras alterações climáticas projetadas à simulação em computador", disse Parker, "vemos uma resposta efetivamente relevante dos ciclones".

A equipa descobriu que, até ao final do século, a velocidade dos ventos ciclónicos poderia aumentar até 60 km/h, dependendo das características da tempestade e das condições ambientais da região.

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Parker observou que a intensidade de pico de tais tempestades poderia ser até 30% mais longa, e que a precipitação provavelmente aumentará. Caso os ciclones comecem a trazer precipitação na primavera, o gelo do mar poderá começar a derreter mais cedo, pelo que no verão poderá não haver cobertura do mesmo.

Quais seriam os efeitos destas mudanças?

Tais mudanças permitirão que o oceano forneça mais energia à atmosfera para convecção profunda, o que aumenta o potencial de intensificação e persistência das tempestades. Tal como os furacões em latitudes baixas e médias, os ciclones árticos utilizam esta energia como combustível num motor.

Assim, estima-se que as tempestades nas próximas décadas poderão viajar mais para norte e alcançar áreas do Ártico tipicamente deixadas intocadas. As alterações climáticas poderiam, desta forma, aumentar os riscos para os ecossistemas, comunidades, e atividades comerciais e industriais do Ártico.

Veracidade dos dados e dos resultados

Com o propósito de proporcionar alguma base no mundo real para os seus modelos, Parker e os seus colegas compararam estas simulações de modelos com observações diretas de algumas tempestades do Ártico, recolhidas em 2020, pela expedição internacional MOSAiC.

Ao misturar estudos de caso de tempestades recentes com simulações climáticas de alta resolução, este novo estudo é um dos primeiros a mostrar a resposta direta dos ciclones às alterações climáticas recentes e futuras.

As observações do espaço e do solo mostraram que o Ártico está a aquecer quase quatro vezes mais depressa do que o resto do planeta. Os cientistas precisam de mais detalhes sobre os ciclones desta região para formar previsões mais precisas de como as tempestades influenciarão o gelo marinho que já está em declínio, bem como para perceber de que forma a perda de gelo irá afetar a intensidade da tempestade.

A obtenção de uma melhor compreensão dessas interações ajudará os cientistas a estudar como o rápido aquecimento irá afetar o planeta.