O gelo do mar Ártico não está a congelar como seria suposto!

A temporada do degelo do mar Ártico geralmente acontece entre março e setembro. Após atingir a extensão mínima, em setembro, o gelo marinho começa a crescer novamente, em outubro, quando termina o verão. Mas este ano, o crescimento está bem mais lento que no ano passado. Saiba mais aqui!

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A anomalia da extensão do gelo em 2020 continua a aumentar, enquanto que, nos anos anteriores a anomalia começou a diminuir, por esta altura.

O ciclo sazonal do gelo marinho do Ártico explica a mudança na extensão do mesmo ao longo de um ano. A época do degelo geralmente começa em março, a partir do momento em que a extensão do pico do gelo é atingida, e dura até setembro. Os dados dos últimos anos, mostram que a extensão de gelo do Ártico em 2020 foi a segunda mais baixa, atrás apenas de 2012, que ainda detém o recorde de extensão de gelo mais baixa, desde o início das medições.

Contudo, ao comparar os dados de 2012 e 2020, é possível ver que este ano também estamos a estabelecer um novo recorde, já que o gelo do mar Ártico não está a recuperar como esperado. O gelo marinho está a congelar, mas a um ritmo muito mais lento do que o normal, sendo que para alguns locais, isto pode trazer consequências graves.

Isto é ainda mais evidente quando olhamos para a comparação de todos os anos, desde que as observações dos satélites ativos começaram em 1979. Este ano foi observada a segunda menor extensão de gelo marinho do Ártico já registada. Mas, devido ao crescimento anormalmente baixo do gelo, em outubro, a extensão do gelo atual é a mais baixa, em relação a qualquer outubro dos últimos 41 anos.

Os dados

Os dados do National Snow and Ice Data Center (NSIDC) mostram a concentração atual de gelo e a extensão média/normal de longo prazo, revelando desta forma um enorme défice de gelo, nesta altura do ano.

A reconstrução do gelo começou em meados de setembro, mas a taxa foi bastante fraca e não está a aumentar com o tempo. Neste momento, é esperado que o crescimento diário aumente lentamente ao longo do tempo, pois, para já, está muito fraco ou nulo, em alguns sítios. As imagens disponibilizadas pelo NSIDC mostram o crescimento de outubro em comparação com os anos anteriores, onde 2020 está muito atrás do que era suposto.

O que está por trás deste evento incomum?

A região do Ártico é, na verdade, inteiramente um oceano e não tem massa de terra em grande escala. É o menor e o mais raso dos cinco oceanos do mundo e, também, o mais frio. É, ainda, o único oceano menor que o maior país do mundo em área, a Rússia.

Atualmente, há uma anomalia da temperatura na superfície do oceano. Esta está acima do normal em todo o manto de gelo do Ártico. Anomalias de mais de 2/3 graus Celsius podem ser encontradas em 3 regiões oceânicas – no mar de Kara, no mar da Sibéria e no mar de Laptev.

Para além de outros fatores, como a salinidade, a temperatura elevada é o principal motivo pela qual a formação de gelo está a decorrer a um ritmo diminuto.

Em comparação com esta época do ano passado, o lado Atlântico está mais frio, porém, o Oceano Ártico oriental está muito mais quente. Em condições normais, quase todo o oceano Ártico deveria estar igual ou abaixo do ponto de congelamento (-0°C) até ao final de outubro.