Arrábida já era um tesouro nacional, mas agora também é Reserva da Biosfera da UNESCO

A biodiversidade da fauna e flora, conjugada com as atividades humanas, que vão da pesca artesanal ao cultivo do arroz ou da azeitona, justificam a classificação atribuída pelo programa Man and the Biosphere.

Arrábida virada para a costa atlântica
Dos mais de 20 mil hectares incluídos na Reserva da Biosfera, quase três mil hectares são áreas marinhas. Foto: Associação de Municípios da Região de Setúbal

Há uma imensidão de motivos para valorizar a Arrábida. Matagais mediterrânicos e florestas de pinheiros-bravos virados para a Costa Atlântica. Grutas que já foram habitadas no Paleolítico. Pradarias de ervas marinhas, recifes rochosos, golfinhos do sado, morcegos-de-peluche, lagartos-de-água ou o Xeroplexa arrabidensis, espécie de caracol que não existe em mais nenhum lugar do planeta e se encontra na lista vermelha do IUCN.

É uma somente amostra do que esconde este misterioso lugar que se formou há mais de sete milhões de anos após a colisão das placas Africana e Euro-Asiática.

Encaixado entre os municípios de Setúbal e Sesimbra, o seu valor há muito que é reconhecido pelos conservacionistas. Mas, agora, foi também distinguido pela UNESCO como Reserva da Biosfera.

Gruta na Serra da Arrábida
A Serra da Arrábida é uma das raras zonas cársicas de Portugal, um tipo de paisagem de rochas calcárias onde a água da chuva dissolve o calcário, formando grutas e sistemas de drenagem subterrânea. Foto: Associação de Municípios da Região de Setúbal

Com cerca de 35 quilómetros e um total de 20.152 mil hectares, dos quais 2956 hectares em área marinha, a Reserva da Biosfera da Arrábida abrange os municípios de Palmela, Sesimbra e Setúbal, estendendo-se da vila de Palmela ao Cabo Espichel.

A biodiversidade em primeiro plano

A Arrábida passou a ser a 13ª reserva de Portugal, juntando-se a uma rede mundial de 785 áreas naturais como Galápagos, no Equador, Serengueti, na Tanzânia, Yellowstone, nos Estados Unidos ou, aqui mais perto, as Canárias, em Espanha.

A sua biodiversidade é o que mais se destacou para o comité consultivo que avaliou a candidatura de Portugal. A região abriga mais de 1400 espécies vegetais, 70 das quais raras e endémicas. Ou seja, cerca de 40% da diversidade da flora nacional está nesta área com pouco mais de 170 km2.

A candidatura da Arrábida foi submetida em junho de 2024 pela Associação de Municípios da Região de Setúbal. A classificação foi atribuída no dia 27 de setembro de 2025, pelo Conselho Coordenador Internacional do programa Man and the Biosphere

A fauna conta com mais de 200 espécies de vertebrados e mais de duas mil espécies marinhas. Nestas paisagens de terrenos acidentados formados a partir de rochas calcárias, dolomíticas e dendríticas, os animais como ginetas, lebres, aves de rapina, anfíbios, repteis, texugos ou raposas encontraram aqui o seu habitat.

O legado humano deixado na natureza

A vida selvagem não é o único trunfo da Arrábida e a UNESCO também valorizou as atividades humanas como a pesca artesanal, o cultivo da azeitona, a produção de Moscatel de Setúbal ou as práticas de ecoturismo.

Pesca artesanal na Arrábida
A pesca artesanal, a apanha de espécies bentônicas como a poliqueta, a aquacultura de peixe e de bivalves, como a ostras, são atividades com grande valor na região. Foto: Foto: Associação de Municípios da Região de Setúbal

No domínio agrícola, a cultura do arroz, ocupando mais de 2500 hectares, na reserva natural, mereceu especial atenção. Como zonas húmidas que são, assumem grande importância enquanto fontes de alimentação para algumas espécies de aves aquáticas.

A exploração florestal do tipo montado, muitas vezes associado a sobreiros e pinheiros mansos, é uma outra referência na Arrábida devido à exploração sustentável da cortiça e do pinhão.

As reservas portuguesas

Com a classificação da Arrábida, Portugal tem agora 12% do território nacional reconhecido como Reserva da Biosfera pela UNESCO. Quatro delas estão nos Açores (Ilhas do Corvo, Graciosa, São Jorge e Flores) e duas na Madeira (Ilhas da Madeira e Porto Santo).

A rede mundial de reservas de Biosfera corresponde a 3,5 por cento da área total do planeta. Espanha é o país com mais Reservas da Biosfera, com 55, seguido pela Rússia, com 48, e os Estados Unidos, com 42.

As restantes estão no Continente. São elas Paul do Boquilobo, em Torres Novas, que foi a primeira a ser reconhecida em 1981 e ainda Berlengas, Castro Verde e agora a Arrábida. As reservas Transfronteiriça Gerês – Xurés, Meseta Ibérica e Tejo Internacional são partilhadas com Espanha.

Referência da notícia

Arrábida. Reserva da Biosfera da Unesco. Associação de Municípios da Região de Setúbal