A implacável Crise Climática

A pandemia do Covid-19 pode ter dominado as notícias de todo o mundo e reduzido temporariamente as emissões, no entanto o ano de 2020 também demonstrou o impacto cada vez mais evidente do aquecimento global impulsionado pelo Homem.

Pinguins na Antártida
Pinguins perto da base de investigação argentina Esperanza, onde a temperatura mais quente de todos os tempos na Antártida foi registada a 6 de fevereiro de 2020.

De acordo com o mais recente relatório da Organização Mundial de Meteorologia houve uma intensificação da crise climática em 2020.

A pandemia do Coronavírus tornou os impactos acelerados do aquecimento global ainda piores para milhões de pessoas, pois a queda temporária nas emissões de carbono devido aos bloqueios não teve impacto percetível nas concentrações atmosféricas de gases com efeito de estufa.

O ano de 2020 quebrou uma série de recordes climáticos indesejáveis, mesmo com a presença do fenómeno La Niña que levou ao arrefecimento das águas no Pacífico equatorial, pois sem esta influência este ano certamente teria sido o ano mais quente até agora, sendo a década 2011-2020 a mais quente já registada.

Novembro foi o mês mais quente da história, seguindo-se os meses de janeiro, maio, setembro. Os valores mais elevados de todos os tempos foram registados na Antártida e no Ártico, contudo os eventos climáticos extremos quebraram recordes por todo o mundo, desde furações e ciclones nos EUA e na Índia, ondas de calor na Austrália e no Ártico, inundações em África e Ásia e incêndios florestais nos EUA.

Em termos climáticos, a tendência a longo prazo é mais importante do que os registos individuais mas, é o último que afeta diretamente a vida da população e os meios de subsistência. O calor, a seca, os incêndios ou as tempestades incomuns podem ser causados por variação natural, fatores locais ou emissões industriais, no entanto os cientistas estão cada vez mais capazes de identificar que os eventos climáticos extremos são mais frequentes e intensos à medida que os gases do efeito estufa se acumulam na atmosfera.

Segundo Petteri Taalas, secretário-geral da OMM afirma que "todas as informações importantes sobre clima e impactos neste relatório destacam a mudança climática implacável e contínua, uma ocorrência e intensificação cada vez maior de eventos extremos e perdas e danos graves que afetam pessoas, sociedades e economias.".

Enchentes no rio Nzoia
Os residentes reúnem-se num local seguro com os seus pertences depois do rio Nzoia ter galgado as margens no condado de Busia, no Quénia. Fonte: The Guardian

2021 é o ano da ação

O relatório da OMM sobre o estado do clima chega pouco antes de uma cúpula de líderes globais, convocada pelo presidente dos EUA, Joe Biden, e enquanto o Reino Unido se prepara para sediar a crucial cúpula do clima da COP26 da ONU em novembro, na qual deve ser decidida uma ação urgente, para manter o aumento da temperatura global bem abaixo de 2 °C e 1,5 °C, se possível. Em 2020, a temperatura estava 1,2 °C acima dos níveis pré-industriais.

"Este ano é o ano de ação!", afirmou António Guterres na apresentação do relatório anual da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

O clima está a mudar e os impactos económicos associados já são custosos para as pessoas e para o planeta. Os países precisam de apresentar planos ambiciosos para reduzir as emissões globais em 45% até 2030.

Por sua vez, a forma como conduzimos os assuntos humanos está a desestabilizar o sistema climático, com consequências imprevisíveis e cada vez mais terríveis. É hora da ação para harmonizar a crise climática.