Como o design urbano afeta a sua saúde: o impacto de caminhar pela cidade no nosso bem-estar

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Estudos mostram que caminhar a um ritmo rápido não só melhora a saúde cardiovascular, como também pode aumentar a criatividade

O estudo apresenta uma análise de grande escala que relaciona a caminhabilidade do ambiente urbano com os níveis de atividade física da população. Baseando-se em dados de 2,1 milhões de utilizadores de smartphone nos EUA, os autores focaram-se em 5.424 pessoas que se mudaram entre 1.609 cidades, totalizando 7.447 relocalizações num período de 3 anos. A recolha de dados foi feita através da aplicação Azumio Argus, que regista automaticamente passos e localização.

O desenho do estudo permitiu comparar, para cada indivíduo, a atividade física antes e depois da mudança, constituindo um “experimento natural” em que a variação na caminhabilidade do destino foi o fator principal. Foi utilizada a métrica Walk Score (0–100), baseada na proximidade de serviços e infraestrutura pedonal.

Os resultados mostram que mudar para cidades mais caminháveis (diferença ≥ 49 pontos) aumenta em média 1.100 passos diários (~11 minutos de caminhada), enquanto mudar para locais menos caminháveis provoca uma redução equivalente. O efeito foi simétrico, consistente em diferentes estações do ano, climas e níveis de rendimento, e manteve-se por pelo menos 3 meses após a mudança.

Aumento da caminhabilidade beneficia praticamente todas as faixas etárias, géneros, níveis de atividade e categorias de IMC

A análise de subgrupos revelou que o aumento da caminhabilidade beneficia praticamente todas as faixas etárias, géneros, níveis de atividade e categorias de IMC, exceto mulheres com mais de 50 anos, cujo ganho não foi estatisticamente significativo — possivelmente devido a barreiras culturais, funcionais e de mobilidade.

Os passos adicionais correspondiam maioritariamente a atividade física moderada a vigorosa (MVPA), associada a benefícios importantes para a saúde. Para grandes aumentos de caminhabilidade, observou-se um acréscimo de cerca de 1 hora de MVPA por semana, duplicando a proporção de indivíduos que atingiam as recomendações nacionais e internacionais de 150 minutos de MVPA por semana (de 21,5% para 42,5%).

Caminhar ativa o “GPS interno” – O nosso cérebro, especialmente o hipocampo, trabalha ativamente durante a caminhada para mapear o espaço à nossa volta. Isto ajuda na memória espacial e pode até atrasar o declínio cognitivo.

Os autores também realizaram simulações: se todas as cidades dos EUA atingissem a caminhabilidade de Chicago/Filadélfia (78 pontos), mais 36 milhões de americanos cumpririam as diretrizes de atividade física; se atingissem o nível de Nova Iorque (89 pontos), o número subiria para 47 milhões. Estes efeitos foram considerados independentes de “autoseleção residencial” (isto é, pessoas mudarem-se por já preferirem andar a pé), pois não houve aumentos de atividade quando a caminhabilidade do destino era semelhante à da origem.

Apesar de limitações como possível viés socioeconómico na amostra e impossibilidade de identificar quais componentes específicas da caminhabilidade têm mais impacto, o estudo oferece evidência robusta e longitudinal de que ambientes urbanos mais caminháveis promovem aumentos significativos e sustentados na atividade física.

Políticas de planeamento urbano que promovam caminhabilidade podem ter impacto em larga escala na saúde pública

Os autores defendem que políticas de planeamento urbano que aumentem a caminhabilidade podem ter impacto em larga escala na saúde pública, devendo ser complementadas com intervenções específicas para grupos menos responsivos, como mulheres mais velhas.

Referência da notícia

Althoff, T., Ivanovic, B., King, A.C. et al. Countrywide natural experiment links built environment to physical activity. Nature (2025). https://doi.org/10.1038/s41586-025-09321-3