Vai nevar na Semana da Páscoa em Portugal? Em breve o ar polar poderá deixar neve em todas estas regiões

Em menos de 48 horas ocorrerá uma mudança radical do tempo em Portugal continental. Uma massa de ar polar vai invadir o território nacional, provocando uma descida extraordinária das temperaturas e uma queda de neve significativa nalgumas regiões.

neve Páscoa
A partir de segunda-feira (25) prevê-se neve em várias serras e povoações do Norte e Centro, não estando totalmente descartada a possibilidade de queda de neve no Sul.

Nas últimas horas Portugal tem estado sob influência de um panorama meteorológico muito interessante. Ao passo que o Arquipélago da Madeira vai lidando com o comportamento errático de uma gota fria que em certos momentos desta reta final da semana tem vindo a produzir aguaceiros (por vezes de lama), trovoada e granizo, o Continente regista temperaturas diurnas muito elevadas e acima da média, com noites a fazer lembrar o verão e poeiras do Saara.

Mudança radical do tempo após o Domingo de Ramos

Como temos vindo a alertar na Meteored, o estado do tempo irá sofrer uma mudança drástica em menos de 48 horas, o que coincidirá com a fase inicial da Semana da Páscoa. A gota fria aproximar-se-á novamente da Região Sul de Portugal continental, sendo reabsorvida pela corrente de jato polar, enquanto uma nova bolsa de ar frio (ar polar marítimo) descerá das latitudes setentrionais, provocando uma viragem dos ventos que passarão a soprar de noroeste e estimulando a chegada do ar polar.

Apesar das mudanças bruscas de tempo serem comuns na primavera, esta será particularmente forte, dado que em poucas horas muitas regiões passarão de uma situação típica de final de maio-início de junho para uma mais típica de fevereiro.

Na verdade, o modelo de confiança da Meteored (ECMWF) prevê neve em várias zonas de montanha e algumas povoações do Norte e Centro de Portugal continental na primeira metade da Semana Santa 2024. Não está excluída a hipótese de ser registada neve em áreas de montanha do Alentejo ou até mesmo no Algarve, ainda que, caso tal aconteça, seja sob a forma de neve granular ou então granizo.

Na segunda-feira (25) deverá chover em quase todas as regiões de Portugal continental, com períodos de chuva ou aguaceiros, localmente fortes e potencialmente acompanhados de trovoada e granizo.

Nas serras da Região Norte prevê-se queda de neve ao final da tarde em cotas altas, descendo nas últimas horas do dia para cotas médias/baixas (600-900 metros de altitude) graças à chegada do ar polar. Na Cordilheira Central - onde se situa a Serra da Estrela e outras montanhas - a neve cairá a partir da tarde nos pontos de maior altitude, descendo gradualmente a cota para os 700/800 metros nas últimas horas do dia.

Na Terça-feira Santa prevê-se intensificação da queda de neve e um autêntico ambiente de inverno

Prevê-se que terça-feira (26) seja o dia mais complexo deste episódio de frio e queda de neve uma vez que o ar polar estender-se-á sobre a Península Ibérica, de oeste para leste, com a bolsa de ar polar marítimo a percorrer Portugal continental a grande altitude, com temperaturas até -30 ou -32 ºC a cerca de 5300 metros de altitude, o que favorecerá a formação de trovoadas, ou hidrometeoros como a neve granular e o granizo.

Além disto, espera-se uma nova descida das temperaturas, tanto das máximas, como das mínimas.

O nosso mapa de temperatura a 500 hPa mostra como na terça-feira (26) se registará o "pico" deste episódio de frio e queda de neve. Temperaturas de -32 ºC a cerca de 5300 metros de altitude que coincide exatamente com a passagem da bolsa que contém ar frio de origem polar marítima.

Estão previstos períodos de chuva ou aguaceiros durante todo o dia, mas serão mais prováveis, frequentes e generalizados a partir do início da tarde. A precipitação será de neve acima dos 600 metros de altitude nas serras e povoações do Norte e do Centro, podendo inclusive nevar na Região Sul, em zonas pouco habituais, como a Serra de Monchique (Fóia), embora o mais provável seja a precipitação assumir a forma de granizo ou neve granular.

A mudança de tempo será muito brusca e ocorrerá em poucas horas. Na Meteored alertamos para que tenha muita cautela com as expectativas para neve a cotas mais baixas ou em zonas pouco habituais, pois ainda estamos a cerca de 72 horas da principal fase do episódio de frio e neve e, tratando-se de um elemento do clima tão caprichoso, a previsão pode sofrer alterações drásticas. Mesmo assim, surpresas podem acontecer, especialmente estando perante a passagem de uma bolsa de ar muito frio a grande altitude.

Neste dia, a neve poderá cair de forma significativa nas serras do PNPG (Peneda, Soajo, Amarela, Gerês), nas Terras de Barroso (Montalegre, Boticas, Serra do Larouco, entre outras), no eixo montanhoso Alvão-Marão-Montemuro, em boa parte das mais importantes serras e povoações do Nordeste Transmontano, na Cordilheira Central (Serras de Açor, Lousã e Estrela), e outras zonas da Região Centro.

A neve não cairá somente nas montanhas, podendo mesmo trazer problemas de circulação rodoviária ou interromper eventuais celebrações e procissões religiosas da Semana da Páscoa nalguns locais.

Na Quarta-feira Santa ocorrerá uma subida gradual da cota e haverá riscos associados ao derretimento da neve

Na quarta-feira (27), apesar da previsão de subida das temperaturas, em particular das mínimas, ainda ocorrerá alguma queda de neve, mais provável a partir dos 1000 metros de altitude em zonas de montanha do Norte e Centro. O manto de neve terá tendência a diminuir nas horas e dias seguintes graças à chegada do ar ameno subtropical e à chuva.

neve acumulada Portugal
Este episódio de queda de neve não deverá ser tão impactante como o de há algumas semanas no que diz respeito à acumulação.

Este episódio de frio e queda de neve não será tão impactante como o nevão que ocorreu há duas semanas atrás e que foi considerado o maior dos últimos 6 anos. Mesmo assim, à data de hoje, o modelo Europeu antecipa acumulações ligeiramente superiores a 10 cm nas zonas que mais neve irão acumular (serras do PNPG, Terras de Barroso e Cordilheira Central), com as restantes a registarem entre 2 e 10 cm.

Todavia, a maior ou menor quantidade de neve que venha a ser registada dependerá, em grande medida, da evolução da trajetória da bolsa de ar frio e da posição final dos diferentes centros de baixas pressões à superfície. Ainda assim, o cenário por nós traçado é o mais provável.

Como já foi referido acima, grande parte do manto de neve derreterá nas cotas médias e baixas devido à chegada dos ventos ábregos - quentes e húmidos de Sudoeste - que se imporão em Portugal continental logo a partir da Quarta-feira Santa (27).

Ao longo da jornada de Quarta-feira Santa (27) ocorrerá então uma subida acentuada das temperaturas, bem como chuva abundante de norte a sul do território do Continente.

O derretimento da neve constituirá um risco de transbordamento de rios devido ao facto de muitos deles já possuírem caudais volumosos. Também poderão ocorrer inundações localizadas e em zonas historicamente vulneráveis a este tipo de ocorrências. A neve ficará restrita às cotas mais altas.