Precipitação acumulada até 50 mm no noroeste de Portugal na segunda-feira, antes do regresso do bom tempo na terça-feira

Portugal entra nos últimos dias de novembro sem qualquer tempestade prevista, apesar de alguma chuva pontual. Na segunda-feira, 24 de novembro, uma frente ativa vai trazer chuva e vento mais forte, à qual se segue uma semana sem precipitação. Em altitude, porém, a atmosfera está tudo menos calma.
Depois de um período com chuva intensa e sucessivas depressões, o padrão atmosférico sobre Portugal Continental estabilizou. O anticiclone voltou a afirmar-se, garantindo vários dias com céu pouco nublado, noites frias e dias com temperaturas abaixo ou dentro da média para a época.
Ainda assim, esta estabilidade não é sinónimo de tempo totalmente seco. Entre este domingo e segunda-feira (23 e 24 de novembro) uma frente associada a uma depressão centrada perto das Ilhas Britânicas atravessa o território, trazendo de novo chuva e vento mais significativo, sobretudo no Norte e Centro.
De forma geral, o cenário mantém-se longe de qualquer temporal organizado ou de uma nova tempestade com nome.
Segunda-feira pautada por frente ativa, chuva e vento de outono, mas terça pode dissipar-se a frente
Na segunda-feira, a passagem de uma frente fria bem definida deverá marcar o dia em grande parte do país. A precipitação começa de madrugada no Minho e Douro Litoral, estendendo-se depois ao restante território do Norte e Centro. Os valores acumulados poderão ser mais expressivos nas encostas expostas ao fluxo de oeste/noroeste, com alguns locais a ultrapassar facilmente os 20–30 mm em poucas horas.

Ao longo da tarde, a frente desloca-se em direção ao Centro e Sul, chegando à região de Lisboa, Vale do Tejo e Alto Alentejo já com menos energia, mas ainda com períodos de chuva moderada. No Baixo Alentejo e Algarve a precipitação deverá ser mais fraca e irregular, podendo mesmo passar quase despercebida em alguns concelhos.
O vento soprará moderado a pontualmente forte de oeste, com rajadas em geral entre 50 e 60 km/h nas terras baixas e valores que podem aproximar-se dos 70–75 km/h nas terras altas e áreas mais expostas do litoral. São valores típicos de um dia de outono com frente ativa, longe do que se observa em situações de tempestade severa.
As temperaturas mínimas sobem ligeiramente face aos dias anteriores, devido à maior nebulosidade. As máximas mantêm-se contidas, em torno dos 10–15 ºC no Interior e 15–19 ºC na faixa litoral, com sensação térmica algo desconfortável pela combinação de vento, humidade elevada e céu carregado. Em algumas áreas territoriais, como na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês, as temperaturas podem não ultrapassar os 8 ºC.
Espera-se que a depressão se comece a dissipar a partir das últimas horas do dia e primeiras da madrugada de terça-feira, dando lugar a uma semana seca e soalheira. As temperaturas máximas situar-se-ão, nesse dia, entre os 8 ºC na Guarda e os 18 ºC em Lisboa.
Lá em cima, a história é outra: aquecimento súbito da estratosfera e possíveis impactos
Enquanto o tempo à superfície alterna entre dias soalheiros e frentes passageiras, na alta atmosfera vive-se um episódio bem mais invulgar. Observa-se um aquecimento súbito da estratosfera, isto é, um aumento rápido da temperatura a dezenas de quilómetros de altitude na região do vórtice polar.
Em condições normais, este vórtice funciona como um grande ciclone estratosférico que mantém o ar muito frio “preso” nas altas latitudes, com ventos fortes a soprar de oeste para leste. Quando ocorre um aquecimento súbito, essa estrutura pode enfraquecer, deformar-se ou até dividir-se em dois núcleos distintos. Esse processo tende a tornar a corrente de jato mais ondulada, favorecendo bloqueios atmosféricos e trajetórias de depressões menos “organizadas”.
Se o acoplamento estratosfera–troposfera for efetivo, poderemos assistir, na segunda semana de dezembro e seguintes, à instalação de bloqueios em latitudes mais altas, com depressões a circular mais a sul, mais perto da Península Ibérica.
Esse tipo de configuração aumenta a probabilidade de períodos com chuva persistente, vento forte e episódios de neve mais significativos em altitude.
Neste momento, espera-se a preponderância das situações com altas pressões às nossas latitudes, com ausência de precipitação e bom tempo, embora esta situação pode modificar-se nas próximas semanas.

No curtíssimo prazo, até ao fim de novembro e início de dezembro, o cenário é de normalidade. Teremos um anticiclone dominante, intercalado com a passagem de frentes que trazem chuva e vento de intensidade moderada, como a de segunda-feira, 24 de novembro. Nada indica, nesta fase, a formação de uma nova tempestade relevante sobre Portugal.
A médio prazo, porém, o comportamento da estratosfera deixa em aberto a hipótese de um inverno com sucessão de extremos, seja por excesso de chuva e vento em determinadas fases, seja pela persistência de tempo seco noutras. É um daqueles casos em que a prudência manda acompanhar de perto, semana a semana, a evolução dos modelos e do vórtice polar.