Portugal integra o Comité dos Furacões da Organização Mundial de Meteorologia

A admissão surge na sequência de um pedido do Instituto Português do Mar e da Atmosfera e é encarada como medida estratégica para reforçar a segurança nacional.

Furacão visto do espaço e satélite meteorológico
Portugal não está na região de formação dos furacões, mas as alterações climáticas poderão alterar essa dinâmica. Foto: Vicki Hamilton/Pixabay

O mês de agosto marca a entrada de Portugal no Comité dos Furacões. A decisão da Organização Mundial de Meteorologia surge após o pedido do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e irá permitir ao país aceder diretamente às deliberações deste organismo que coordena a monitorização e resposta a ciclones tropicais na região do Atlântico Norte.

Espera-se que a adesão oficial possa contribuir para Portugal fortalecer as capacidades nacionais na preparação e na resposta a fenómenos desta natureza, bem como tirar partido da cooperação internacional.

Embora Portugal não esteja geograficamente incluído na região de formação de furacões, o IPMA relembra que as dinâmicas dos sistemas tropicais no Atlântico fazem com que esteja exposto a este tipo de fenómenos.

A Região IV, a área de atuação do comité, inclui países como Canadá, Estados Unidos, França, Reino Unido, Holanda, Espanha e ainda os estados da América Central e Caraíbas.

O contributo nacional na vigilância do Atlântico

Portugal poderá agora beneficiar de programas de formação e de capacitação técnica, mas também contribuir com conhecimento científico e recursos tecnológicos.

Entre as ferramentas destacadas, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera enfatiza a rede de observação meteorológica dos Açores, recentemente reforçada com novos radares.

Inaugurados em março deste ano, os radares meteorológicos das Flores, de São Miguel e da Terceira poderão agora complementar os sistemas de deteção e acompanhamento já existentes no Atlântico Norte.

inauguração de satélite meteorológico da ilha das Flores, Açores
O radar meteorológico da ilha das Flores, inaugurado em março deste ano, pertence à nova geração de tecnologias avançadas que irá monitorizar eventos extremos nas águas do Atlântico. Foto: Governo Regional dos Açores

A entrada no comité da Organização Mundial de Meteorologia, segundo o IPMA, reforça a eficácia global do sistema de alerta e resposta a furacões, colocando o país numa posição de maior responsabilidade no acompanhamento de tempestades tropicais que afetem o espaço europeu e a Macaronésia.

A migração dos ciclones tropicais

As condições específicas para os furacões ocorrerem não costumam existir nas águas nacionais. A temperatura da água, geralmente superior a 26-27 graus Celsius é um fator crítico para a sua formação.

O cisalhamento do vento alto (diferença de velocidade ou direção do vento a diferentes altitudes) exerce, do mesmo modo, uma influência determinante. Estas particularidades não estão, por norma, presentes no Mediterrâneo nem nas regiões próximas da costa da Europa.

Mas fatores como o aquecimento dos oceanos e o fenómeno “La Niña” estão a criar ambientes propícios para a formação de ciclones mais intensos e duradouros.

Quando um ciclone ocorre no Oceano Atlântico ou no Pacífico Leste é chamado de furacão. No Pacífico Noroeste passa a designar-se de Tufão, enquanto em outras regiões dos oceanos Índico e Pacífico, o termo usado é ciclone tropical ou, dependendo da intensidade, tempestade ciclónica severa.

Os climatologistas alertam para a crescente formação de ciclones tropicais nas proximidades da costa europeia, associando o fenómeno às alterações climáticas.

Lisboa, Tóquio ou Nova Iorque na rota dos tufões

O aquecimento global, segundo os especialistas, está a aumentar a possibilidade destes fenómenos vir a afetar regiões como a Península Ibérica, o sul das Ilhas Britânicas, as Canárias, os Açores ou a Madeira.

Um estudo conduzido na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e publicado na revista Nature Geoscience, sugere inclusive que a expansão de furacões e tufões para latitudes médias do globo pode ser uma realidade já durante este século.

Furação na Flórida
As emissões de gases de efeito de estufa são apontadas como uma das principais razões para alterar as dinâmicas dos sistemas tropicais. Foto: Pixabay

Cidades como Nova Iorque, Pequim, Tóquio e Lisboa estão, de acordo com a investigação, na rota de migração dos ciclones tropicais. O motivo, segundo os cientistas, é resultado da forma como o planeta está a aquecer na sequência das emissões de gases de efeito estufa, colocando os furacões e tufões a deslocarem-se para norte e para sul nos respetivos hemisférios.

As dinâmicas dos sistemas tropicais têm vindo a alterar-se e essa é a razão apontada pelo IPMA para integrar agora o Comité dos Furacões da Organização Mundial de Meteorologia.

Referências da notícia

Portugal no Comité de Furacões - Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Joshua Studholme, Alexey V. Fedorov, Sergey K. Gulev, Kerry Emanuel & Kevin Hodges. Joshua Studholme, Alexey V. Fedorov, Sergey K. Gulev, Kerry Emanuel & Kevin Hodges. Poleward expansion of tropical cyclone latitudes in warming climates. Nature Geoscience

Juan J. González-Alemán, Salvatore Pascale, Jesús Gutierrez-Fernandez, Hiroyuki Murakami, Miguel A. Gaertner, Gabriel A. Vecchi. Potential Increase in Hazard From Mediterranean Hurricane Activity With Global Warming. Advanced Earth and Space Sciences