Portugal integra o Comité dos Furacões da Organização Mundial de Meteorologia
A admissão surge na sequência de um pedido do Instituto Português do Mar e da Atmosfera e é encarada como medida estratégica para reforçar a segurança nacional.

O mês de agosto marca a entrada de Portugal no Comité dos Furacões. A decisão da Organização Mundial de Meteorologia surge após o pedido do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e irá permitir ao país aceder diretamente às deliberações deste organismo que coordena a monitorização e resposta a ciclones tropicais na região do Atlântico Norte.
Espera-se que a adesão oficial possa contribuir para Portugal fortalecer as capacidades nacionais na preparação e na resposta a fenómenos desta natureza, bem como tirar partido da cooperação internacional.
A Região IV, a área de atuação do comité, inclui países como Canadá, Estados Unidos, França, Reino Unido, Holanda, Espanha e ainda os estados da América Central e Caraíbas.
O contributo nacional na vigilância do Atlântico
Portugal poderá agora beneficiar de programas de formação e de capacitação técnica, mas também contribuir com conhecimento científico e recursos tecnológicos.
Entre as ferramentas destacadas, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera enfatiza a rede de observação meteorológica dos Açores, recentemente reforçada com novos radares.
Inaugurados em março deste ano, os radares meteorológicos das Flores, de São Miguel e da Terceira poderão agora complementar os sistemas de deteção e acompanhamento já existentes no Atlântico Norte.

A entrada no comité da Organização Mundial de Meteorologia, segundo o IPMA, reforça a eficácia global do sistema de alerta e resposta a furacões, colocando o país numa posição de maior responsabilidade no acompanhamento de tempestades tropicais que afetem o espaço europeu e a Macaronésia.
A migração dos ciclones tropicais
As condições específicas para os furacões ocorrerem não costumam existir nas águas nacionais. A temperatura da água, geralmente superior a 26-27 graus Celsius é um fator crítico para a sua formação.
O cisalhamento do vento alto (diferença de velocidade ou direção do vento a diferentes altitudes) exerce, do mesmo modo, uma influência determinante. Estas particularidades não estão, por norma, presentes no Mediterrâneo nem nas regiões próximas da costa da Europa.
Mas fatores como o aquecimento dos oceanos e o fenómeno “La Niña” estão a criar ambientes propícios para a formação de ciclones mais intensos e duradouros.
Os climatologistas alertam para a crescente formação de ciclones tropicais nas proximidades da costa europeia, associando o fenómeno às alterações climáticas.
Lisboa, Tóquio ou Nova Iorque na rota dos tufões
O aquecimento global, segundo os especialistas, está a aumentar a possibilidade destes fenómenos vir a afetar regiões como a Península Ibérica, o sul das Ilhas Britânicas, as Canárias, os Açores ou a Madeira.
Um estudo conduzido na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e publicado na revista Nature Geoscience, sugere inclusive que a expansão de furacões e tufões para latitudes médias do globo pode ser uma realidade já durante este século.

Cidades como Nova Iorque, Pequim, Tóquio e Lisboa estão, de acordo com a investigação, na rota de migração dos ciclones tropicais. O motivo, segundo os cientistas, é resultado da forma como o planeta está a aquecer na sequência das emissões de gases de efeito estufa, colocando os furacões e tufões a deslocarem-se para norte e para sul nos respetivos hemisférios.
As dinâmicas dos sistemas tropicais têm vindo a alterar-se e essa é a razão apontada pelo IPMA para integrar agora o Comité dos Furacões da Organização Mundial de Meteorologia.
Referências da notícia
Portugal no Comité de Furacões - Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Joshua Studholme, Alexey V. Fedorov, Sergey K. Gulev, Kerry Emanuel & Kevin Hodges. Joshua Studholme, Alexey V. Fedorov, Sergey K. Gulev, Kerry Emanuel & Kevin Hodges. Poleward expansion of tropical cyclone latitudes in warming climates. Nature Geoscience
Juan J. González-Alemán, Salvatore Pascale, Jesús Gutierrez-Fernandez, Hiroyuki Murakami, Miguel A. Gaertner, Gabriel A. Vecchi. Potential Increase in Hazard From Mediterranean Hurricane Activity With Global Warming. Advanced Earth and Space Sciences