IPMA reforça previsão meteorológica para proteger os municípios dos fenómenos climáticos extremos

Os concelhos vão poder contar com um sistema do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) mais rigoroso nas avaliações e nos alertas meteorológicos, geofísicos e climatológicos.

Tornado
O IPMA está a densificar a rede de dados e de observações com o intuito de aumentar a precisão meteorológica e desenvolver um sistema de alerta precoce mais refinado para eventos climáticos extremos. Foto: Stockvalt

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) vão estreitar ainda mais a sua colaboração, passando a fornecer mutuamente dados meteorológicos, geofísicos e climatológicos dos concelhos que queiram aumentar a segurança dos seus territórios face aos fenómenos climáticos extremos.

O intuito deste intercâmbio de informações passa essencialmente por reforçar os serviços de previsão do IPMA com maior regularidade e, acima de tudo, com um grau de rigor aumentado, que possibilitará uma vigilância mais eficaz tanto no plano espacial como temporal.

Incêndio florestal
O investimento na melhoria dos sistemas de previsão meteorológica do IPMA procura aumentar a proteção das populações e do património cada vez mais vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas. Foto: Pixabay

A parceria irá procurar densificar a rede e os dados de observação meteorológica e sísmica, a fim de permitir uma escala de maior precisão ao nível municipal, essencial para salvaguarda de pessoas e bens, apoio às atividades económicas e alerta precoce para risco de incêndio rural e outros fenómenos climáticos extremos.

Uma nova geração de radares meteorológicos

O acordo, recentemente assinado por ambas as partes, surge na sequência de um investimento de cerca de 10 milhões de euros, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, que permitiu concluir finalmente a Rede Nacional de Radares Meteorológicos Nova Geração.

Esta rede de última geração tem vindo a ser instalada e expandida em Portugal com radares de tecnologia Doppler de polarização dupla, capazes de detetar precipitação, granizo e saraiva num raio de até 300 km.

A infraestrutura foi especialmente desenvolvida para monitorizar com precisão e em tempo real as condições atmosféricas, avaliar a intensidade das precipitações, prever o deslocamento de tempestades ou detetar mudanças na pressão atmosférica entre outras condições extremas que podem, inclusive, indicar a formação de tsunamis.

A rede inclui radares em várias localidades, como Arouca, Coruche, Loulé, Porto Santo, Terceira, São Miguel ou Flores. O intuito do IPMA, no entanto, passa por recorrer à parceria com a ANMP para chegar ao maior número possível de territórios no país e aumentar gradualmente a sua escala e precisão.

O que se espera, no fundo, é uma melhoria na antecipação de fenómenos climáticos extremos, como ondas de calor e de frio, mas também um maior apoio e proteção de pessoas e património cada vez mais vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas.

Territórios cada vez mais expostos às mudanças climáticas

O protocolo agora assinado é o reconhecimento por parte do IPMA e da ANMP de que os eventos climáticos extremos são cada vez mais frequentes, colocando o território nacional sob constante ameaça.

A necessidade de os municípios terem acesso a um sistema estruturado, integrado e padronizado é por isso crítico para monitorizar os indicadores climáticos e as variáveis meteorológicas e geofísicas.

estação de radares meteorológicos de Loulé
A Estação de radares de Loulé, em Cavalos de Caldeirão, pertence à nova geração de infraestruturas meteorológicas capaz de prever e monitorizar com maior precisão a intensidade e movimentação de sistemas de precipitação. Foto: IPMA

Nas décadas mais recentes, Portugal tem vindo a registar, aliás, um rasto assinalável de eventos climáticos extremos. Entre inundações, tempestades, incêndios florestais e tornados, o país enfrentou nos últimos 17 anos um total de 20 “eventos extremos”, na classificação usada pela Associação Portuguesa de Seguradoras.

No balanço feito no final do ano passado, o geógrafo da Meteored, Alfredo Graça, enumerou também os três fenómenos associados ao tempo e ao clima que se destacaram por terem sido os mais extremos em 2024. O tornado de 28 de março, em Lisboa, quando o país se encontrava afetado pela depressão Nelson, foi o primeiro a ser assinalado.

O temporal dos dias 8 e 9 de outubro, na sequência da passagem do ciclone extratropical Kirk e os incêndios, entre os dias 15 e 21 de setembro, completaram o top-3 do especialista da Meteored.

Uma nova ferramenta para apoiar os agricultores

A agricultura, em particular, é o setor mais afetado pelos efeitos das alterações climáticas e foi neste sentido que o IPMA lançou também recentemente o seu boletim agroclimático, com diferentes fileiras agrícolas, como milho, arroz, tomate, cereais, vinha ou montado. A informação destina-se não somente às comunidades locais, mas principalmente aos municípios predominantemente rurais e com significativa atividade agrícola.

O sistema, de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, está mais refinado, sendo atualmente possível fazer previsões para dez dias que poderão ser intuitivamente consultados através de uma aplicação móvel.

O agricultor poderá, como tal, receber no seu smartphone, os alertas sempre que os critérios e os valores, definidos pelo próprio utilizador, forem ultrapassados.

Trator num campo agrícola
A agricultura é um dos setores mais afetados pelas alterações climáticas. Os agricultores sofrem com o aumento do calor, secas, geadas ou inundações que destroem culturas da noite para o dia. Foto: Pixabay

Este novo recurso também está disponível gratuitamente na Plataforma Agroalimentar, que fornece indicadores detalhados por região, tipos de cultura e fenómenos climáticos, como escaldão, geada, período quente, vento forte, míldio, chuva persistente, entre outros.

A plataforma encontra-se divida em três blocos de informação com avisos agroclimáticos até dez dias de prognóstico. A ferramenta conta ainda com dados que permitem traçar a evolução dos indicadores ao longo do tempo, diagnósticos e prognósticos e, por fim, publicações consideradas úteis para o setor, como artigos informativos e workshops.

Referências da notícia

IPMA e ANMP assinam protocolo de colaboração - Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

ANMP e IPMA assinaram protocolo de colaboração para prevenir riscos e proteger pessoas e bens – Associação Nacional de Municípios Portugueses.

Plataforma Agroclimática do Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

Inauguração de dois novos radares meteorológicos de última geração – portugal.gov.pt