Modelo europeu prevê 10 dias de NAO+ ininterrupta, com início no domingo: possíveis efeitos em Portugal

O índice NAO (Oscilação do Atlântico Norte, em português), é uma ferramenta importante utilizada para a previsão de padrões meteorológicos de longo prazo e uma das teleconexões que mais influencia o clima português, sobretudo no inverno. Este índice fornece excelentes informações sobre o comportamento do fluxo atmosférico, e “pistas” sobre a sua potencial evolução, ou seja, indica-nos a possível movimentação das diferentes de massas de ar frio e quente que estão a norte e a sul da nossa corrente de jato.

O seu cálculo é bastante simples, tratando-se apenas da diferença de pressão ao nível do mar entre a depressão da Islândia e o anticiclone dos Açores. O resultado deste cálculo pode dar um índice positivo ou negativo e, de acordo com as previsões dos modelos, está prestes a tornar-se positivo. Algumas vezes a diferença de pressão é elevada, outras vezes não é assim muito robusta. E é esta variação, que é a dita oscilação: a NAO.

O que significa uma NAO positiva?

Ao longo desta fase, tanto o anticiclone dos Açores como a depressão na Islândia se mostram bastante intensos e o gradiente de pressão entre ambos os sistemas é forte. Esta aumento na diferença de pressão traduz-se numa corrente de jato mais intensa e menos ondulante, o que gera uma maior estabilidade meteorológica. Este panorama parte a Europa em “dois”. Por um lado, a Europa setentrional (norte) verifica, por norma, um aumento das tempestades, com chuva superior à média e temperaturas também elas acima do normal.

Todavia, o sul da Europa, e especificamente Portugal e Espanha, costumam registar uma diminuição das depressões, com precipitação abaixo da média e temperaturas, de um modo geral, superiores aos valores da normal climatológica de referência. Os principais fenómenos meteorológicos associados a uma NAO positiva nas imediações da nossa geografia são os anticiclones e as massas de ar tropicais, sejam de cariz marítimo ou continental.

Eis os possíveis efeitos da NAO+ para o tempo em Portugal nos próximos 10 dias

Analisando as diversas variáveis e elementos climáticos projetados pelo modelo Europeu no que diz respeito às anomalias presentes nos seus mapas de previsão para as próximas semanas, (geopotencial 500 hPa; nível médio do mar; precipitação; temperatura) constatam-se mais evidências daquele que costuma ser o estado do tempo na Europa e em Portugal quando a NAO+ se impõe no Atlântico Norte (imagem acima plasmada, com a NAO+ representada através de barras azuis).

De facto, as previsões projetadas para os próximos 10 a 11 dias por parte do gráfico de probabilidade de padrões meteorológicos a médio e longo prazo do ECMWF, em que a NAO+ impõe-se a partir de domingo, 14 e poderá estender-se até quinta-feira, 25, são corroboradas pelos mapas de anomalias dos diversos elementos climáticos acima referidos para a unidade territorial do Continente.

Começando pelo mapa de anomalias da temperatura, para a semana de 15 a 22 de setembro, observam-se temperaturas geralmente dentro dos valores normais em Portugal continental. Porém, haverá anomalias térmicas positivas numa parte significativa do nosso país, algo que converge parcialmente com aquilo que costuma ocorrer com um padrão de NAO+, isto é, temperaturas acima da média.

Deste modo, para o período referido, o Alentejo e uma parte do interior Norte e Centro poderão registar temperaturas até 1 ºC acima da média e, no Algarve, poderão ser registados até 3 ºC acima da média. Apenas numa pequena parte do litoral Norte subsiste a possibilidade de as temperaturas se apresentarem ligeiramente inferiores ao normal.

Quanto ao mapa de anomalias de precipitação, para o mesmo período (15-22 de setembro), espera-se um estado do tempo geralmente seco (sobretudo a sul do sistema montanhoso Montejunto-Estrela) ou com níveis de precipitação dentro do normal. Isto não significa que não irá chover nos dias em questão, apenas não deverá chover tanto como seria expectável.

Uma vez mais, o facto da precipitação prevista ser pouco abundante, ou não aparecer de todo, converge com aquilo que frequentemente costuma acontecer quando a teleconexão climática NAO+ se impõe, isto é, condições atmosféricas que levam a um tempo tendencialmente estável (anticiclone robusto e próximo à nossa geografia) e uma menor probabilidade de precipitação: tudo isto se traduz num tempo mais seco.

Por fim, o cenário projetado pelos mapas de anomalia de geopotencial a 500 hPa e anomalia de pressão ao nível médio do mar também apostam num cenário de estado do tempo semelhante ao acima referidos.

Tomando como exemplo o mapa de anomalias de pressão ao nível médio do mar, observa-se uma vasta região depressionária (recheada de depressões intensas e muito cavadas) em torno da Escandinávia, Islândia e Ilhas Britânicas, enquanto no Sudoeste Europeu, onde se encaixa Portugal continental, se observa uma vasta região anticiclónica (indiciadora do anticiclone dos Açores, robusto, e a desdobrar-em crista).

Estes 2 mapas, a par dos das anomalias de precipitação e temperatura, consolidam não só a provável ocorrência de um estado do tempo mais quente do que o normal, geralmente estável, seco, soalheiro e com uma menor probabilidade de ocorrência de precipitação, com potencial para prolongar-se até 10/11 dias, começando no domingo 14 de setembro; como também atestam as previsões projetadas pelo gráfico de regimes meteorológicos a médio e longo prazo do ECMWF acerca da fase positiva da NAO, conhecida como NAO+.

Além disto, verifica-se uma corrente de jato polar muito robusta e pouco ondulante, ‘entalada’ a 300 hPa entre as Ilhas Britânicas e a Península Ibérica, tal como se pode observar no mapa da Meteored acima plasmado (vento a 300 hPa), o que mais uma vez é um sinal atmosférico sugestivo da estabilidade que espera a nossa geografia para a próxima dezena de dias.