Depois da depressão Hortense, o rio atmosférico permanece: até quando?

A depressão Hortense esteve a atingir-nos nas últimas horas com muita chuva, vento forte, agitação marítima e neve acima dos 1200 metros de altitude. Entretanto, o carrossel de frentes atlânticas não pára de ser alimentado. Outro temporal este fim de semana?

temporal; chuva; vento forte
Depois da depressão Hortense, a chuva, o vento forte e a instabilidade continuam. Até quando?

Depois da passagem da depressão Gaetan, que se manifestou sob a forma de precipitação e vento, por vezes forte, surgiu a depressão Hortense, que atingiu nesta madrugada de sexta-feira o seu pico ao manifestar rajadas de até 130 km/h nas terras altas do Norte e do Centro, destacando-se os distritos de Vila Real, Guarda e Castelo Branco. Além disso, provocou inundações e quedas de árvores em vários pontos da nossa geografia, tal como várias vezes antecipámos nas últimas previsões. Ainda que com menor fulgor, a instabilidade continua durante o fim de semana, com novo temporal à vista para este fim de semana. Chega a depressão Ignacio!

A corrente perturbada de oeste continuará a alimentar este 'comboio' de frentes atlânticas durante o fim de semana, dando origem a um novo temporal no país.

Ainda mal nos despedimos da depressão Hortense, responsável por inúmeros estragos no Norte e Centro do país, e acaba de ser nomeada pela AEMET a depressão Ignacio, a terceira tempestade da sucessão de frentes que esta semana tem atingido a Península Ibérica. As frentes que chegam sábado e domingo estarão mais débeis e sob a forma de um rio atmosférico, mas estimam-se mais dias de vento forte, chuva e agitação marítima. E porquê? A corrente perturbada de oeste vai continuar a servir de combustível e alimento para este interminável ‘comboio’ de frentes atlânticas durante os próximos dias, levando à formação de outro temporal este fim de semana.

Devido ao fluxo temperado e húmido adjacente à circulação das baixas pressões, as temperaturas vão continuar a subir, com máximas de 15 ºC em vários pontos da metade ocidental do país. O vento Su-Sudoeste soprará moderado a forte, com maior incidência nas regiões Norte e Centro do país. As rajadas máximas poderão variar entre os 90 e os 100 km/h em certos pontos das terras altas do Norte e do Centro. Tal como nos dias anteriores, o Baixo Alentejo e o Algarve escapam a uma grande parte das linhas de instabilidade ativadas por estas intempéries.

Este fim de semana estaremos debaixo da influência da depressão Ignacio. Deixará precipitação moderada a persistente ao fim da manhã de sábado, podendo por vezes surgir sob a forma de aguaceiros fortes. Sábado será o dia mais chuvoso do fim de semana, com muitos litros por m2 previstos para toda a região Norte.

O nosso modelo de confiança, o ECMWF, aponta também para o aumento da agitação marítima, com ondas de noroeste de 5 a 6 metros, que eventualmente atingirão altura máxima de 10 metros. No domingo prevê-se a continuidade deste panorama de chuva ou aguaceiros, vento moderado e algumas abertas, embora com previsível abrandamento da frente que chega nesse dia, previsivelmente mais débil.

‘Radiografia’ das tempestades que nos têm afetado

Pode-se olhar para o Atlântico Norte como uma fábrica de poderosas tempestades. Remontando ao início desta semana, os mapas mostram-nos que um anticiclone deslocou-se e assentou sobre a Gronelândia. Ao mesmo tempo, o Atlântico central foi atingido por um fluxo da corrente de jato, ao qual estavam associados intermináveis sistemas de baixa pressão que se deslocavam de oeste para este em latitudes mais baixas, como a nossa.

Nessa circulação, captaram ar temperado e húmido das latitudes subtropicais o que acabou por originar as condições que levaram, em primeiro lugar à formação da depressão Gaetan e posteriormente à Hortense. A oeste da Península Ibérica, o temporal atlântico continua em ação e a interação jato polar e baixas pressões em superfície também, o que justifica o vento moderado, por vezes forte, e a chuva antecipada para este fim de semana. A depressão Ignacio não terá tanto impacto como as tempestades anteriores, mas recomenda-se precaução, sobretudo devido ao risco de inundações e cheias em locais já saturados pela precipitação.