Alfredo Graça revela-lhe o tempo que nos espera em agosto: “não temos boas notícias sobre o calor extremo”
Ventos muito quentes e secos e temperaturas elevadas têm provocado calor extremo em Portugal. O modelo de referência da Meteored atualiza a sua previsão para o mês de agosto. Saiba o que esperar do tempo!

Com o arranque da canícula, o período estatisticamente mais quente e seco do ano em Portugal (15 de julho - 15 de agosto), está-se a testemunhar um dos maiores episódios de calor intenso e generalizado deste verão (por generalizado entenda-se em toda a geografia do Continente).
Após as duas ondas de calor de junho, a atual onda de calor - com início a 24 de julho - poderá vir a ser classificada como a terceira do verão climatológico de 2025, sendo que a sua duração mantém-se incerta. É possível que se prolongue para lá do próximo domingo, 3 de agosto.
A Climatologia conta-nos que o mês mais quente do ano é precisamente agosto
Em primeiro lugar, vale a pena recordar que agosto é o mês mais quente do ano em Portugal continental, seguido de julho, de acordo com a normal climatológica 1991-2020. A temperatura média máxima em agosto é 29,89 ºC.
O Alentejo, o Algarve e o Oeste e Vale do Tejo, mas também muitas vezes no interior Norte e Centro (Nordeste Transmontano e Beira Baixa, entre outras zonas) o calor continua a ser intenso, sobretudo na primeira quinzena do mês, que coincide com a segunda metade do período da canícula.
Nestas regiões não é invulgar chegar aos 35 ºC de temperatura máxima e por vezes aos 40 ºC (podendo inclusive ultrapassar este valor), mas é também em agosto que as noites tornam-se cada vez mais longas, pelo que tende a ficar ligeiramente mais fresco nas regiões do Interior quando o sol se põe.

Não obstante, as noites tropicais continuam a aparecer com bastante frequência (mínimas noturnas iguais ou superiores a 20 ºC), sobretudo no Alentejo e Algarve, mas também de maneira ocasional nos vales do Tejo e Douro.
Apesar de escassa, a chuva pode aparecer em agosto devido às frentes atlânticas e gotas frias
A precipitação média acumulada em agosto (13,6 mm) apresenta um enorme contraste dentro da nossa geografia, com o Alto Minho a assumir o valor mais elevado (38,5 mm), por oposição a Setúbal, Baixo Alentejo e Algarve (as três com aproximadamente 4 mm).
Enquanto no Noroeste a precipitação bastante superior à média do Continente num dos meses mais secos do ano poderá ser explicada pela influência intermitente de algumas frentes atlânticas, a sul do Tejo o seu valor residual tem a ver com a latitude e com o anticiclone dos Açores.

Porém, nem o anticiclone nem a latitude "livram" algumas zonas do Continente das chamadas gotas frias nos meses de agosto. Para os agricultores agosto é um mês temível, pois a qualquer momento, uma depressão isolada em altitude ou a geração de precipitação convectiva pode dar origem a trovoada e, pior do que isso, a chuvas de granizo potencialmente catastróficas.
Além disto, com a aproximação de setembro, a atmosfera costuma ficar mais dinâmica, dando origem a fenómenos de instabilidade atmosférica mais significativos.
Não temos boas notícias sobre o calor extremo em agosto. Eis o que revela o modelo Europeu
As últimas previsões do modelo Europeu (ECMWF) mostram que o mês de agosto começará provavelmente com uma nova subida das temperaturas, pelo que o calor extremo na geografia de Portugal continental irá manter-se por bastantes mais dias.
Nos primeiros dias do próximo mês, os mapas preveem que os valores de temperatura se situem entre 3 e 6 ºC acima da média climatológica de referência em quase todo o país (praticamente todo o Norte, Centro e Alentejo). No Continente, com anomalias quentes mas ligeiramente mais moderadas estariam os distritos de Lisboa, Setúbal, Beja, Faro e Bragança e o litoral dos distritos de Coimbra e Leiria (temperaturas entre 1 e 3 ºC acima dos valores médios de referência).
Para Açores e Madeira o modelo antecipa anomalias térmicas positivas mais suaves (até 1 ºC acima do normal), exceto no Grupo Oriental dos Açores e nalgumas zonas da ilha da Madeira.

Tanto para a semana entre 4 e 11 de agosto, como para a segunda quinzena de agosto, já existe uma tendência mais definida. Em relação aos dias 4 a 11, as temperaturas entre 3 e 6 ºC acima da média deverão manter-se. Isto denota que as regiões mais quentes do Continente provavelmente viverão uma 'cópia' das condições meteorológicas de calor extremo da semana anterior.
Para as semanas seguintes o calor deverá manter-se intenso e geralmente com temperaturas na ordem dos 1 a 3 ºC acima da média em quase todo a geografia do Continente. Nos arquipélagos estas anomalias de calor deverão ser bem mais suaves. E só por volta da reta final do mês é que as temperaturas deverão começar a apresentar valores dentro do normal na maioria do território português.
O que esperar da chuva? Tudo dependerá da corrente de jato polar
Tudo indica que teremos de prestar atenção às ondulações que o jato polar irá traçar, com a possível formação de bloqueios nas latitudes altas (Ilhas Britânicas/Escandinávia), o que poderá favorecer a aproximação de novas gotas frias a Portugal. No entanto, a incerteza é extremamente elevada atualmente, o que é normal.

Não existe uma tendência particularmente definida para o conjunto do território no que se refere ao mês de agosto em Portugal. É possível vislumbrar-se algumas anomalias húmidas nos Açores e Madeira, e outras ligeiramente secas em grande parte da geografia do Continente. Contudo, um único episódio de trovoada, chuva e granizo pode inverter a precipitação acumulada de um mês.
Estamos a entrar numa época do ano em que as depressões ou pequenas bolsas de ar frio voltam a tornar-se algo mais ocasionais no nosso território. Por conseguinte, não deve ser descartada totalmente a possibilidade de possíveis episódios de precipitação e trovoada nas próximas semanas, embora de momento, os mapas indiquem esse cenário como pouco provável.