Alfredo Graça avisa: "esta semana os rios atmosféricos vão aumentar o potencial das frentes de chuva em Portugal"

Ao longo desta semana vários sistemas frontais entrarão em Portugal continental e serão reforçados por alguns rios de humidade provenientes das latitudes subtropicais: nalguns distritos vão cair mais de 100 mm.
Tal como previsto, domingo (19) foi marcado por uma mudança do padrão meteorológico em Portugal continental. O bloqueio britânico cedeu e o jato polar está a intensificar-se, o que dará origem a uma sucessão de frentes muito ativas que deixarão acumulações de precipitação consideráveis em vários distritos durante esta semana.
É uma faixa longa, estreita e transitória na qual há um transporte horizontal de vapor de água, e está normalmente associada a correntes de jato de baixo nível perante a frente fria de uma depressão. O vapor de água nos rios atmosféricos é fornecido por fontes de humidade tropicais e/ou extratropicais.
A curto e médio prazo, predominará uma fase NAO ligeiramente negativa, o que se traduzirá num ‘comboio’ de depressões cavadas a circular de oeste para leste pelo Atlântico. Entre as depressões e as altas pressões subtropicais, que estarão bastante deslocadas para sul, será canalizada uma massa de ar atlântica, de carácter subtropical, amena e extremamente húmida. O vento aumentará ligeiramente de intensidade, especialmente nas zonas montanhosas do interior Norte e Centro.
Vários rios atmosféricos reforçarão a chuva esta semana
De acordo com o modelo de referência da Meteored, vários rios atmosféricos ou de humidade poderão incidir em Portugal continental (e também na Espanha peninsular), reativando a precipitação nalgumas zonas. Esta circulação atlântica vai manter-se durante quase toda a semana, embora haja indícios nos mapas de que, a partir de domingo (26), a aproximação do anticiclone à costa ocidental do nosso país se traduza numa estabilização atmosférica e consequentemente em céu limpo ou pouco nublado.

Com esta situação sinóptica, as acumulações serão bastante significativas no Minho, especialmente nas zonas montanhosas dos distritos de Viana do Castelo e de Braga, que são áreas mais expostas a este fluxo húmido subtropical e onde se prevê que ultrapassem os 100 mm. Noutras zonas do Norte e Centro, tais como os distritos do Porto, Aveiro e os setores ocidentais dos distritos de Vila Real e Viseu, espera-se que as acumulações sejam superiores a 50 mm, podendo os pontos de maior altitude registar até 80 mm.
As terras altas e vertentes montanhosas do Minho e Douro Litoral serão particularmente bem regadas devido à sua orientação para oeste/noroeste e maior exposição aos ventos de Sudoeste, carregadíssimos de humidade. O modelo Europeu (ECMWF) mostra que grande parte do distrito de Coimbra, parte do distrito da Guarda correspondente aos municípios que integram a Serra da Estrela e alguns pontos do extremo Norte do distrito de Bragança também podem vir a somar registos pluviométricos significativos, entre 50 e 85 mm.
“O outro lado da moeda”: as regiões situadas a sul do sistema montanhoso Montejunto-Estrela
Com o cenário de previsão atual, algumas localidades dos distritos de Leiria e Santarém poderiam alcançar 30 a 40 mm. Como é habitual nestas depressões atlânticas, quanto mais para sul e para leste da nossa geografia, menor será a precipitação. Até sábado, 25 de outubro, choverá de forma residual no Alentejo e no Algarve, o que é bastante comum nas circulações atlânticas.

Quanto aos Arquipélagos, o dos Açores será regado com abundância, na mesma medida que o Continente, sobretudo os Grupos Central e Oriental, estando previstas acumulações entre 80 e 100 mm. Na Madeira haverá alguma precipitação fraca e dispersa, sobretudo mais na reta final da semana.
Temperaturas invulgarmente elevadas: várias localidades vão ultrapassar os 25 ºC
O nosso país vai estar sujeito à influência de massas de ar atlântico bastante temperadas, pelo que o cenário de tempo frio não se coloca (embora pontualmente algumas zonas do Norte e Centro possam registar valores inferiores à média de referência). Efetivamente, o modelo Europeu prevê uma semana com temperaturas que poderão estar entre 1 e 3 ºC acima da média em Portugal continental, arquipélago da Madeira e grande parte do arquipélago dos Açores. A exceção seria o Grupo Ocidental açoriano.

A isto há que somar o efeito Foehn produzido pelo sistema montanhoso Montejunto-Estrela, que se traduzirá num registo de temperaturas máximas acima do normal para a época do ano para as regiões situadas a sul deste acidente geográfico. Deste modo, entre quarta (22) e quinta-feira (23), preveem-se máximas na ordem dos 25 a 29 ºC, especialmente nas zonas fronteiriças dos distritos alentejanos (Portalegre, Évora e Beja) e na metade oriental do distrito de Faro.