Rio atmosférico a caminho de atingir Portugal na próxima semana: estas são as regiões em que se prevê mais chuva

Um corredor de ar muito húmido — o chamado rio atmosférico — poderá ligar os subtrópicos ao Noroeste da Península Ibérica na próxima semana, abrindo a porta a vários dias com chuva persistente no Norte e Centro.
A semana deverá ser marcada por uma mudança consistente para tempo mais húmido no Norte e Centro do continente, com sequência de frentes e linhas de instabilidade a chegarem do Atlântico em fluxo de sudoeste. Espera-se céu muito nublado, chuva por vezes persistente a norte do sistema Montejunto–Estrela e períodos de aguaceiros, intercalados com abertas, sobretudo a meio do dia.
Nas terras altas e vertentes expostas a oeste/noroeste (Minho, Douro Litoral e Alto Minho) a precipitação tenderá a ser reforçada por efeito orográfico. O vento soprará em geral de oeste/sudoeste, por vezes moderado, com rajadas nas serras, e o ambiente manter-se-á relativamente ameno. As noites serão ainda pouco frescas e máximas contidas no Norte e Centro, sem cenário de frio.
A sul do Tejo, o tempo estará mais à margem desta instabilidade. Pode chover pontualmente, mas predominará a nebulosidade com períodos secos e temperaturas ainda acima do habitual para outubro. Este contraste norte–sul corresponde a uma sinalização de mais precipitação no Norte e um sinal mais seco no Sul.
Semana com previsão de precipitação, principalmente nas regiões Norte e Centro
Entre domingo e terça-feira, a primeira vaga de precipitação deverá atravessar o país, enfraquecendo à medida que progride para sul. Até terça-feira espera-se perto de 110 mm de precipitação acumulada no Minho. Depois, durante a quarta e a quinta-feira, novos impulsos frontais deverão reativar a chuva no Norte e, de forma mais dispersa, no Centro, com abertas a alternar com aguaceiros.
À medida que nos aproximamos do fim de semana, o padrão mantém-se húmido a norte, ainda que com incerteza quanto à cronometria das passagens frontais e à persistência da chuva em cada sub-região. Até sábado, os valores acumulados de precipitação poderão chegar aos 310 mm.

Em todo o período, não se antecipa um arrefecimento acentuado. De facto, as mínimas ficam frequentemente acima do normal e as máximas, embora mais baixas do que nos últimos dias, mantêm-se dentro de valores típicos de outono, com o Sul a registar anomalias térmicas positivas.
Nos Açores, a semana decorrerá sob um regime atlântico mais ativo, com períodos de céu muito nublado, chuva intermitente e vento por vezes forte, além de mar agitado em vários momentos.
Por seu turno, na Madeira, predominarão nuvens e aguaceiros fracos/locais, com tempo globalmente estável e temperaturas sem alterações relevantes. A evolução dos avisos marítimos e de vento deverá ser monitorizada diariamente, dada a variabilidade típica desta época e a passagem de perturbações a diferentes latitudes.
O que é o rio atmosférico e quais os impactes no nosso território?
O elemento meteorológico que explica a persistência da humidade é a formação de um “rio atmosférico”, isto é, uma faixa longa e relativamente estreita de ar muito húmido que transporta grandes quantidades de vapor de água desde latitudes subtropicais para latitudes médias. Em termos operacionais, a presença de condições de rio atmosférico é muitas vezes identificada quando o transporte integrado de vapor (IVT) excede ~250 kg m⁻¹ s⁻¹, critério usado por centros de investigação para detetar e classificar estes corredores de humidade.
Quando esse fluxo incide sobre o noroeste da Península e encontra barreiras montanhosas, o ar sobe, condensa e pode gerar precipitação persistente e localmente intensa, sobretudo nas encostas viradas a oeste e noroeste. A intensidade e os impactes dependem tanto do “carregamento” de humidade como da duração do episódio e da forma como a circulação de níveis médios/altos promove ou desvia as bandas de chuva.
Convém sublinhar a incerteza típica deste tipo de situação. Pequenas alterações na posição do jato e do geopotencial em altitude podem alterar significativamente os valores acumulados locais previstos. Assim, apesar de a confiança ser elevada quanto a vários dias com chuva no Norte e Centro e tempo mais seco e quente no Sul, a distribuição fina dos períodos de chuva dependerá das próximas atualizações.
Para planeamento diário, recomenda-se acompanhar as previsões, mapas e modelos da Meteored e consultar o eventual lançamento de avisos do IPMA.