Viticultores do Douro manifestam-se na Régua e rumam a Lisboa para entregar reclamações ao Primeiro-Ministro

Uma delegação de viticultores foram esta quarta-feira, 16 de julho, a Lisboa apresentar ao Governo um conjunto de reclamações, exigindo ao Primeiro-Ministro “soluções urgentes" para a crise na Região Demarcada do Douro.

Uvas
O benefício é a quantidade de mosto que cada produtor pode destinar à produção de vinho do Porto. Em 2024, foi de 90 mil pipas (550 litros cada).

Na véspera do debate sobre o Estado da Nação, que acontece esta quinta-feira, 17 de julho, os viticultores durienses quiseram antecipar-se e entregaram nesta quarta-feira, dia 16, em Lisboa, na residência oficial do Primeiro-Ministro, uma moção, aprovada a 2 de julho durante a uma manifestação realizada no Peso da Régua, promovida pela CNA – Confederação Nacional da Agricultura e pela AVADOURIENSE – Associação dos Viticultores e da Agricultura Familiar Douriense.

Para estas organizações, “se a luta da CNA e dos viticultores durienses já começou a dar frutos, ao obrigar o Governo a admitir que existe um problema no Douro e a anunciar medidas, não podemos deixar de insistir que a situação desesperante dos pequenos e médios produtores do Douro exige medidas de mais amplo alcance”.

Logo pela manhã desta quarta-feira, dezenas de viticultores percorreram a pé algumas das principais ruas da cidade do Peso da Régua, em protesto contra as dificuldades de escoamento da uva e a venda a baixos preços.

Em Godim ou pela Avenida Diocese de Vila Real, os manifestantes deixaram tratores e carrinhas parados na faixa de rodagem, caminharam para o tabuleiro da ponte rodoviária e pararam momentaneamente nas rotundas, passando também pela estação de caminhos de ferro e pela sede do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), onde deixaram um fardo de palha junto à porta.

Entre as palavras de ordem mais ouvidas estão “Exigimos aguardente regional”, “Não ao arranque da vinha” ou “Não deixem o Douro ir a monte”. Nas camisolas negras que vestiam lia-se “o Douro está de luto”.

Protesto alargou-se a Lisboa

“Tenho 35 anos, vivo da vinha, vivo do vinho e não vejo perspetivas de futuro para mim e muito menos vejo [futuro] para os meus filhos”, afirmou André Coutinho, um viticultor de 35 anos, citado pela agência Lusa.

Da parte da tarde, o protesto alargou-se à capital, Lisboa, com os viticultores cientes de que tinham de se fazer ouvir junto do Governo.

As medidas previstas para o Douro são uma “luz no fundo do túnel”, mas não são suficientes para cobrir as despesas dos viticultores, disse um produtor do Peso da Régua, citado pela Lusa, após reunião no Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP).

Recorde-se que o ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, anunciou no início de julho que está a estruturar um plano para o Douro, em articulação com os seus organismos, o envolvimento de agentes da região e a Comissão Europeia.

Manifestação de viticultores
Na véspera do debate sobre o Estado da Nação, que acontece esta quinta-feira, 17 de julho, os viticultores durienses entregaram em Lisboa, na residência oficial do Primeiro-Ministro, uma moção.

As medidas, assumiu o governante, “estão a ser ultimadas”, “têm carácter estrutural e serão dirigidas aos produtores, sobretudo aos pequenos produtores”.

Apoio de 13 milhões "insuficiente"

Mas a promessa não convence os viticultores. Nem mesmo o anúncio de um apoio, específico, de 13 milhões de euros para a região do Douro já comunicado pelo ministro José Manuel Fernandes.

“Os anúncios feitos ficam muito aquém do que a Região [do Douro] necessita para resolver a sua crise prolongada e levantam sérias inquietações”, refere a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em comunicado divulgado nesta quarta-feira, 16 de julho, após a manifestação à porta da residência oficial do Primeiro-Ministro.

“A CNA considera que o montante de 13 milhões de euros é insuficiente para compensar devidamente os viticultores pela perda de rendimento gerada pelos problemas de escoamento das uvas e pelo seu baixo preço”, afirma a Confederação.

Vinhas no Douro
As medidas previstas para o Douro são uma “luz no fundo do túnel”, mas não são suficientes para cobrir as despesas dos viticultores, disse um produtor do Peso da Régua, citado pela Lusa, após reunião no Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP).

Por outro lado, dizem que se “impõe” que a medida chegue “prioritariamente a quem mais dela necessita, ou seja, aos pequenos e médios viticultores, o que implica que sejam definidos critérios de atribuição das ajudas que limitem o número de hectares a apoiar por produtor”.

Em paralelo, a CNA considera que “a perspetiva de promover o arranque da vinha na Região Demarcada do Douro não é mais do que validar e aprofundar a concentração da terra, da produção e do poder de mercado que já hoje se verifica”. Aliás, segundo a Confederação, tudo isso “está na origem dos problemas que assolam a Região e os viticultores”.

Na próxima sexta-feira, 18 de julho, tem lugar no Peso da Régua, a reunião do Conselho Interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) para decidir o quantitativo de benefício para 2025.

O benefício, recorde-se, é a quantidade de mosto que cada produtor pode destinar à produção de vinho do Porto. Em 2024, foi de 90 mil pipas (550 litros cada), mas em 2023 tinha sido de 104 mil. Este ano, fala-se de uma redução para 68 mil pipas.

Para a CNA, a resolução desta crise no Douro passa por medidas que visem “garantir rendimentos dignos aos viticultores”, o que passa por, por exemplo, por “proibir a compra de uvas abaixo dos custos de produção, implementar a obrigação de a aguardente usada no vinho do Porto ter origem prioritariamente regional e dar poderes à Casa do Douro para gerir e estabilizar stocks”.