Viticultores do Douro manifestam-se na Régua e rumam a Lisboa para entregar reclamações ao Primeiro-Ministro
Uma delegação de viticultores foram esta quarta-feira, 16 de julho, a Lisboa apresentar ao Governo um conjunto de reclamações, exigindo ao Primeiro-Ministro “soluções urgentes" para a crise na Região Demarcada do Douro.

Na véspera do debate sobre o Estado da Nação, que acontece esta quinta-feira, 17 de julho, os viticultores durienses quiseram antecipar-se e entregaram nesta quarta-feira, dia 16, em Lisboa, na residência oficial do Primeiro-Ministro, uma moção, aprovada a 2 de julho durante a uma manifestação realizada no Peso da Régua, promovida pela CNA – Confederação Nacional da Agricultura e pela AVADOURIENSE – Associação dos Viticultores e da Agricultura Familiar Douriense.
Para estas organizações, “se a luta da CNA e dos viticultores durienses já começou a dar frutos, ao obrigar o Governo a admitir que existe um problema no Douro e a anunciar medidas, não podemos deixar de insistir que a situação desesperante dos pequenos e médios produtores do Douro exige medidas de mais amplo alcance”.
Logo pela manhã desta quarta-feira, dezenas de viticultores percorreram a pé algumas das principais ruas da cidade do Peso da Régua, em protesto contra as dificuldades de escoamento da uva e a venda a baixos preços.
Entre as palavras de ordem mais ouvidas estão “Exigimos aguardente regional”, “Não ao arranque da vinha” ou “Não deixem o Douro ir a monte”. Nas camisolas negras que vestiam lia-se “o Douro está de luto”.
Protesto alargou-se a Lisboa
“Tenho 35 anos, vivo da vinha, vivo do vinho e não vejo perspetivas de futuro para mim e muito menos vejo [futuro] para os meus filhos”, afirmou André Coutinho, um viticultor de 35 anos, citado pela agência Lusa.
Da parte da tarde, o protesto alargou-se à capital, Lisboa, com os viticultores cientes de que tinham de se fazer ouvir junto do Governo.
Recorde-se que o ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, anunciou no início de julho que está a estruturar um plano para o Douro, em articulação com os seus organismos, o envolvimento de agentes da região e a Comissão Europeia.

As medidas, assumiu o governante, “estão a ser ultimadas”, “têm carácter estrutural e serão dirigidas aos produtores, sobretudo aos pequenos produtores”.
Apoio de 13 milhões "insuficiente"
Mas a promessa não convence os viticultores. Nem mesmo o anúncio de um apoio, específico, de 13 milhões de euros para a região do Douro já comunicado pelo ministro José Manuel Fernandes.
“A CNA considera que o montante de 13 milhões de euros é insuficiente para compensar devidamente os viticultores pela perda de rendimento gerada pelos problemas de escoamento das uvas e pelo seu baixo preço”, afirma a Confederação.

Por outro lado, dizem que se “impõe” que a medida chegue “prioritariamente a quem mais dela necessita, ou seja, aos pequenos e médios viticultores, o que implica que sejam definidos critérios de atribuição das ajudas que limitem o número de hectares a apoiar por produtor”.
Na próxima sexta-feira, 18 de julho, tem lugar no Peso da Régua, a reunião do Conselho Interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) para decidir o quantitativo de benefício para 2025.
O benefício, recorde-se, é a quantidade de mosto que cada produtor pode destinar à produção de vinho do Porto. Em 2024, foi de 90 mil pipas (550 litros cada), mas em 2023 tinha sido de 104 mil. Este ano, fala-se de uma redução para 68 mil pipas.
Para a CNA, a resolução desta crise no Douro passa por medidas que visem “garantir rendimentos dignos aos viticultores”, o que passa por, por exemplo, por “proibir a compra de uvas abaixo dos custos de produção, implementar a obrigação de a aguardente usada no vinho do Porto ter origem prioritariamente regional e dar poderes à Casa do Douro para gerir e estabilizar stocks”.