A evolução da mandíbula humana e os problemas dentários atuais

Dentes tortos são comuns hoje em dia, mas raros no passado e isso deve-se sobretudo a mudanças na alimentação e no estilo de vida do Ser Humano. Fique a saber mais aqui!

Mandíbula
A evolução da mandíbula humana, com a redução do tamanho e força da mandíbula devido à mudança na dieta e hábitos, tem contribuído para problemas dentários modernos.

Durante a maior parte da história da nossa espécie, os humanos tinham dentes bem alinhados e mandíbulas largas o suficiente para acomodá-los.

No entanto, hoje, a maioria das pessoas apresenta algum grau de desalinhamento dentário, dentes apinhados ou problemas com os dentes do siso.

Esse fenómeno moderno é resultado de mudanças rápidas na nossa alimentação e estilo de vida ao longo dos últimos 10 mil anos, um piscar de olhos em termos evolutivos.

Mandíbulas maiores no passado

Os nossos ancestrais caçadores-coletores, que viveram antes do aparecimento da agricultura, consumiam alimentos duros, fibrosos e crus, como carne, raízes, nozes e vegetais não processados.

Mastigar esses alimentos exigia mais esforço e força, o que estimulava o crescimento da mandíbula desde a infância.

Como resultado, os maxilares eram mais largos e fortes, permitindo que todos os dentes permanentes se encaixassem perfeitamente, inclusive os sisos.

Arqueólogos e antropólogos que estudam crânios humanos antigos notam que problemas modernos como dentes tortos ou sisos impactados eram extremamente raros entre os povos pré-históricos.

A revolução agrícola e o encurtamento das mandíbulas

Com o advento da agricultura, há cerca de 12 mil anos, a dieta humana mudou radicalmente.

Os alimentos tornaram-se mais macios e menos fibrosos, muitas vezes cozidos ou processados. O resultado foi uma diminuição na mastigação, o que, ao longo do tempo, levou a um crescimento mandibular reduzido.

O curioso é que, enquanto a mandíbula encolheu, o tamanho dos dentes permaneceu praticamente o mesmo.

Genética ou ambiente?

Embora a genética tenha algum papel na forma do rosto e na dentição, os cientistas destacam que as mudanças observadas nas últimas gerações são rápidas demais para serem explicadas apenas por herança genética.

Estudos com animais, como roedores e macacos, mostram que dietas mais moles levam a mandíbulas menores, mesmo dentro de uma única geração.

Desalinhamento dos dentes
O consumo de alimentos processados e açucarados, além da falta de estímulo à mastigação, são fatores que agravam problemas como o desalinhamento da dentição.

Isso reforça a ideia de que fatores ambientais e de desenvolvimento infantil são determinantes.

Hoje, estima-se que mais de 90% da população tenha algum grau de desalinhamento dentário.

Ortodontia e cirurgias maxilares tornaram-se comuns nos adolescentes e adultos. Além disso, cerca de 85% das pessoas precisam remover os dentes do siso porque não há espaço suficiente na boca para acomodá-los.

Esses problemas são praticamente inexistentes em populações que ainda seguem estilos de vida tradicionais e dietas.

E o “mewing”?

Nos últimos anos, surgiu na internet o conceito de "mewing", que propõe o reposicionamento da língua no céu da boca para estimular o crescimento adequado da mandíbula.

Embora a postura lingual possa ter um papel no desenvolvimento facial em crianças, não há evidências científicas sólidas de que o mewing possa corrigir problemas dentários ou alterar a estrutura óssea em adultos.

Ortodontistas recomendam precaução e reforçam a importância de tratamentos baseados em evidências.