De cinco estrelas ao abandono: 6 hotéis portugueses que o tempo não poupou

Construídos com luxo e ambição, ficaram vazios ou encerraram cedo, testemunhando falências, lendas e memórias. Alguns aguardam reabilitação, outros permanecem silenciosos, desafiando curiosos e apaixonados por lugares esquecidos.

Hotel Monte Palace, Açores
Quando o luxo adormeceu: seis hotéis portugueses que o tempo congelou. Foto: Wikimedia // Siechfred

Houve um tempo em que Portugal se enchia de promessas de luxo e turismo moderno. Hotéis erguidos em lugares improváveis, com piscinas olímpicas, vistas de sonho e ambições sem limites. Décadas depois, muitos desses projetos estão silenciosos — invadidos pela natureza, marcados pela ferrugem e pela curiosidade de quem passa — e nunca chegaram a cumprir esse desígnio.

São ruínas com passado, pedaços de uma história feita de entusiasmo, falências e memórias que o tempo não conseguiu apagar.

Entre a serra e o mar, estes seis hotéis acabaram esquecidos, vítimas de crises económicas, burocracia, má gestão ou simples falta de sorte. Ainda assim, continuam a despertar fascínio. Uns foram cenário de séries televisivas, outros inspiram lendas urbanas. No fim, todos contam um capítulo da história do país.

Palacete do Mondego, Penacova

No coração de Penacova, o Palacete do Mondego começou por ser um preventório, acolhendo crianças com problemas respiratórios no início do século XX. Décadas mais tarde, em 2001, foi transformado em hotel de charme, com vista sobre o rio e promessa de revitalizar o turismo local. Mas os litígios, a falta de investimento e um incêndio em 2018 deixaram-no em ruínas.

Na altura, onze funcionários ficaram desempregados e alguns deles confessam ter assistido a “histórias estranhas” no local. Há até quem classifique o imóvel como “assombrado”, acabando por se tornar um ponto de passagem obrigatória para os apaixonados deste género de mistérios.

Ainda assim, a história ganhou recentemente um novo capítulo. Em 2024, o edifício foi adquirido pelo grupo Vila Galé, que apresentou o projeto Vila Galé Collection Penacova, uma unidade de quatro estrelas com investimento estimado em cerca de 14 milhões de euros.

O projeto prevê a reabilitação integral da fachada Art Déco, a recuperação da antiga capela e até uma biblioteca dedicada ao humor português — uma homenagem a figuras literárias locais.

Palacete do Mondego
Ficou parcialmente destruído num incêndio em 2018. Foto: Facebook

Atualmente, o projeto está em fase de licenciamento na Câmara Municipal de Penacova, e a expectativa é que devolva à vila um dos seus maiores símbolos. Depois de anos entregue ao esquecimento, o Palacete prepara-se para regressar à vida.

Hotel inacabado do Louriçal

Entre Pombal e Soure, na localidade do Louriçal, encontra-se um dos edifícios mais curiosos do centro do país: um hotel que nunca chegou a funcionar. A construção começou nos anos 90, prometendo uma unidade moderna e capaz de atrair visitantes para o interior, mas parou abruptamente.

Faltou financiamento, surgiram problemas de licenciamento e a obra ficou suspensa — até hoje.

As paredes erguidas contam a história de um investimento que nunca se concretizou, e que, três décadas depois, se tornou parte da paisagem local, fotografado por curiosos e exploradores urbanos.

Hotel do Parque, Gerês

No coração do Parque Nacional da Peneda-Gerês, o Hotel do Parque, fundado em 1892, foi durante anos um dos principais pontos de estadia para quem procurava as termas e a natureza da região. Com arquitetura de montanha e localização privilegiada, chegou a ser referência de hospitalidade minhota.

“O hotel manteve-se aberto ao público com todo o seu glamour, requinte e extravagância até ao ano de 1997, altura em que o termalismo nacional constata uma crise sem precedentes, que obrigou a que diversas unidades hoteleiras fechassem portas e abrissem falência”, lê-se na 'Wikipédia'.

Hotel do Parque
Era considerado o mais emblemático hotel daquela estância termal. Foto: Wikimédia // Restos de Colecção

Com o tempo, as dificuldades de manutenção e a quebra da procura levaram ao encerramento. O edifício degradou-se e acabou por sofrer derrocadas, tornando-se inseguro. Parte da estrutura foi demolida em 2016 para evitar riscos, e hoje o que resta é um esqueleto de pedra e madeira que recorda os tempos em que o Gerês era destino de luxo nacional.

Hotel Boavista, Curia

A Curia viveu décadas de glória graças às termas e aos hotéis que atraíam visitantes de todo o país. O Hotel Boavista, inaugurado no início do século XX, foi um dos mais conhecidos, com um estilo clássico e uma clientela fiel.

Contudo, com o declínio do termalismo e o surgimento de novas formas de turismo, o hotel perdeu competitividade e acabou por fechar. Durante anos, o edifício permaneceu vazio, alvo de vandalismo e degradação.

Vários projetos de reconversão foram anunciados — alguns para habitação, outros para turismo sénior —, mas nenhum avançou.

Antiga Estalagem de Seia, Serra da Estrela

Nos anos 70, Seia era uma das portas de entrada para a Serra da Estrela e tinha nas estalagens o principal apoio aos viajantes. Entre elas, destacava-se a antiga Estalagem de Seia, de traça modernista e localização privilegiada, que encerrou há mais de uma década.

Desde então, o edifício entrou em degradação, tornando-se um símbolo do abandono turístico da região. Houve tentativas de venda, propostas de reconversão e até um projeto para residência sénior, mas nenhum saiu do papel. Hoje, as paredes cobertas de musgo e os painéis partidos contam uma história de promessas adiadas — e de como a serra perdeu parte do seu charme hoteleiro.

Antiga Estalagem de Seia
Boas notícias. Foto: Instagram

Mais recentemente, surgiu nova vida à vista. Segundo o ‘Jornal de Santa Marinha’, o edifício será transformado no Hotel Gelo, um empreendimento turístico de 4 estrelas, com investimento superior a 4,4 milhões de euros, cofinanciado pelo programa COMPETE 2030. O projeto pertence à empresa Soberba e Aprazível, Lda., e inclui 57 quartos, restaurante, bar temático, spa, pistas de gelo e campos de padel.

Depois de anos ao abandono, o antigo símbolo de Seia prepara-se para regressar ao mapa turístico da Serra da Estrela — desta vez, com um nome gelado, mas uma nova esperança quente.

A construção deverá arrancar em breve, e a abertura está prevista para março de 2028, segundo a imprensa regional.

Hotel Monte Palace, Ilha de São Miguel, Açores

Situado junto ao miradouro da Vista do Rei, com direto à vista sobre a Lagoa das Sete Cidades, o Monte Palace abriu em 1989 como um cinco-estrelas ambicioso. Tinha 88 quartos e diversas valências — restaurantes, bar, disco — e era considerado, na altura, um dos hotéis mais imponentes dos Açores.

Mas os anos que se seguiram foram difíceis: a localização remota, o nevoeiro frequente e a conjuntura turística pouco desenvolvida na ilha contribuíram para fraca ocupação. Fechou portas cerca de 18 meses após abrir.

“O Monte Palace recebeu o prémio de melhor hotel de Portugal na mesma semana em que fechou definitivamente as portas. O que outrora foi uma das realizações mais luxuosas das ilhas está agora num estado de deterioração que não se pode imaginar a não ser que se veja pessoalmente”, lê-se no site ‘Futurismo’.

Depois de décadas ao abandono, em 2017 foi adquirida por uma empresa de capitais chineses — Level Constellation — que anunciou um plano de reabilitação mantendo a traça original. Hoje, no entanto, permanece esquecido, com janelas partidas, graffitis e mais de uma lenda urbana à volta.