Este português comprou meia aldeia no Gerês. Agora vai transformá-la num destino de sonho

De aldeia esquecida a (finalmente) destino com futuro. Conheça o projeto turístico que vai mudar o coração do Gerês.

Fundo da Aldeia de Varziela
Boas notícias. Foto: Instagram // Fundo da Aldeia de Varziela

Durante anos foi apenas uma ideia ambiciosa — um daqueles sonhos que se contam entre amigos, à mesa, e que parecem demasiado grandes para sair do papel. Mas João Amorim, fotógrafo e criador de conteúdos de viagens, decidiu não ficar pela conversa.

Dois anos depois de ter surpreendido o país ao comprar “meia aldeia” no coração do Parque Nacional da Peneda-Gerês, o projeto que idealizou para transformar Varziela, em Castro Laboreiro, num espaço de turismo rural está finalmente pronto para avançar. O financiamento foi aprovado e o futuro começa agora a ganhar forma.

Um sonho nascido no meio da serra

A história de João Amorim não é a típica narrativa de investimento no interior. Aos 33 anos, o fotógrafo decidiu trocar os aviões e os destinos exóticos pelos vales e montanhas do Gerês.

Em 2023, depois de uma visita casual à região, acabou por se apaixonar pela aldeia de Varziela — uma pequena branda [palavra típica da região de Castro Laboreiro, no concelho de Melgaço, para se referir a um conjunto de habitações usadas sazonalmente pelos pastores e agricultores] praticamente desabitada, onde as casas de pedra resistem ao tempo, mas pediam há muito uma nova vida.

O que começou com a compra de uma única casa rapidamente transformou-se num projeto de regeneração rural à escala da aldeia.

Ao descobrir que várias propriedades vizinhas estavam à venda, João fez aquilo que poucos se atreveriam: comprou um conjunto de habitações, currais e terrenos, reconstituindo metade da povoação. Assim nasceu o embrião do que viria a chamar-se Fundo da Aldeia — um futuro turismo rural que promete respeitar a autenticidade do local e dar-lhe um novo propósito.

Financiamento aprovado e obras a caminho

Depois de dois anos de espera, candidaturas e papeladas, o jovem empreendedor anunciou, no início de outubro, que o financiamento para o projeto foi finalmente aprovado. A boa notícia chegou através das redes sociais, onde João partilhou o entusiasmo e a persistência que marcaram o processo. “Passo a passo, vamos lá chegar. Só quem se mete numa coisa destas sabe o quão difícil é fazê-la acontecer, mas não vamos desistir”, escreveu.

Fundo da Aldeia de Varziela
Tudo o que são paredes antigas de pedra vão ficar em pedra. Foto: Instagram // Fundo da Aldeia de Varziela

O investimento total ronda os três milhões de euros, com parte do valor apoiado por fundos comunitários e pelo Turismo de Portugal. A construção, no entanto, não começará antes da primavera de 2026. A decisão é prática: o inverno em Castro Laboreiro é rigoroso e não permite o tipo de obras que o projeto exige.

“Agora estamos a entrar no inverno, não podemos construir nesta zona de Portugal. Mas já faltou mais”, disse João, num dos seus vídeos recentes.

Quando concluído, o Fundo da Aldeia contará com 12 habitações reabilitadas, capacidade para cerca de 50 hóspedes, e uma combinação de alojamentos de tipologias diversas — desde quartos duplos a pequenas casas T2 e T3, bem como uma unidade com formato de hostel. O projeto de arquitetura foi confiado ao gabinete Enark, que tem vindo a trabalhar em soluções que conjuguem conforto contemporâneo e respeito pela traça original.

Além do alojamento, está prevista a criação de espaços comuns inspirados nas antigas estruturas da aldeia, como um forno comunitário, uma pequena mercearia e uma zona de convívio exterior. O projeto será ainda pet-friendly e incluirá acessos adaptados a pessoas com mobilidade reduzida, uma das exigências pessoais do criador.

De aldeia esquecida a destino com futuro

Mais do que um investimento turístico, João Amorim quer transformar Varziela num exemplo de regeneração sustentável. O objetivo passa por revitalizar a economia local, criar emprego na região e atrair visitantes que procurem experiências genuínas, longe das multidões. “Não quero fazer um resort. Quero que o Fundo da Aldeia seja um sítio com alma, onde se possa sentir o que é viver no Gerês, com a natureza e a comunidade por perto”, explicou em declarações recentes.

Fundo da Aldeia de Varziela
"Dá vontade de ir já para lá". Foto: Instagram // Fundo da Aldeia de Varziela

A iniciativa já despertou o interesse de várias entidades locais e regionais, que veem no projeto uma oportunidade para repovoar uma zona esquecida e dinamizar o turismo de forma equilibrada.

O impacto será visível não apenas na aldeia, mas também nos negócios envolventes — desde restaurantes e guias locais a produtores agrícolas e artesãos.

Para João, esta é também uma forma de concretizar um sonho antigo da família. O pai, contou, sempre quis ter uma casa na serra quando se reformasse. A vontade de cumprir esse desejo esteve na origem de todo o percurso que agora se torna realidade. “Acho que ele nem acreditava muito quando comecei, mas agora está tão entusiasmado como eu”, confessou o jovem fotógrafo.

O caminho ainda é longo, e o tempo de espera, inevitável. Mas a persistência de João Amorim — e a determinação com que está a recuperar uma aldeia quase abandonada — mostram que, mesmo no interior mais remoto, há histórias de futuro a nascer. Se tudo correr como planeado, dentro de dois anos Varziela poderá voltar a ouvir o som das portas a abrir, das conversas ao fim da tarde e das risadas de quem vier descobrir o que é, afinal, o verdadeiro Gerês.