Uma força natural faz o oceano ser mais produtivo!

A atmosfera e o grande oceano influenciam-se mutuamente numa estreita ligação que veicula a distribuição da radiação solar e cria um optimum calorífico que possibilita a existência de vida no planeta azul.

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Atualmente, a TSM varia global e anualmente, dos -1,7 ⁰C até a um máximo de 31 ⁰C, bem diferente dos primórdios, quando as temperaturas oscilavam entre 50 ºC e 70 ⁰C!

Um grande espelho de água salgada, envolve os continentes, aloja uma imensidão de seres vivos, cromatiza e interfere na história climática do planeta, uma colossal massa que impele fluidez a uma dinâmica energética, imprescindível para a estabilidade dos elementos químicos que compõem o manto atmosférico.

Incidindo diferencialmente no planeta, a radiação solar, cumulativamente com o movimento de rotação, gera contínuos tráfegos balizados entre a atmosfera e o oceano, representados pela circulação geral da atmosfera. Um mecanismo que equilibra a tensão que o vento exerce, por exemplo, sobre a superfície do mar, criando as chamadas correntes de deriva, e que decorre do aquecimento diferencial latitudinal da radiação solar sobre a superfície do planeta. Um balanço térmico que, através das circulações das massas de ar, equilibra o excesso de energia nos trópicos e o défice nos polos.

O vento, combinado com a água e as correntes, é crucial para a vida no oceano, pessoas e economias dependentes da atividade piscatória.

De superfície irregular, o oceano manifesta vida através do fenómeno físico que ocorre como resultado das variações de pressão quando o ar passa sobre as suas cristas e vales, os pequenos desníveis da superfície da água, formando as ondas que conduzem a energia pelo oceano. E, como propriedade termodinâmica dos fluidos, decorrente da atividade energética das moléculas e dos átomos da água, a temperatura oceânica vai flutuando, em função da profundidade e latitude.

É forte, mas não se vê, é o vento!

O vento, quando sopra paralelo à costa, empurra a água da superfície para longe das zonas limítrofes da litosfera, da costa, e, à medida que se move, arrasta a água fria das profundezas para substituí-la. Ora, a água fria contém nutrientes como nitrato, fosfato e silicato, estes em resultado da vida marinha que morreu, afundou e se decompôs, libertando carbono e minerais durante o processo.

Aluda-se o efeito Coriolis, o qual, nas fronteiras W das placas litosféricas, combinado com a tensão de atrito exercida sobre a superfície dos oceanos, propagada verticalmente na coluna da água até aos 100 m, por ação de ventos com direção ao equador (desviantes para a direita no HN, e para a esquerda no HS), impelem ao transporte dessas camadas superficiais oceânicas para longe da costa, levando à sua substituição por águas provenientes de camadas mais profundas, de até 500 m, mais frias, mais salinas e mais ricas em nutrientes, um processo de afloramento costeiro denominado de Upwelling!

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A água “aflorada” é mais densa do que a água substituída, necessitando de energia externa com mais potencial, esta fornecida por tensões do vento na superfície.

Transportados até à superfície, os nutrientes submersos, combinados com a luz solar, por acção do processo da fotossíntese, são utilizados por plantas microscópicas, o fitoplâncton, na produção de compostos orgânicos, servindo de base alimentar da cadeia trófica do oceano. O fitoplâncton alimenta assim pequenos organismos fotossintéticos à deriva na coluna de água denominados de zooplâncton, e estes sustentam grandes populações de peixes, como sardinhas e anchovas, que por sua vez, alimentam outras espécies como leões-marinhos, golfinhos, em cadeia até às gigantes dos mares, as baleias, e inclusivé, aves marinhas.

Todavia, esta 'patuscada' não é transversal oceana e planetariamente. De facto, a colossal abundância de vida marinha cruza águas onde a atividade piscatória é incrivelmente produtiva, com grande impacte para o setor económico regional.

Falamos de 4 spots de ressurgência que representam 50% das capturas a nível global, as principais correntes associadas a ecossistemas de upwelling costeiro – a corrente das Canárias, um lento giro subtropical que se move 10 a 30 cm/s, ao longo de aproximadamente 1000 Km, dos 10 ⁰N, a Sul da costa do Senegal (NW de África) aos 43 ⁰N da PI (aflorando paralela à costa portuguesa), e que nos meses de Verão, cumula com os ventos que sopram de N na costa Oeste e de W na costa Sul de Portugal; a corrente de Benguela, no SW de África; a corrente da Califórnia, a Oeste da América do Norte; e a corrente do Peru (Humboldt), a Oeste da América do Sul.

A intrínseca ocorrência ecológica dos processos de ressurgência

As correntes, os jactos de ressurgência costeira, vulgo, o UpWelling é uma componente indissociável da importância da circulação global das massas de ar. A sua importância influi na criação, no período necessário para o desenvolvimento dos organismos aquáticos, com 5 dias para o fitoplâncton, 25 para o zooplâncton, e 2 a 3 meses para os pequenos peixes pelágicos.

Considerando que as concentrações de nutrientes no mar, geralmente aumentam com o aumento da profundidade da água, efetivamente, o processo de Upwelling representa uma eficiente sequência ecológica de transporte de água sub-superficial, rica em nutrientes, direcionalmente para a zona eufótica, para a “prateleira” continental, aumentando assim substancialmente a produtividade biológica numa região de ressurgência, mais rica em oxigénio dissolvido.

A vida marinha está maioritariamente concentrada nas águas oceânicas superficiais, pois dispõem de mais luz solar, todavia, o grosso da matéria orgânica está muito abaixo, nas águas profundas do oceano. O afloramento das correntes marítimas dinamiza assim a vida no grande oceano azul, e no planeta por sequência.