Porque as trovoadas em África são mais intensas e frequentes?

Será que as trovoadas em África estão a tornar-se mais intensas e frequentes devido ao aumento da temperatura? Na era das alterações climáticas, os cientistas buscam respostas para a maior propensão à ocorrência destes fenómenos naturais. Todos os detalhes aqui!

Tempestade em KwaZulu-Natal África do Sul
Será que as trovoadas em África são cada vez mais intensas e frequentes?

África tem vindo a experienciar de forma mais frequente, grandes tempestades à medida que as temperaturas à escala global aumentam, segundo investigadores da Universidade de Tel Aviv. O continente possui, de facto, a maioria dos pontos de atividade elétrica mais ativos do mundo, com tempestades que podem gerar destruição extrema e, por vezes, mortes.

Este mês, por exemplo, um grupo de conservação da natureza relata que quatro raros gorilas de montanha foram eletrocutados por raios no Parque Nacional de Mgahinga no Uganda. Num episódio catastrófico em 2011, um relâmpago numa escola primária provocou a morte de 20 crianças e feriu quase 100 no mesmo país.

Vítimas em massa como as desse episódio trágico são acontecimentos raros. Contudo, os meteorologistas questionaram-se, na altura, se as tempestades se estavam a tornar mais comuns em África na era das alterações climáticas. A resposta, de acordo com uma nova investigação publicada em janeiro no American Meteorological Society’s Journal of Climate, é sim. O aumento das temperaturas em África nas últimas sete décadas correlaciona-se com enormes e mais frequentes tempestades, segundo descobriram os cientistas.

Se esta descoberta for sólida, isto poderá representar mais mortes e mais prejuízos económicos. "Os relâmpagos são os assassinos nº 1 quando falamos sobre tempo nos países tropicais", disse Colin Price, professor de Ciências da Atmosfera da Universidade de Tel Aviv e autor principal do estudo. Não há dados organizados para vítimas de raios que cubram todo o continente africano, mas um estudo de 2018 em oito países coloca o número de mortes em cerca de 500 por ano. A nível global, as estimativas variam entre 6.000 a 24.000 mortes por ano.

Múltiplos relâmpagos no céu africano
As comunidades rurais africanas não possuem infraestruturas de prevenção para o risco de tempestades com a atividade elétrica.

Porque o risco de trovoadas em África é elevado?

África enfrenta um risco elevado por razões que vão além da frequência relativamente alta de tempestades no continente. Por exemplo, infraestruturas e desenho urbano frágeis, podem piorar as inundações durante fortes tempestades, de acordo com Alistair Clulow, professor de agrometeorologia da Universidade de KwaZulu-Natal em Durban, África do Sul. Isto, por sua vez, pode tornar os raios mais mortíferos porque a água conduz eletricidade. Os aglomerados rurais também enfrentam riscos. Agricultores e pastores trabalham ao ar livre, o que os torna mais vulneráveis durante tempestades. As casas nas áreas rurais geralmente carecem de infraestruturas de prevenção de raios.

Dados globais acerca do impacto económico das tempestades são algo irregulares, mas uma avaliação de 2008 do National Lightning Safety Institute em Louisville, Colorado, calcula que os custos anuais nos Estados Unidos varie entre US $ 5 milhares de milhão a US $ 6 milhares de milhão. Isto inclui incêndios florestais e estruturas danificadas devido a raios e inundações por causa de chuvas torrenciais.

Dr. Price e o seu co-autor, Maayan Harel, analisaram os dados de tempestades de 2013 da World Wide Lightning Location Network, determinaram que variáveis relacionadas com o clima tiveram maior influência nas tempestades e depois utilizaram essas variáveis para construir um modelo que criou uma simulação da história da atividade elétrica (tempestades) em África, entre 1948 e 2016.

O projeto demorou sete anos. O próximo estudo deles vai debruçar-se sobre a análise das tempestades no sudeste da Ásia, outro ponto quente tropical. Devido às limitações dos dados e às metodologias divergentes, não existe consenso, pelo menos por agora, acerca de como as alterações climáticas vaõ afetar as tempestades, ou se mais tempestades vão necessariamente significar mais atividade elétrica.