Terra: o planeta fumador?

Preservar o equilíbrio ecológico à escala global é um dos maiores problemas da sociedade actual. Lembrar que cerca de um terço de todo o lixo recolhido nos oceanos são beatas de cigarros.

O lixo marinho é um dos maiores e mais graves problemas ambientais que assola o planeta.

Constituinte do cigarro, o filtro é fabricado a partir de fibra de acetato de celulose, papel ou carvão ativado, tendo como função a de diminuir para cerca de metade a quantidade de alcatrão e nicotina presentes no fumo inspirado. Porém, nunca demais lembrar que são ineficazes na filtragem de toxinas como o monóxido de carbono, para além de, como resíduo de cigarro fumado, representam “mais um” agente poluidor do meio ambiente.

O seu grau poluente é de tal modo marcante que, em acções de limpeza de praias ocorridas ao redor do planeta, foram ao longo de 30 anos, recolhidas mais de 60 milhões de toneladas de beatas! A sua perigosidade atinge todo o bioma: seres humanos, animais, plantas, solos e águas.

Trata-se de um resíduo altamente tóxico que contém químicos como nicotina, arsénico ou chumbo, e que, em média demora cerca de 20 meses a decompor-se! Acresce que, uma única beata tem um potencial poluidor capaz de afetar 2 litros de água! A sua leveza permite-lhe grande mobilidade, sendo difíceis de filtrar nas ETAR, por flutuarem e passarem nas grelhas de filtragem, sendo por isso, facilmente transportadas pelo vento ou chuva para os circuitos de águas pluviais, rapidamente terminando nos rios, praias e oceanos.

Uma vez nos cursos de água, se por um lado é iniciada a libertação de químicos contaminando toda a cadeia trófica: algas, peixes, homem; por outro, são igualmente pelas aves, comummente confundidas com comida, acabando por as contaminar e consequentemente, matando-as. Ou seja, não ameaçam apenas a biodiversidade marinha, preocupantemente, afetam a saúde dos seres humanos, mesmo a dos que não são fumadores!

Audazes estratégias foram já concetualizadas

Para além da campanha de ação ambiental da Fundação Oceano Azul e do Oceanário de Lisboa, em parceria com a Olá, um grupo de investigadores da Coreia do Sul, converteu as pontas de cigarros usadas, num material capaz de armazenar elevada quantidade de energia eléctrica, podendo esta ser utilizada em computadores, smartphones, carros elétricos e até turbinas eólicas!

De acordo com a revista Nanotechnology, este “novo material” é capaz de absorver e libertar iões, tendo uma maior capacidade armazenativa, comparativamente com os nanotubos de carbono e grafeno, funcionando como uma bateria normal! Seria deste modo possível mitigar o problema da poluição causada pelos filtros dos cigarros à escala planetária já que anualmente são depositadas no meio ambiente mais de 5 triliões de pontas de cigarro!

As beatas de cigarro deixadas no chão serão uma ameaça à vida marinha.

Factos

  • As fibras de acetato de celulose que constituem o filtro de cigarro são mais finas do que as linhas de costura, e um único filtro contém mais de 12 mil fibras dessas.
  • Diariamente, vão parar ao mar, cerca de 8 milhões de pedaços de lixo proveniente da actividade humana.
  • Atualmente, nos oceanos do planeta, existem 5 vórtices que aprisionam milhares de fragmentos de lixo, criando vergonhosas ilhas de detritos, as maiores das quais, uma situada no Pacifico entre a Califórnia e o Havai, e outra perto de Portugal, no mar dos Sargaços, a nordeste do arquipélago dos Açores.
  • Adicionar à problemática volumétrica, a da longevidade do lixo: uma beata de cigarro pode chegar a demorar 5 anos até se desintegrar!

A vida, é a característica mais notavelmente diferenciadora, do planeta que habitamos. Ela compõe um deliciado e intrincado mecanismo dinâmico: a biosfera. É premente perceber que o risco de catástrofe global é adensado, se a biosfera deixar de poder suprir as necessidades nutricionais e económicas da humanidade!