Sabe como as novas tecnologias podem ser utilizadas para preservar os recursos naturais? Aqui tem algumas respostas
A digitalização está a desempenhar um papel crucial na aceleração da economia circular. Neste artigo contamos-lhe como as novas tecnologias podem ser utilizadas como aliadas para preservar os recursos naturais.

Cada vez consumimos mais rapidamente os recursos do planeta. No dia 24 de julho a humanidade esgotará todo o orçamento anual de recursos e serviços ecológicos da natureza, segundo contas da organização internacional Global Footprint Network.
No ano passado o Dia da Sobrecarga do Planeta foi a 1 de agosto. Este ano os recursos esgotar-se-ão uma semana mais cedo. E se todos os habitantes do planeta vivessem como os portugueses, os recursos disponíveis para o ano de 2025 teriam terminado ainda mais cedo, a 5 de maio, segundo a mesma fonte.
Por forma a enfrentar essa realidade, os governos da União Europeia estão a dar uma atenção especial ao desenvolvimento da economia circular e ao avanço digital. Apesar dessas áreas serem estratégicas e importantes economicamente, ainda há poucas evidências sobre como se influenciam mutuamente e quais são seus efeitos exatos.
Para entender melhor como as tecnologias digitais podem ajudar os países europeus a adotarem um modelo mais sustentável, foi lançada uma investigação sobre o tema. Os resultados são bastante interessantes: países com maior nível de desenvolvimento digital tendem a melhorar o seu desempenho na economia circular.
O segredo é utilizar os recursos da Terra sem os esgotar
O problema da superprodução exige uma solução rápida, uma vez que a procura global por recursos naturais continua num crescendo sem controle, e muitos desses recursos não se regeneram. Espera-se que, até 2030, mais de 9 mil milhões de pessoas compartilhem um planeta com limites físicos bem definidos.
Nesse cenário, a economia circular propõe um modelo económico que procura reduzir resíduos, aumentar a durabilidade dos produtos e reintegrar materiais no ciclo de produção. Em comparação com o modelo tradicional, privilegia a eficiência, resistência e regeneração, promovendo um uso mais sustentável dos recursos.

Embora pareça que estabilidade e tecnologia sejam conceitos opostos, a verdade é bem diferente. A digitalização, que consiste na incorporação de tecnologias digitais nos aspetos sociais e económicos, pode ser uma grande aliada da economia circular.
Desde sensores que monitorizam o percurso de materiais até às plataformas de reutilização, passando por sistemas de inteligência artificial que aprimoram os processos de produção e consumo, as soluções digitais criam novas oportunidades para fechar os ciclos de produção e diminuir a geração de resíduos.
Estarão os países mais digitalizados mais perto de alcançar uma economia circular?
Para responder a esta pergunta, a investigação analisou os 27 países da União Europeia, agrupando-os em função do seu comportamento nas seguintes áreas chaves para a economia circular: produção e consumo, gestão de resíduos, uso de materiais primários secundários e inovação. A partir desta classificação, identificaram-se quatro grupos de países:
- Geradores: economias com um baixo grau de circularidade, que tendem a não investir em reciclagem ou em inovações nesse setor. A maioria dos países do sul e leste da Europa, como Grécia, Roménia e Bulgária, enquadram-se nesse grupo.
- Recicladores: possuem bons índices de reciclagem e também apresentam algumas inovações. Países como Espanha, Áustria e os países nórdicos estão nesta categoria.
- Realizadores: destacam-se principalmente pelo uso de materiais reciclados nas suas atividades. Bélgica e Países Baixos são exemplos de países desse grupo.
- Inovadores: são os líderes em todas as áreas, especialmente em inovação. França, Alemanha e Itália fazem parte desta categoria.

Os investigadores analisaram o grau de digitalização de cada país, tendo em conta fatores como o capital humano digital, a integração da tecnologia nas empresas, os serviços públicos digitais e a conectividade. Os resultados indicam que existe uma ligação evidente entre economia circular e o avanço digital.
Concretamente, há três fatores digitais marcam a diferença. Em primeiro lugar o capital humano, já que os países com mais pessoas formadas em competências digitais têm mais capacidade para aplicar estratégias circulares. O segundo, a integração tecnológica, uma vez que as empresas que usam tecnologias como Big Data ou comércio eletrónico tendem a operar de maneira mais eficiente e circular. E em terceiro lugar, os serviços públicos digitais, já que a digitalização dos governos facilita processos como a gestão de resíduos ou a rastreabilidade dos materiais.
Não há economia circular sem digitalização
Embora não possamos afirmar que uma causalidade direta, os dados mostram uma forte correlação: os países com níveis mais elevados de digitalização geralmente apresentam um desempenho melhor na economia circular.
A digitalização oferece ferramentas, conhecimentos e plataformas que ajudam governos, empresas e a sociedade a avançar rumo a modelos mais sustentáveis. Tentar promover a economia circular sem investir na digitalização pode acabar por atrasar muitos países.
Para acelerar a transição para uma economia mais circular, as políticas públicas deveriam considerar essa relação. Incentivar a formação digital, apoiar a inovação tecnológica nas empresas e digitalizar os serviços públicos não só aumenta a competitividade, como também contribui para uma maior estabilidade.
Além disso, empresas que incorporam princípios circulares nas suas estratégias, apoiadas por ferramentas digitais, podem reduzir custos, atrair talentos e destacar-se num mercado cada vez mais consciente da sua importância.
Resumindo, a digitalização não é apenas um complemento à economia circular, é uma das suas condições essenciais. Para construir um futuro sustentável, é preciso que a digitalização seja vista como uma parte fundamental dessa transformação, e não apenas como uma opção.
Referência da notícia
Gil-Lamata, M., Fuentelsaz, L., Latorre-Martínez, M. (2025). Does digitalization foster the path to a circular economy? An exploratory analysis of European Union countries. Corporate Social Responsibility and Environmental Management.