Música como modulador da estimulação magnética transcraniana: novas perspetivas para a neuromodulação clínica
Sincronizar os pulsos com música pode aumentar a eficácia terapêutica, abrindo assim novas perspetivas para o tratamento de doenças neurológicas e psiquiátricas. Saiba mais aqui!

A estimulação magnética transcraniana (TMS, do inglês transcranial magnetic stimulation) é uma técnica não invasiva que utiliza campos magnéticos para modular a atividade neuronal em regiões específicas do cérebro.
Nos últimos anos, a TMS tem sido amplamente estudada e aplicada no tratamento de depressão resistente, dor crónica e perturbações motoras. No entanto, a eficácia da técnica varia significativamente entre indivíduos, o que tem motivado a procura de estratégias para otimizar os seus efeitos.
A sincronização através dos pulsos
Um estudo recente conduzido por investigadores da Universidade de Stanford propõe uma solução inovadora: sincronizar os pulsos de TMS com o ritmo musical, potenciando a resposta cerebral ao estímulo.
No trabalho em questão, os investigadores combinaram registos de eletroencefalografia (EEG) com TMS aplicada ao córtex motor de participantes saudáveis.
O objetivo era explorar se a música poderia “preparar” o cérebro para responder de forma mais eficaz à estimulação magnética. Para tal, os participantes ouviram trechos musicais ritmicamente regulares enquanto a atividade elétrica cortical era monitorizada.
A análise revelou um fenómeno consistente: cerca de 200 milissegundos antes de cada batida musical dominante, observava-se uma redução previsível na oscilação das ondas cerebrais do córtex motor, sugerindo uma janela de maior excitabilidade neuronal.
Com base nesta observação, os investigadores aplicaram pulsos de TMS em três condições distintas: (1) 200 ms antes da batida musical, (2) exatamente na batida e (3) em momentos aleatórios, sem sincronização com o som.

O efeito da estimulação foi quantificado através do potencial evocado no músculo da mão, um marcador bem estabelecido da excitabilidade do córtex motor.
Os resultados foram claros: quando os pulsos de TMS eram aplicados antes da batida musical, a resposta muscular era cerca de 77% mais forte do que no protocolo tradicional sem música.
Além disso, a estimulação aplicada antes da batida mostrou-se aproximadamente 37% mais eficaz do que a aplicada exatamente na batida, sublinhando a importância da fase temporal relativa.
Implicações importantes para a prática clínica e para a investigação em neuromodulação
Em primeiro lugar, demonstram que a sincronização temporal entre estímulo externo e estado interno do cérebro pode amplificar de forma significativa os efeitos da TMS.
Isto sugere que a eficácia variável desta técnica pode dever-se, em parte, ao facto de a estimulação ocorrer em momentos subótimos do ciclo de excitabilidade neuronal.
Em segundo lugar, a utilização de música como ferramenta de sincronização oferece uma abordagem acessível e bem tolerada, que pode ser facilmente integrada em protocolos terapêuticos.
Para além do córtex motor, é plausível que esta estratégia possa ser aplicada a outras regiões cerebrais, como o córtex pré-frontal dorsolateral, frequentemente alvo de TMS no tratamento da depressão.
Se for possível identificar as janelas temporais de maior plasticidade nesta região e alinhar a estimulação com essas janelas, poder-se-á aumentar a taxa de resposta clínica e reduzir a duração dos tratamentos.
Desafios e questões em aberto
A resposta a estímulos musicais varia entre indivíduos, dependendo de fatores como treino musical, preferências auditivas e capacidade de entrainment rítmico A personalização do tipo de música, do andamento e da fase de estimulação poderá ser necessária para maximizar os benefícios.
Além disso, é essencial avaliar a segurança desta abordagem em populações clínicas, dado que a combinação de estímulos auditivos rítmicos com TMS poderia, em teoria, aumentar o risco de indução de crises epiléticas em indivíduos predispostos.
Referência da notícia
Jessica M. Ross, Lily Forman, Juha Gogulski, Umair Hassan, Christopher C. Cline, et all. "Sensory Entrained TMS (seTMS) Enhances Motor Cortex Excitability", Human Brain MappingVolume 46, Issue 10 (2025)