Interrupção da dispersão de sementes limita o recrescimento das florestas tropicais

Será que os animais são assim tão importantes na dispersão de sementes nas florestas tropicais? Saiba mais aqui!

As florestas tropicais cobrem apenas cerca de 6% da superfície da Terra, mas abrigam mais de 50% das espécies conhecidas de plantas e animais!

O estudo científico demonstra que cerca de 81% das espécies de árvores tropicais dependem de animais para a dispersão de sementes. Realçando uma série de estudos recentes que vieram a destacar um elo menos visível, mas absolutamente essencial neste processo: os animais, especialmente os frugívoros, que dispersam as sementes de grande parte das árvores tropicais — sobretudo aves, primatas e outros mamíferos frugívoros.

A perda desses dispersores, resultante da fragmentação do habitat, da caça e do declínio da biodiversidade, leva a uma interrupção crítica nos processos ecológicos que sustentam a regeneração natural das florestas.

Os dados utilizados

Utilizando um extenso conjunto de dados — mais de 17 mil parcelas de vegetação em regiões tropicais — e modelos computacionais avançados, os autores revelam que áreas florestais onde os dispersores foram eliminados ou reduzidos podem sofrer uma diminuição de até 57% na capacidade de sequestro de carbono ao longo do tempo. Ou seja, sem a ação dos animais, menos sementes são levadas a locais apropriados para germinar, o que compromete o crescimento de novas árvores e, por consequência, a capacidade da floresta de absorver CO₂ da atmosfera.

Apesar da vegetação densa, os solos da floresta tropical são geralmente pobres em nutrientes, pois a maior parte da matéria orgânica é rapidamente reciclada na superfície.

Por exemplo, através de uma análise quantitativa detalhada da contribuição das aves frugívoras na regeneração da Mata Atlântica. Usando modelos ecológicos e simulações em larga escala, os investigadores demonstraram que a presença de grandes frugívoros — responsáveis por transportar sementes de espécies de árvores com madeira densa e elevado potencial de sequestro de carbono — é fundamental para garantir a recuperação funcional das florestas. O estudo identificou um limiar crítico: em paisagens com menos de 40% de cobertura florestal ou com fragmentos separados por mais de 133 metros, a capacidade de dispersão e regeneração natural decresce drasticamente.

Nestes casos, a regeneração ativa, com plantação assistida e enriquecimento ecológico, torna-se imprescindível.

Ideias a reter

Ao perdermos os animais dispersores, perdemos também a infraestrutura ecológica necessária para manter florestas tropicais saudáveis e resilientes às alterações climáticas. A presença ativa de dispersores não apenas assegura a regeneração da floresta, mas também determina que espécies de árvores irão prosperar — favorecendo espécies de crescimento rápido e grande porte que são mais eficazes na captura de carbono.

Portanto, conservar animais dispersores é também conservar o potencial climático das florestas tropicais.

As estratégias de mitigação das mudanças climáticas devem incorporar a conservação da fauna como um componente central. Isso inclui restaurar populações de dispersores, conectar fragmentos florestais por meio de corredores ecológicos e combater a caça e o comércio ilegal de fauna.

Além disso, os modelos climáticos globais — e mesmo os projetos de reflorestamento e compensação de carbono — devem considerar o papel funcional da fauna na estrutura e dinâmica da floresta. A simples plantação de árvores, sem a presença de agentes naturais de dispersão, poderá resultar em ecossistemas empobrecidos e menos eficazes na remoção de carbono.

Em suma, a mensagem a passar é: proteger a fauna não é apenas proteger a biodiversidade — é proteger a própria funcionalidade ecológica das florestas tropicais, essenciais no combate às alterações climáticas. A integração da conservação da fauna em políticas ambientais pode aumentar a eficácia das florestas como sumidouros de carbono. Essa nova visão amplia e aprofunda o conceito tradicional de restauração ecológica, colocando os animais como agentes indispensáveis na regeneração de florestas tropicais e na estabilização do clima global.

Referência da notícia

Bello, C., Crowther, T.W., Ramos, D.L. et al. Frugivores enhance potential carbon recovery in fragmented landscapes. Nat. Clim. Chang. 14, 636–643 (2024). https://doi.org/10.1038/s41558-024-01989-1

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