Alterações na floresta tropical

Os especialistas alertam que as alterações climáticas podem transformar a Amazónia numa savana, o que terá consequências dramáticas para os seres humanos e para espécies que dependem desses habitats.

Amazónia
Há muito tempo que a floresta da Amazónia é reconhecida como um repositório de serviços ecológicos, não só para os povos indígenas e as comunidades locais, mas também para o restante do mundo.

Esta é uma mudança que demora décadas, mas cerca de 40% da floresta já está num ponto de viragem.

A floresta tropical da Amazónia está a chegar a um ponto sem retorno devido às mudanças climáticas e pode transformar-se numa savana árida dentro de meio século, alertam os investigadores num estudo publicado na revista Nature Communications, uma vez que a humidade, os incêndios e as secas estão a transformar a terra, onde, dentro de pouco tempo, será difícil continuar a plantar a mesma quantidade de árvores.

Cerca de 20% da floresta da Amazónia, que cobre mais de cinco milhões de quilómetros quadrados espalhados por sete países, é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta, foi arrasada desde 1970, principalmente para cultivar soja, madeira, óleo de palma, biocombustíveis ou criação de gado.

Se não agirmos rapidamente, podemos estar prestes a perder uma das maiores e mais diversas florestas tropicais, que evoluiu ao longo de 58 milhões de anos e das quais dezenas de milhões de pessoas dependem.

Em 2019 este tema foi alvo de um grande debate na sequência dos incêndios que atingiram a floresta, os piores da última década. A maior floresta tropical do mundo perdeu 9762 quilómetros quadrados de sua cobertura vegetal, aumentando a taxa de desflorestação em 29,5% entre agosto de 2018 e julho de 2019.

As consequências da desflorestação

A desflorestação reduz a capacidade geral das florestas de absorver carbono da atmosfera à medida que a área total de cobertura de árvores diminui. Além disso, os usos da terra que frequentemente substituem as florestas - por exemplo, a agricultura ou a extração de petróleo e gás - são, eles próprios, fontes importantes de emissões de gases com efeito de estufa.

Contudo, a desflorestação interfere também com o regime de pluviosidade desta floresta. A transpiração das plantas é responsável por criar um fluxo de vapor de água que é lançado para a atmosfera, capaz de reduzir a pressão e arrastar o ar húmido, no que seria uma espécie de “bomba de elevar vapor”.

Alguns cientistas afirmam que a desflorestação de uma floresta pode reduzir a incidência de chuvas até 95%, transformando o local num deserto. A grande humidade evaporada pelas árvores gera “rios voadores” na atmosfera, que carregam vapor e geram correntes aéreas (ventos) que irrigam regiões distantes.

Desflorestação na Amazónia
Os registos de desflorestação na maior floresta tropical do mundo atingiram os níveis mais altos em 2020.

As florestas tropicais prestam um serviço inestimável à humanidade e ao planeta, no entanto, estão a ser destruídas e degradadas a um ritmo bastante elevado.

À medida que a mudança climática progride, as florestas tropicais tornar-se-ão mais vulneráveis. As mudanças no clima da Terra reduzirão a cobertura florestal, alterarão a composição das espécies em vários ecossistemas e perturbarão muitos dos serviços ecossistémicos, incluindo o sequestro de carbono, que as florestas tropicais proporcionam.

Estas mudanças, por sua vez, terão um impacto considerável na população mundial, especialmente nas pessoas cuja subsistência depende diretamente das florestas tropicais.