Impacto dos incêndios florestais nos níveis altos da atmosfera

Os incêndios florestais, além de serem uma ameaça para as pessoas e para os ecossistemas, afetam também a atmosfera, tanto nos níveis baixos como nos níveis mais altos.

Incêndios florestais
Os incêndios florestais influenciam todo o sistema climático.

Com o impacto que os incêndios florestais têm na atmosfera, o clima futuro será também condicionado por esse efeito.

Os incêndios florestais influenciam o sistema climático alterando o albedo da superfície e libertando gases com efeito de estufa, como o dióxido de carbono, bem como aerossóis. Estes últimos têm uma influência direta ou indireta sobre os fluxos radiativos na atmosfera, alterando as propriedades das nuvens e a química atmosférica.

Com o aumento de aerossóis à escala regional, a temperatura do ar à superfície, a pressão atmosférica, os ventos superficiais e a estabilidade da camada-limite planetária podem sofrer alterações.

Os efeitos dos incêndios florestais não se limitam aos níveis mais baixos da atmosfera

Os incêndios desencadeiam na atmosfera movimentos verticais ascendentes, movimentos convectivos, mais ou menos intensos, dependendo da intensidade dos incêndios. Estes movimentos verticais, podem levar à formação de nuvens de forte desenvolvimento vertical, denominadas pirocumulonimbus.

Forma-se assim uma coluna convectiva de fumo que pode transportar produtos da combustão até à estratosfera (camada da atmosfera localizada aproximadamente entre os 15 km e os 50 km de altitude).

Deste modo os aerossóis atingem os níveis mais altos da atmosfera, são distribuídos por todo o hemisfério e permanecem por meses a anos, potencialmente afetando o clima a curto prazo.

Estudo da Universidade de Graz

O estudo recente de investigadores do Wegener Center for Climate and Global Change (WEGC), Universidade de Graz, Áustria, mostra o potencial que os incêndios florestais de grandes proporções têm para causar mudanças de temperatura na estratosfera, ou seja, nos níveis mais altos da atmosfera.

Neste estudo, baseado em dados de satélites, foi investigado o impacto na estrutura térmica da atmosfera de dois grandes eventos de incêndios florestais: os incêndios florestais australianos em 2019/2020 e os incêndios florestais norte-americanos em 2017.

Com foco no impacto na estratosfera, foram revelados os efeitos imediatos dos incêndios na estrutura vertical da temperatura na atmosfera com a pluma de aerossol em diferentes dias durante as primeiras semanas de desenvolvimento dos incêndios florestais.

Fogos florestais no hemisfério Norte e Sul
Regiões afetadas pelas plumas de incêndios florestais norte-americanas e australianas. (a) Índice de aerossol médio (IA) para o evento do incêndio norte-americano de 2017 entre 12 e 22 de agosto e (b) a IA entre 31 de dezembro e 22 de janeiro para o evento australiano de 2019/2020. Retângulos coloridos mostram as áreas analisadas nos respetivos dias. Fonte: https://www.nature.com/articles/s41598-021-02335-7

O estudo demonstrou que nos dois eventos observaram-se fortes sinais de aquecimento dos níveis mais baixos da estratosfera como um efeito imediato das plumas de aerossol. Existe um impacto severo dos grandes incêndios florestais nas temperaturas estratosféricas, semelhante ou até maior que o das erupções vulcânicas.

Isto tem implicações para a química estratosférica, por exemplo, a destruição do ozono estratosférico através do impacto direto dos aerossóis, ou através da aceleração das reações químicas devido a uma estratosfera mais quente.

Assim que os aerossóis chegam à estratosfera, podem permanecer lá por muitos anos, influenciando o clima do ar superior. Assim, tais eventos extremos tornar-se-ão cada vez mais importantes para o clima futuro.

Erupção vulcânica
Existe um impacto severo dos grandes incêndios florestais nas temperaturas estratosféricas, semelhante ou até maior que o das erupções vulcânicas.

Por outro lado, mudanças na variabilidade e aquecimento climático podem aumentar a ocorrência e intensidade dos incêndios florestais.

Enquanto ainda está em debate se a área global queimada por incêndios florestais aumenta, estudos baseados em modelos mostram que incêndios intensos ocorrerão com mais frequência num clima mais quente.