Impacto das alterações climáticas antropogénicas na saúde e mortalidade e respetivo valor económico
Estudo analisou 20 artigos científicos sobre os impactos das alterações climáticas na saúde e destaca efeitos negativos substanciais, incluindo mortes e doenças virais.

Neste estudo, publicado na revista Nature Climate Change, uma equipa internacional de investigadores avaliou as perdas de saúde atribuíveis às alterações climáticas antropogénicas.
Atribuição dos impactos das alterações climáticas à ação do homem
Cientistas já provaram que as recentes alterações climáticas transcendem a variabilidade natural normal do clima.
A ciência da atribuição tem como objetivo determinar quais dos fenómenos extremos que têm ocorrido podem ser explicados por uma atmosfera em aquecimento (efeito antropogénico) e não simplesmente por variações naturais.
Têm-se desenvolvido vários estudos que relacionam o impacto do clima na saúde e na mortalidade, desde o efeito das situações extremas e ondas de calor até à poluição atmosférica relacionada com incêndios florestais, doenças virais transmitidas por mosquitos, deslocamento da população devido a inundações e riscos específicos para a saúde das crianças.

Relacionado com a saúde das crianças, incluem-se mortes neonatais, nascimentos prematuros associados a ondas de calor, baixo peso ao nascer e malária infantil, bem como deficiências cognitivas associadas, que, segundo uma estimativa de um estudo, poderiam levar a uma perda de rendimentos ao longo da vida superior a mil milhões de dólares por ano só na China.
A saúde humana, como doenças, incapacidades, bem-estar precário e também perda de vidas, é uma das categorias mais visíveis dos impactos das alterações climáticas.
Perdas de saúde atribuíveis às alterações climáticas antropogénicas
Neste estudo, os investigadores, a fim de estimaram as perdas de saúde atribuíveis às alterações climáticas antropogénicas, pesquisaram centenas de estudos, dos quais identificaram 20 que demonstraram uma atribuição completa dos resultados de saúde às alterações climáticas antropogénicas.
Todos os 20 estudos de atribuição de impacto na saúde, com uma única exceção, indicaram um impacto negativo considerável das alterações climáticas, com perda de vidas devido a condições meteorológicas extremas ou aumento das temperaturas.
Todos esses estudos incluíram um modelo estatístico que relacionava os resultados de saúde às variáveis climáticas e estimava o impacto das alterações climáticas antropogénicas na saúde.
Os investigadores utilizaram um valor standard do valor estatístico da vida (VSL-Value of Statistical Life) para avaliar o valor económico das mortes atribuídas às alterações climáticas antropogénicas. A equipa utilizou o valor da EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos) para o valor de VSL, ajustado pela inflação.
Um estudo pré-publicado estimou que múltiplas mortes relacionadas com o calor entre 1969 e 2018 na Suíça poderiam ser atribuídas a empresas específicas de combustíveis fósseis, lideradas pela Chevron, ExxonMobil e Saudi Aramco, com 59, 54 e 53 mortes, respetivamente.

Utilizando a abordagem VSL, estas estimativas corresponderam a perdas de 188,8 milhões de dólares, 172,8 milhões de dólares e 169,6 milhões de dólares, atribuíveis respetivamente a cada empresa.
Os estudos de atribuição têm sido, em geral, concordantes com projeções de há uns anos atrás para impactos específicos na saúde, como a mortalidade, relacionada com condições meteorológicas extremas e o calor.
No entanto, a divergência em relação a estas projeções também foi evidente. Por exemplo, as mortes relacionadas com a dengue atribuíveis às alterações climáticas foram uma ordem de grandeza superior ao projetado. Em contraste, as mortes relacionadas com a malária foram significativamente inferiores ao esperado.
Os impactos na saúde infantil são diversos e significativos. Para além das mortes neonatais, os estudos referidos mostram que as alterações climáticas estão já associadas, através da ciência da atribuição, ao aumento dos nascimentos prematuros, ao baixo peso à nascença e às alterações na exposição à malária infantil em toda a África.
Os autores do estudo referiram que as conclusões a que chegaram devem incentivar os decisores políticos a tratar a crise climática como uma emergência de saúde pública.
Referência da notícia
“Health losses attributed to anthropogenic climate change”, Colin J. Carlson et al., Nature Climate Change. Published: 17 September 2025.