Calor extremo ameaça saúde e aprendizagem das crianças, alertam especialistas da Universidade de Harvard
Ondas de calor cada vez mais longas e intensas estão a colocar crianças em risco de problemas de saúde e dificuldades de aprendizagem, tanto nos Estados Unidos como na Europa. Especialistas de Harvard e de outras instituições alertam para a necessidade urgente de adaptação das escolas e creches.

Com ondas de calor cada vez mais frequentes e intensas, especialistas reunidos num webinar promovido pelo Center on the Developing Child da Universidade de Harvard alertaram para os riscos que as temperaturas extremas representam para a saúde e o desenvolvimento infantil. O objetivo passa por minorar o risco de desenvolver problemas de saúde em crianças e minorar os efeitos na capacidade de aprendizagem.
Segundo Burghardt, estes impactes não se limitam à infância: “Têm efeitos imediatos, mas também podem influenciar toda a vida das crianças. Isto torna a intervenção essencial.”
A Agência de Proteção Ambiental (EPA) define dias de calor extremo como aqueles em que a temperatura ultrapassa os 35 ºC, ou quando, mesmo à noite, o termómetro não baixa de forma significativa.
Aumento dos dias sujeitos a ondas de calor preocupam as autoridades
Os dados da EPA indicam que estas ondas de calor se tornaram mais longas, mais frequentes e mais intensas ao longo das últimas décadas, aumentando o risco para populações vulneráveis.
“Idealmente, as crianças devem poder brincar ao ar livre para gastar energia e desenvolver capacidades motoras. Mas sem sombra suficiente e com temperaturas cada vez mais altas, isso deixa de ser possível, alterando o ambiente de aprendizagem e aumentando o stress sobre os educadores”, disse.
Além disso, em muitas escolas, as condições são desiguais: alguns edifícios não têm ar condicionado adequado, outros não estão preparados para isolar contra o calor e muitos não dispõem de espaços interiores suficientes para substituir as atividades ao ar livre nos dias mais quentes.
A sua avaliação depende de cada escola: algumas possuem boas estruturas de sombra que permitem manter atividades em condições de calor moderado, mas outras não conseguem oferecer essa proteção.
Durante episódios de calor extremo, recomenda-se que pais e educadores estejam atentos à intensidade e à duração das brincadeiras. As crianças querem continuar a brincar. Mas, se não interrompermos a tempo, o aumento da frequência cardíaca e da transpiração indica que o corpo está a esforçar-se para perder calor.
Como as crianças têm menos glândulas sudoríparas do que os adultos, não conseguem arrefecer à mesma velocidade, o que aumenta o risco de exaustão ou golpe de calor. Com temperaturas corporais acima dos 40 ºC, como consequência extrema pode levar a falência de órgãos e exigir hospitalização urgente.
Soluções mais holísticas para os problemas de calor extremo em ambiente escolar devem ser contempladas
A EPA confirma que o cenário se tem agravado de forma consistente. Na década de 1960, as grandes cidades dos EUA registavam, em média, duas ondas de calor por ano, com cerca de três dias de duração. Hoje, a média é de seis ondas anuais, com quatro dias cada, e o período de calor extremo prolongou-se em cerca de 46 dias.
Na Europa, a realidade segue a mesma tendência e, em alguns casos, com impactes mais severos. Dados do programa Copernicus indicam que o verão de 2023 foi o mais quente desde que há registos, com ondas de calor a atingir temperaturas superiores a 45 ºC em países como Espanha, Itália e Grécia.
Em 2022, o Reino Unido ultrapassou, pela primeira vez, os 40 ºC, o que levou ao encerramento temporário de algumas escolas por falta de condições para manter salas de aula seguras. O sul da Europa enfrenta ainda riscos adicionais, como a conjugação de calor extremo com incêndios florestais, afetando diretamente a qualidade do ar e aumentando o stress térmico em crianças.

Nos países mediterrânicos, muitas escolas não dispõem de sistemas de climatização adequados, e os edifícios antigos são particularmente vulneráveis ao sobreaquecimento. Na França, por exemplo, algumas autoridades locais têm ajustado os horários escolares e limitado as atividades físicas no exterior durante alertas de calor.
Os responsáveis pelos setores da Educação têm vindo a emitir orientações para suspender atividades ao ar livre e reforçar a hidratação dos alunos durante ondas de calor. Preocupante é também as noites com temperaturas acima dos 25 ºC, dificultando o descanso e a recuperação térmica das crianças.
A perda de vegetação urbana e a impermeabilização dos solos contribuem, tanto na Europa como nos EUA, para a formação de Ilhas de Calor Urbano (ICU), onde as noites permanecem quentes e o corpo humano não consegue recuperar do esforço térmico diário. Especialistas defendem que a prioridade passa por garantir espaços escolares seguros, com sombra, ventilação e arrefecimento adequados.
Isto implica investir em infraestruturas, melhorar o isolamento térmico, criar áreas de recreio protegidas e formar educadores para identificar sinais precoces de sobreaquecimento.
Referência da notícia
EPA - Environmental Protection Agency (2025). Heat Waves. Disponível em: https://www.epa.gov/climate-indicators/climate-change-indicators-heat-waves (consultado em 13 de agosto de 2025).