Ecrã em modo escuro: protege a vista ou é apenas uma tendência? A ciência explica
O modo escuro tornou-se popular por alegar proteger a visão e reduzir o cansaço ocular, mas será mesmo eficaz? A ciência revela o que realmente acontece.

Nos últimos anos, o “modo escuro” tornou-se uma das opções mais populares nos dispositivos digitais, de smartphones e tablets a computadores e aplicações.
A promessa é tentadora: menos fadiga ocular, melhor descanso visual e até uma redução no consumo de energia.
Mas será que o modo escuro realmente protege a nossa visão, ou é apenas mais uma moda tecnológica?
O que é o modo escuro?
O modo escuro (ou dark mode) altera o esquema de cores de um ecrã, substituindo os fundos brancos por tons escuros, normalmente cinzentos ou pretos, e o texto por cores claras, geralmente brancas.
Esta inversão de contraste pretende tornar a leitura mais confortável, especialmente em ambientes com pouca luz.
A popularidade do modo escuro cresceu não só pelo seu aspeto moderno, mas também por alegadas vantagens para a saúde visual e para a bateria dos dispositivos.
Contudo, a ciência mostra que os benefícios podem não ser tão evidentes quanto se pensa.
O impacto na visão: o que dizem os estudos
Muitos utilizadores afirmam sentir menos cansaço ocular quando usam o modo escuro, sobretudo à noite. A luz branca e brilhante dos ecrãs pode ser desconfortável em ambientes escuros, causando ofuscamento e secura ocular.
Neste contexto, o fundo escuro pode, de facto, proporcionar uma sensação mais agradável.

Porém, os estudos científicos são mais cautelosos. Pesquisas publicadas na revista Applied Ergonomics e noutras fontes especializadas indicam que o modo claro, com texto escuro sobre fundo claro, tende a proporcionar uma melhor legibilidade e desempenho visual.
Isto acontece porque o olho humano está mais habituado a ler texto escuro sobre fundo claro, tal como num papel impresso.
O contraste invertido, característico do modo escuro, exige que a pupila se dilate mais para captar luz suficiente, o que pode provocar ligeira desfocagem e maior esforço visual ao ler durante longos períodos.
Assim, embora o modo escuro possa ser mais confortável a curto prazo, pode também reduzir a eficiência da leitura e a precisão visual em tarefas prolongadas.
Modo escuro e fadiga ocular digital
A fadiga ocular digital é um problema comum na era moderna. Passamos horas em frente a ecrãs, o que provoca sintomas como visão turva, olhos secos e dores de cabeça.
No entanto, segundo especialistas em oftalmologia, a principal causa não é o modo de cor do ecrã, mas sim o tempo de exposição, a má iluminação e a ausência de pausas regulares.
Adotar a regra 20-20-20, ou seja, a cada 20 minutos, olhar para algo a 6 metros de distância durante 20 segundos, continua a ser uma das recomendações mais eficazes para reduzir o cansaço ocular.
A influência da luz azul
Outro argumento frequentemente usado a favor do modo escuro é a redução da exposição à luz azul, uma componente da luz emitida pelos ecrãs que pode interferir com o ritmo circadiano, prejudicando o sono.
É verdade que o modo escuro tende a emitir menos luz azul, especialmente à noite.
No entanto, os especialistas lembram que os filtros de luz azul ou os modos “noite” disponíveis em muitos dispositivos são mais eficazes para esse propósito.
O modo escuro, por si só, não elimina completamente a luz azul nem garante um sono de melhor qualidade.
E quanto ao consumo de energia
Quando se trata de poupança de bateria, o modo escuro pode oferecer vantagens reais, mas apenas em ecrãs com tecnologia OLED ou AMOLED.
Nestes ecrãs, os píxeis pretos estão efetivamente desligados, o que reduz o consumo energético. Já em ecrãs LCD, o impacto é mínimo, uma vez que o retroiluminador permanece sempre ativo.
Então, vale a pena usar o modo escuro?
A resposta depende do contexto e da preferência individual. Se utiliza o telemóvel à noite ou em ambientes com pouca luz, o modo escuro pode ser mais confortável e menos agressivo para os olhos. No entanto, para leitura prolongada ou trabalho diurno, o modo claro continua a oferecer melhor contraste e legibilidade.
Em suma, o modo escuro não é uma solução médica nem uma forma garantida de proteger a visão, mas pode contribuir para o conforto visual em determinadas situações.
O mais importante é ajustar o brilho do ecrã, garantir uma boa iluminação ambiente e fazer pausas regulares.
Afinal, o verdadeiro segredo para preservar a saúde ocular continua a ser o equilíbrio, entre luz e sombra, entre ecrãs e descanso.