Porque é que em breve não poderemos comer mais ostras e mexilhões do Mediterrâneo?

Muitos alimentos deixarão de poder ser cultivados devido às alterações climáticas. As ostras e os mexilhões estão entre eles.

Ostras e mexilhões cultivados no Mediterrâneo
Os mexilhões do Mediterrâneo e as ostras do Pacífico são as duas espécies de moluscos mais cultivadas na região do Mediterrâneo.

2050 parece distante, mas ao mesmo tempo tão próximo. Até lá, aproveite os mexilhões do Mediterrâneo enquanto pode, porque talvez já não os consiga comer depois... De facto, um estudo científico simulou as condições climáticas previstas para daqui a 24 anos. Os investigadores observaram o impacto devastador nas explorações de mexilhão. Chegam a falar em "colapso total" no seu relatório.

Este estudo foi conduzido por uma equipa de investigadores afiliados ao CNRS, Ifremer e à Universidade Sorbonne. O foco foi a taxa de sobrevivência e as consequências das alterações climáticas em dois moluscos: a ostra do Pacífico e o mexilhão do Mediterrâneo, as duas espécies mais cultivadas no Mediterrâneo. A experiência que levou a estas conclusões teve a duração de 14 meses, entre 2022 e 2023.

Os especialistas colocaram mexilhões e ostras do Pacífico (amplamente cultivados na região) num recipiente com água não filtrada. Esta água era proveniente da Lagoa de Thau (região de Occitânia), conhecida pelas suas culturas de moluscos. Os investigadores simularam as condições meteorológicas de 2050, 2075 e 2100, aumentando a temperatura da água em 1 a 3 °C. Enriqueceram também a água com CO2 (para simular a acidificação dos oceanos).

Os especialistas tentavam aproximar-se "o mais possível da verdade sobre o futuro", explica Fabrice Pernet, investigador do Instituto Francês de Investigação para a Exploração do Mar (Ifremer) e principal autor do estudo. Além disso, os moluscos foram imersos na salinidade, oxigénio, fitoplâncton, vírus e bactérias da lagoa.

Os resultados? "Preocupantes", "alarmantes", escreve a equipa. A mortalidade dos mexilhões foi "quase total em todas as condições futuras de temperatura e acidificação". No cenário de 2050, com um aumento de 1°C, a mortalidade dos mexilhões foi total durante o verão.

Trata-se de uma experiência cujos resultados são corroborados por observações no Mediterrâneo oriental, onde já foram observados episódios de mortalidade em massa em explorações de mexilhão em Itália e na Grécia.

Quanto às ostras, mostraram-se mais resistentes. Na simulação de 2100, a sua taxa de mortalidade é 1,5 vezes superior (uma redução de 7% na taxa de sobrevivência). Embora a sua taxa de sobrevivência global (77%) permaneça aceitável, o seu crescimento é reduzido. Assim sendo, para manter o seu tamanho atual, os produtores de ostras terão de as expor por períodos mais longos, o que acarretará um aumento dos custos e dos riscos ambientais (algas tóxicas, poluentes, etc.).

"Estamos muito perto do ponto de inflexão", alerta o investigador francês. "Este artigo é um apelo à adaptação às alterações climáticas", uma vez que estes moluscos são essenciais para as economias costeiras e para a segurança alimentar. Para os autores, é urgente encontrar estratégias de adaptação às consequências das alterações climáticas.

Estão a considerar, em particular, a seleção de espécies mais resistentes, a utilização de algas em técnicas silvícolas ou mesmo a transferência das actividades de cultivo de moluscos para o mar alto, uma vez que as temperaturas e a acidez da água são aí menos significativas...

Referências do artigo:

LeMonde avec AFP, (18/12/2025), Le réchauffement climatique menace la production de moules et d’huîtres en Méditerranée dès 2050

Reporterre, (19/12/2025), Fini la culture de moules en Méditerranée dès 2050, selon une étude

Fabrice Pernet, Earth's Future, (13/12/2025), Long-Term Exposure of Bivalves to Ocean Acidification and Warming Under Ecologically-Realistic Conditions Reveals Risks for Aquaculture by 2050 in the Mediterranean