A seca castiga mais o tronco do que a copa: lições de adaptação das florestas espanholas
O que será que a seca castiga mais? O crescimento radial, o verdor ou a reprodução. Saiba mais aqui sobre o clima que define o futuro de 5 florestas ibéricas, do abeto à azinheira.

A investigação avaliou o impacto da seca em três processos cruciais nas florestas: o verde da copa (utilizando o NDVI), o crescimento radial das árvores (através da largura dos anéis) e a produção de sementes ou cones (reprodução). O estudo sublinha a importância de se realizarem avaliações abrangentes para melhorar as previsões da dinâmica florestal pós-seca, sendo as florestas ibéricas, com a sua diversidade de espécies e condições climáticas, um sistema ideal para este fim.
Os autores selecionaram cinco locais em Espanha, abrangendo um gradiente de aridez, onde estudaram três coníferas—o abeto-branco (Abies alba), o pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris) e o pinheiro-manso (Pinus pinea)—e duas folhosas—a faia (Fagus sylvatica) e a azinheira (Quercus ilex). O resultado mais significativo do trabalho é que a seca restringiu o crescimento radial mais do que o verdor da copa e a produção de sementes ou cones.
Quais foram os resultados?
De um modo geral, o crescimento apresentou as correlações mais fortes e diretas com o SPEI, variando entre r=0,74−0,87 para espécies de locais húmidos e frios (abeto-branco, faia, pinheiro-silvestre) e r=0,65−0,66 para as de locais secos e quentes (azinheira, pinheiro-manso). As relações SPEI-crescimento foram, na sua maioria, lineares, contrastando com as relações SPEI-reprodução, que foram melhor descritas por modelos não lineares.

Em espécies de locais mais frescos e húmidos (abeto-branco, faia e pinheiro-silvestre), as condições de seca levaram a uma elevada produção de sementes ou cones, sugerindo que a seca funcionou como um sinal climático indutor de masting (implica que a produção de sementes é sincronizada em toda a população ou comunidade da espécie) , mas não limitante.

Por exemplo, no pinheiro-silvestre, foi encontrada uma correlação máxima negativa significativa com um SPEI de 21 meses no verão (r=−0,69). No caso da faia, a produção de sementes também foi máxima durante anos secos, com a análise climwin a mostrar uma forte relação cúbica com o SPEI de 5 meses entre setembro e outubro.
No pinheiro-manso, a produção de cones foi elevada tanto em anos muito secos como em anos muito húmidos, com valores baixos para valores intermédios de SPEI, um padrão capturado por uma função quadrática. Esta espécie também foi a única a apresentar uma relação negativa significativa, atrasada em três anos, entre a produção de cones e o crescimento radial, sugerindo robustez desta dinâmica em Espanha. O NDVI foi o menos responsivo ao SPEI.
Em suma, a magnitude do impacto da seca nos processos florestais depende da fenologia da espécie e da aridez do local. Enquanto a seca atua como um sinal para a reprodução em locais temperados, em locais mais áridos, a seca severa representa um risco para a capacidade de crescimento e de regeneração das espécies, como observado na azinheira.
Referência da notícia
J. Julio Camarero, Álvaro Rubio-Cuadrado, Ester González de Andrés, Cristina Valeriano, Manuel Pizarro, J. Bosco Imbert, Yueh-Hsin Lo, Juan A. Blanco, Drought limits tree growth more than greenness and reproduction: insights from five case studies in Spain, Forest Ecosystems, Volume 13, 2025, 100329, ISSN 2197-5620, https://doi.org/10.1016/j.fecs.2025.100329.