Dominantes e raras: como o clima molda as árvores nas florestas do mundo
Um estudo global revela que as árvores dominantes e raras apresentam traços diferentes influenciados pelo clima, especialmente pela temperatura, o que pode transformar a estrutura das florestas diante das alterações climáticas em curso.

No meio da vastidão das florestas que cobrem o nosso planeta, uma regra parece repetir-se: poucas espécies de árvores dominam, enquanto a maioria permanece rara. Mas o que explica esta desigualdade?
Um estudo global, liderado por investigadores associados à Global Forest Biodiversity Initiative (GFBI) e publicado na revista Nature Communications, lança luz sobre esta questão ao revelar que fatores climáticos, especialmente a temperatura, influenciam diretamente quais espécies prosperam e quais ficam à margem.
Estas diferenças foram analisadas em relação aos gradientes climáticos de temperatura e disponibilidade de água. Os resultados ajudam a compreender a estrutura ecológica das florestas e como ela pode mudar frente ao aquecimento global.
A força do clima nas florestas
O trabalho identificou três traços principais que distinguem as árvores dominantes das raras em todos os biomas analisados: dominantes tendem a ser mais altas, ter madeira mais macia e características estruturais típicas de gimnospermas, como conduítes (eletrodutos) estreitos e cascas espessas. Essas diferenças aparecem em florestas tropicais, temperadas e boreais, sugerindo um padrão global.

No entanto, não é qualquer fator climático que influencia estas diferenças com a mesma força. O estudo mostrou que a temperatura média anual tem um impacto maior do que a disponibilidade hídrica na determinação destes traços. Enquanto o calor pode afetar diretamente o crescimento e a fisiologia das árvores, a água influencia de forma mais localizada, sobretudo em regiões secas. Isto indica que o aumento da temperatura global poderá provocar mudanças profundas na composição funcional das florestas.
Traços sob medida para sobreviver
As características das árvores não surgem por acaso. Elas refletem estratégias de sobrevivência moldadas por milhões de anos de evolução e por pressões ambientais específicas. Nas florestas tropicais, por exemplo, onde há alta biodiversidade, tanto espécies dominantes quanto raras partilham traços semelhantes, o que pode ser um reflexo da redundância funcional, várias espécies desempenham funções parecidas.
Já nas florestas boreais e temperadas, a diferença entre espécies dominantes e raras é bem mais acentuada. Lá, dominam as gimnospermas, bem adaptadas ao frio intenso. Estas espécies destacam-se por:
- Ter conduítes mais estreitos, que evitam danos causados por congelamento
- Madeira de densidade menor, facilitando o crescimento vertical rápido
- Folhas com baixa área específica, adaptadas para conservar água e resistir ao frio
- Maior longevidade foliar, característica de espécies perenes
Estas estratégias permitem que certas espécies cresçam mais rapidamente ou ocupem melhor o dossel da floresta, ganhando vantagem competitiva sobre as demais.
Mudanças à vista: o futuro das florestas
Os investigadores alertam que, com o aquecimento global, a distribuição de espécies nas florestas deve mudar, pois os traços que favorecem a dominância hoje podem deixar de ser vantajosos em climas mais quentes. Isto pode levar à reorganização das comunidades florestais, com novas espécies a tornarem-se dominantes e outras a perderem espaço.

Além disso, o estudo destaca a importância das espécies raras. Mesmo não sendo abundantes, elas contribuem significativamente para a diversidade funcional dos ecossistemas, ajudando na resiliência frente a distúrbios e mudanças. Preservar estas espécies é essencial não apenas por causa da sua raridade, mas por causa do seu papel ecológico.
Com dados robustos e uma abordagem global, esta investigação oferece um novo olhar sobre as relações entre clima, traços funcionais e estrutura ecológica. Em tempos de alterações climáticas aceleradas, entender como as florestas respondem ao clima é fundamental para a sua conservação e para a manutenção dos serviços ecossistémicos dos quais a Humanidade depende.
Referência da notícia
Effect of climate on traits of dominant and rare tree species in the world’s forests. 22 de maio, 2025. Hordijk, I., Poorter, L., Liang, J. et al.